Matheus Berriel
19/11/2019 19:29 - Atualizado em 26/11/2019 14:26
O Museu Histórico de Campos terá nesta quarta-feira (20) vasta programação alusiva ao Dia da Consciência Negra, sempre com entrada franca. De 14h às 18h, o Movimento Negro Unificado (MNU) fará no local o primeiro Fórum Municipal Sobre o Genocídio Negro no Brasil. A partir das 18h, será a vez do Fashion Day do projeto Black & Cia, com diversas atrações artístico-culturais. Além disso, há exposições abertas sobre o período da escravidão e o líder abolicionista Luís Carlos de Lacerda.
O Fórum Municipal Sobre o Genocídio do Povo Negro no Brasil tem como slogan “Parem de nos matar”. Haverá debates sobre o tema principal e subtemas como o genocídio de negros em Guarus, feminicídio, negros e negras LGBT’s, racismo religioso e saber tradicional. Estão confirmados no fórum a pedagoga Jéssica Oliveira, as assistentes sociais Manuelli Ramos e Neilda Ferro, e o jovem pequeno empreendedor Jorge Lucas, todos coordenadores do MNU-Campos; a cientista social Carol Tomaz, coordenadora nacional de LGBTQI do MNU-Brasil; o presidente do Fórum Municipal de Religiões Afo Brasileiras, Gilberto Totinho, coordenador estadual de formação política do MNU-Rio; e os mestres de capoeira Delson e Toyota.
Às 14h, será feita homenagem a 27 mestres capoeiristas de diferentes grupos campistas pelo trabalho público e a luta na garantia da manutenção da capoeira como esporte e expressão da cultura afro-brasileira. Foi assinado um termo de parceria e cooperação técnica estabelecendo o uso de dependências da superintendência de Igualdade Racial (Supir) pela Liga de Capoeira Municipal de Campos (Licampos). “Temos sempre que apoiar iniciativas dessa natureza, sobretudo quando tratamos de uma das expressões mais legítimas da resistência e da cultura afro-brasileira”, disse o superintendente Rogério Siqueira. Presidente da Licampos, o mestre Delson também comemorou a conquista: “Trabalhamos com objetivo no esporte, na educação e pelo fim da discriminação da capoeira e do racismo. Nós queremos nos fortalecer porque existe um projeto de lei, que está para ser aprovado, de implementação das escolas públicas no Estado do Rio”, afirmou.
A realização do Fórum Municipal “Parem de nos matar” é coletiva, envolvendo o Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial, Fórum Municipal de Religiões Afro Brasileiras, Movimento Campista de Pesquisa da Cultura Negra, Instituto de Desenvolvimento Afro Norte Noroeste Fluminense, da Licampos, Escola de Arte e Cultura Popular Mãos Negras e Associação de Pós-graduandos da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf).
A partir das 18h, o Fashion Day do projeto Black & Cia contará com apresentações da cantora Laís Larissy, de Matheus Carther e Negueba, Karioka tiw rapper e do grupo de dança Ragha; desfile conceitual Black & Cia e desfile de moda teen; homenagem a personalidades negras de Campos com o prêmio Nina Simone; exposição fotográfica e de desenhos da artista Hemanuely Vilela; e baile charme com DJ Fran Alves e pretinhos, do próprio Black & Cia.
— O projeto Black & Cia trabalha autoestima das pessoas dentro da diversidade humana e em um espaço plural. Oferece oficinas, realiza eventos e promove ensaios fotográficos, desfiles de moda, sempre levando em conta a saúde mental, emocional e o bem-estar das pessoas. É um projeto que acredita na arte e no diálogo como ferramentas de transformação social – disse Cida Chagas.
Durante o ano, o projeto acontece às segundas-feiras, no Centro Escola dos Esportes (Cede) Lulu Beda, situado no Jardim Carioca, em parceria com a Prefeitura através da Fundação Municipal de Esportes. “Fazemos um recorte étnico-racial negro para fomentar discussões sobre racismo, mercado de trabalho para negros, empoderamento, entre outros temas de interesse”, explicou a psicóloga.
A direção do Museu Histórico também preparou programação própria, com exposições e visitas mediadas em horário especial, de 10h às 22h. Entre as atividades está a exposição permanente “Vestígios do Nosso Triste Passado”, na sala do século XIX, recebendo novos materiais da época da escravidão, que ficarão expostos até o final do mês. Haverá também uma pequena mostra sobre o abolicionista Luís Carlos de Lacerda, proprietário do Jornal Vinte e Cinco de Março, veículo de comunicação que prestava ajuda a escravos e condenava os maus tratos cometidos por senhores proprietários de escravos.
— É importante lembrar que, antes da abolição da escravidão, a maioria da população de Campos era composta por negros, como continua sendo até hoje. Graças à contribuição trazida pelos negros que formamos a nossa cultura regional, demonstrada principalmente nas manifestações da cultura popular — comentou a diretora do Museu Histórico, Graziela Escocard.
Até domingo (24) — Na quinta-feira (21), às 20h, o Teatro Municipal Trianon sediará o concurso Beleza Negra 2019, com desfile de moda, grupo de dança afro, homenagens às agremiações carnavalescas de Campos, show de Carnaval e outras atrações. A entrada será solidária, mediante doação de um quilo de alimento não perecível e um brinquedo. O evento tem apoio da Prefeitura.
No sábado (23), será possível fazer um passeio por lugares alusivos à luta negra em Campos. A Trilha Quilombola “Minha luta, minha essência e minha história” é organizada pela Associação das Comunidades Quilombolas do ABC (Aleluia, Mabatal e Cambucá). Será disponibilizada van saindo da praça do Santíssimo Salvador às 10h, com passagem a R$ 10, até a sede da associação, onde começará o passeio a pé, com pontuações históricas sobre cada local visitado. Café da manhã e almoço são oferecidos pelos valores de R$ 12 e R$ 20, respectivamente. Maiores informações pelo telefone (22) 99790-1602.
Já no domingo, a Associação dos Moradores de Custodópolis organizará a primeira Feijoada da Consciência no Ato de Resistência, com início marcado para as 13h, no salão de festas do campo do Grêmio, no quilombo urbano de Custodópolis. O Concurso Muso e Musa Quilombola integrará a programação do evento, que tem o Instituto de Desenvolvimento Afro Norte Noroeste Fluminense como um dos apoiadores.