O Norte Fluminense e o Sul do Espírito Santo, que até os anos 1970/80 do século passado eram estigmatizadas como uma das regiões de menor renda per capita do país, adquiriram neste uma nova centralidade neste novo século diante da expectativa de uma avalanche de novos investimentos na Bacia de Campos e os empreendimentos portuários que vão surgindo a reboque da indústria petrolífera e do gás natural. As estimativas são de 10 mil empregos gerados tanto na fase de instalação como na de operação dos portos.
A vocação para o setor portuário e de logística da região deslanchou com o desembarque dos investimentos para a instalação do Porto do Açu, no quinto distrito de São João da Barra, megaempreendimento com seu espaço já consolidado no mercado, e que hoje emprega cerca de 6 mil trabalhadores.
Depois do Açu, os municípios fluminenses e capixabas se preparam para receber outros ter-minais para o transporte marítimo de cargas e operações de logística.
Na última segunda-feira, em solenidade no Palácio Guanabara, o governador do Rio, Wilson Witzel, celebrou a entrega de Licença Prévia Ambiental do Terminal Portuário de Macaé (Te-por), documento, aprovado pela Comissão Estadual de Controle Ambiental (CECA) e pelo Instituto Estadual do Ambiente (Inea).
Na terça, foi assinado o Protocolo de Implementação do Porto Central, em Presidente Kennedy (ES), na divisa do Espírito Santo com o Rio de Janeiro, com o objetivo de viabilizar o início da construção do terminal.
O Tepor é um pleito antigo dos empresários de Macaé, considerado muito importante para o desenvolvimento da cidade e da região. O Terminal será construído para atender a demanda da indústria de apoio às atividades de óleo e gás, além de transportes de cargas.
— Com a Licença Prévia, o Terminal Portuário de Macaé vence uma importante etapa. Como acontece em projetos deste porte, o Tepor ainda viverá outros desafios até sua consolidação como um importante porto para a região, com foco especial no setor de óleo e gás — disse Fernando Aguiar, presidente da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) no Norte Fluminense.
Para o coordenador da Comissão Municipal da Firjan em Macaé, Evandro Cunha, o porto é mais um passo importante na recuperação econômica da cidade. “Macaé vai se tornar um polo de energia e termos o Tepor em funcionamento vai acelerar esse processo”.
Impactos no norte de Campos e S. Francisco
A solenidade de assinatura do protocolo para as obras do Porto Central aconteceu, em Presidente Kennedy, com a presença do governador Renato Casagrande (PSB-ES) e secretários capixabas, além de lideranças políticas e empresariais. O empreendimento está orçamento em R$ 3,3 bilhões.
O Porto Central e a Van Oord, uma das líderes mundiais em dragagem e obras portuárias, assinaram o protocolo com a previsão de que as obras de construção comecem em 2020. A próxima etapa é a liberação da Licença de Instalação, o que deve acontecer nos próximos meses. A previsão é de que as obras comecem em 2020.
Além de trazer reflexos no crescimento do sul capixaba, o porto vai impactar diretamente o norte de Campos e o município de São Francisco de Itabapoana, que ficam a poucos quilômetros do empreendimento. As obras vão abrir cerca de 4 mil vagas de empregos.
Com o advento da descoberta de imensas quantidades de petróleo e gás na camada pré-sal, existem cerca de 19 novos projetos de terminais no Espírito Santos para receber grandes navios não apenas para transporte de cargas de petróleo, derivados e gás natural, mas de minérios, rochas ornamentais, café e grãos em geral. Outros mais estão sendo idealizados no Rio, especialmente em Maricá e Saquarema, dois municípios confrontantes com os blocos da Bacia de Santos.
Em Macaé, movimento de 2 milhões de barris
Com uma área de 6.000.000 m² e dois terminais, o Tepor será construído no bairro do Barreto. A previsão é de que sejam gerados somente na fase de implantação cerca de 5.360 empregos diretos e 10 mil indiretos. Já na etapa de operação, serão 900 empregos diretos e cerca de 2 mil indiretos.
O terminal A será voltado para líquidos e apoio offshore. Nele será construída uma ponte de 4 km e 16,5 metros de profundidade. Serão dois berços de atração para movimentação de líquidos, ligados por dutos a um terminal de armazenamento de combustíveis, produtos químicos e outros derivados, com capacidade de até 420.000 m³. Também está previsto no projeto, um berço para recebimento de para cargas de GNL, composto por unidade flutuante de regaseificação e área reservada para implantação de tanques de armazenamento de GNL.
O terminal de apoio offshore incluirá ainda nove berços para supply boats e poderá receber navios de longo curso, sondas e plataformas em manutenção ou descomissionamento. Já o Terminal B será voltado para movimentação de petróleo e terá dois berços de atracação. A profundidade natural é de 27 metros, aptos a receber navios VLCC. A capacidade de movi-mentação é de até 2 milhões de barris/ dia.
Farol/Barra do Furado ainda está na gaveta
Em meio às expectativas de materialização destes projetos, pelo menos um ficou no meio do caminho: o terminal portuário de Farol/Barra do Furado não saiu do papel. O sonhado empreendimento seria uma das alavancas do desenvolvimento da Baixada Campista e do município de Quissamã. O porto seria construído através de um consórcio formado pelas prefeituras de Campos e Quissamã, governos federal e estadual, além de grupos privados. Entretanto, enfrentou dificuldades em razão da crise na Petrobras e o quadro de anemia financeira do Estado, que não entrou com a parte que lhe coube no empreendimento.
Com custo orçado em cerca de R$ 200 milhões, o projeto sofreu alterações nos governos passados e o custo foi elevado para R$ 500 milhões. O ambiente de crise econômica e recursos escassos retraíram os investidores que apostaram na viabilidade do empreendimento.