Aldir Sales
26/10/2019 16:15 - Atualizado em 30/10/2019 17:26
A prisão, mesmo que por algumas horas, do empresário Arthur Soares, conhecido como “Rei Arthur”, na última sexta-feira, ligou a luz de alerta para muita gente no Brasil, inclusive na planície goitacá. Ele foi detido pelo Departamento de Imigração de Miami, nos Estados Unidos, pela falta de documentação para renovar seu visto no país norte-americano. Os advogados da defesa conseguiram regularizar a situação de Arthur e ele foi solto, mesmo sendo considerado foragido pela Justiça brasileira. O empresário é acusado de participar de um esquema de compra de votos para que o Rio de Janeiro fosse sede da Olimpíada em 2016. De acordo com o jornalista Lauro Jardim, do jornal O Globo, “Rei Arthur” estaria negociando uma delação premiada com a força-tarefa da operação Lava Jato e um dos alvos seria o ex-governador Anthony Garotinho (sem partido). Além disso, o também ex-governador Sérgio Cabral (MDB) e o ex-secretário estadual de Saúde Sérgio Côrtes apontaram, em depoimento ao juiz federal Marcelo Bretas, outros pontos em comum entre Garotinho e Soares.
Segundo Sérgio Cabral, Arthur começou a aparecer durante o governo de Marcelo Alencar. Porém, somente no governo Anthony Garotinho, quando Cabral era presidente da Assembleia Legislativa, que o empresário passou a ter uma posição de destaque na articulação entre políticos e outros empresários prestadores de serviços.
De acordo com Cabral, a ligação era feita pelo então chefe da Casa Civil de Garotinho, Jonas Lopes, que depois se tornaria conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE). “Desde então tive uma relação mais estreita com o Arthur Soares. Nessa época, ele já era muito grande. Era o interlocutor do governo Garotinho e prestava serviços também no senado”, explicou Cabral, que completou:
— No governo Garotinho, ele (Arthur) passa a ser um colaborador e tem um convívio muito mais íntimo com o Jonas Lopes. Ele passou a organizar os prestadores de serviços, organizar as licitações. No meu governo não foi diferente. Ele coordenava os prestadores de serviços.
Também em depoimento a Bretas, em agosto de 2018, o ex-secretário estadual de Saúde na gestão Cabral, Sérgio Côrtes, disse que o “esquema” com Arthur vinha desde o governo Rosinha Garotinho. “O contato dele (Arthur Soares) era com o ex-governador Garotinho. Ele (Arthur) me falou que tinha acordos. (Garotinho) Não era o governador na época, mas as conversas do Arthur eram com o governador (Garotinho)”, relatou.
Em junho de 2019, o jornalista Lauro Jardim, do jornal O Globo, publicou em seu blog que “Rei Arthur” estaria negociando uma delação premiada. Segundo o jornalista, um dos alvos da delação é Garotinho. De acordo com a publicação, com base nas declarações do empresário, Garotinho teria o chamado no Palácio Laranjeiras porque “estava com dificuldade em guardar dinheiro”, uma vez que “a propina seria paga em espécie”.
O jornalista diz, ainda, que o ex-governador teria pedido para que Arthur guardasse cerca de R$ 10 milhões, entregues em três malas. O empresário está foragido da Justiça em Miami, nos Estados Unidos. A publicação diz, também, que a delação teria 55 anexos e aponta Arthur como o maior fornecedor de serviços de vários governos do Rio de Janeiro e teria “destrinchado negócios com três ex-governadores”: Garotinho, Rosinha e Cabral.
Empresário foi detido por estar sem visto
Foragido desde 2017, Arthur Soares está na lista dos procurados internacionais pela Interpol, mas vive tranquilamente em Miami. De acordo com o jornalista Lauro Jardim, Arthur foi detido pelo Departamento de Imigração dos Estados Unidos por ter faltado um documento para a renovação de seu visto.
Procuradores da Lava Jato chegaram a levantar a hipótese de deportação para o Brasil. No entanto, os advogados do empresário entregaram toda a documentação necessária e ele foi liberado ainda na noite da última sexta-feira.
Segundo o governo americano, Arthur Soares entrou nos Estados Unidos em setembro de 2015 como não-imigrante e não foi embora do país no período estipulado pelas autoridades.
Arthur leva uma vida de luxo em Miami, como mostrou uma reportagem do programa Fantástico, da TV Globo, do dia 18 de agosto.
— Isso (contratos com o Estado do Rio de Janeiro) possibilitou a ele arrecadar um patrimônio milionário, talvez bilionário — explicou o procurador da República Stanley Valeriano.
Hotel seis estrelas teve dinheiro campista
Além da possível delação e dos depoimentos de Sérgio Cabral e Sérgio Côrtes, outro ponto em comum entre Arthur Soares e a família Garotinho é o Instituto de Previdência de Campos (Previcampos). Uma auditoria contratada pela Prefeitura apontou que o fundo previdenciário do município investiu R$ 457 milhões em fundos considerados “duvidosos” durante a gestão da ex-prefeita Rosinha Garotinho. Nesta lista está um hotel seis estrelas na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, cujo um dos sócios era o “Rei Arthur”.
O Hotel LSH fica de frente para o mar, tem piso de mármore e até suítes com piscinas e pátios privativos. Alvo de investigação, teve bloqueados quase R$ 5 milhões pelo juiz federal Marcelo Bretas, responsável pela Lava Jato no Rio de Janeiro.
Os vários indícios de irregularidade apontados pela auditoria – entre eles a queda do patrimônio do Previcampos em meio bilhão de reais no período de apenas um ano – fez com que a Câmara Municipal abrisse uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar. O documento também foi encaminhado ao Ministério Público e ao Tribunal de Contas do Estado (TCE).
Além da Câmara, o Previcampos também é alvo de uma apuração do Conselho Municipal Anticorrupção. Na última quinta-feira, o ex-presidente do órgão Nelson Afonso foi ouvido numa reunião extraordinária. Ele negou qualquer irregularidade e negou que houve “rombo” de R$ 500 milhões.
Durante a reunião, Nelson Afonso também foi intimado para prestar esclarecimentos na CPI do Previcampos.
Acusado de comprar votos por Olimpíada
Em depoimento em julho deste ano, Sérgio Cabral admitiu que comprou por US$ 2 milhões os votos que garantiram a escolha do Rio como sede da Olimpíada de 2016.
No processo, Cabral é acusado pelo Ministério Público Federal de envolvimento em um suposto esquema de compra de votos no Comitê Olímpico Internacional (COI).
Os investigadores querem saber se houve fraude na eleição do Rio para receber os Jogos Olímpicos. Arthur Soares é um dos denunciados por corrupção devido à suspeita da compra de votos.
Lamine Diack e o filho dele, Papa, são acusados de intermediar o pagamento deste dinheiro.
Durante os dois mandatos de Cabral, Arthur Soares chegou a ter R$ 3 bilhões em contratos com o governo, o que lhe rendeu o apelido de “Rei Arthur”. Suas empresas prestavam serviços a pelo menos 10 secretarias estaduais.
Segundo os procuradores, em troca das vantagens para as suas empresas, Arthur Soares fez pagamentos indevidos a diferentes pessoas da organização criminosa comandada pelo ex-governador, tanto no Brasil como no exterior.
No Brasil, Arthur Soares realizou pagamento de vantagens indevidas por meio de entrega de dinheiro em espécie, contratos fictícios ou pagamento de despesas pessoais. Também foi apurado que a empresa Facility, que possui contratação com o Estado do Rio de Janeiro, custeou a implantação de sistema de segurança na cobertura do então secretário Estadual de Saúde, Sérgio Côrtes, em valor de aproximadamente R$ 148 mil.