Camila Silva
12/10/2019 16:36 - Atualizado em 14/10/2019 16:26
“A impressão que eu tenho é que meu doador pode estar passando por mim na rua. Vou em uma loja e converso com a vendedora, com as pessoas da fila, falo sobre a campanha. Penso: talvez possa ser ela”. Priscila Pixoline, de 34 anos, é professora e mãe de Pedro, de um ano e dois meses. Em março deste ano, ela foi diagnosticada com Leucemia Linfoide Aguda (LLA) e desde então faz quimioterapia. No entanto, a cura da doença só é possível após um transplante de medula óssea, mas ainda é preciso encontrar um doador compatível. Atualmente, o Brasil tem 850 pacientes na mesma espera que Priscila, segundo o Registro Nacional de Doadores Voluntários de Medula Óssea (Redome). Em Campos, os familiares dela e de outros dois pacientes, Patrícia Campos, de 34 anos, e Matheus Morgade, de 19 anos, realizam uma campanha para o cadastro de possíveis doadores nos dias 18 e 19 de outubro, no Ciep da Lapa. Fora esses dois dias, o procedimento só pode ser realizado na cidade do Rio de Janeiro. Com mais de 16 milhões de habitantes, o estado tem pouco mais de 220 mil doadores cadastrados.
— Hoje eu vejo que todos deveriam ser cadastrados, todos as pessoas sadias de 18 a 55 anos deveriam ser cadastradas, porque quanto maior o número de cadastros que a gente tem, maior a possibilidade para quem está em tratamento. E a expectativa é muita grande. A expectativa que eu vivo é de que meu telefone vai tocar, que eu vou receber um e-mail, informando a notícia de que eu tenho um doador compatível — afirma. “Eu tenho muito esperança que tudo vai dar certo, completa Priscila.
Essa também é o sentimento de Patrícia Campos, que foi diagnosticada com Anemia de Fanconi. “Um doador compatível significa a cura e uma nova vida para quem precisa. Esta campanha que ocorrerá em Campos, significa a oportunidade de mais cadastros para possíveis doadores, o que aumenta a chance de pessoas como eu, que precisam de um transplante de medula, acharem um doador compatível. Normalmente, o possível doador precisa ir ao Rio de Janeiro para se cadastrar. Contamos com a solidariedade da comunidade para o sucesso destes cadastros”, completou.
Para incentivar a adesão à campanha, Matheus Morgade, de 19 anos, publicou uma mensagem nas redes sociais. “Em fevereiro deste ano, fui internado as pressas devido uma infecção gastrointestinal, apresentando sintomas parecidos com uma virose. Mas dois dias depois de ter feito muitos exames, fui diagnosticado com LLA. A minha maior necessidade hoje é encontrar um doador de Medula Óssea compatível, pois a cura está associada ao transplante. Venho aqui pedir que me ajudem a encontrar esse doador, e esse doador pode ser você”, escreveu o jovem no Facebook.
Segundo o Redoma, para que se realize um transplante de medula é necessário que haja uma total compatibilidade entre doador e receptor. Caso contrário, a medula será rejeitada. Esta compatibilidade é determinada por um conjunto de genes localizados no cromossomo 6, que devem ser iguais entre doador e receptor. “A análise de compatibilidade é realizada por meio de testes laboratoriais específicos, a partir de amostras de sangue do doador e receptor, chamados de exames de histocompatibilidade”, informa.
O Instituto Nacional do Câncer (Inca) informou que as principais doenças que podem ser tratadas com o Transplante de Medula Óssea são leucemia, anemia aplástica, anemia de fanconi, síndromes provocadas pela deficiência medular, linfomas, mieloma múltiplo, hemoglobinopatias, tumores de testículos e neuroblastomas.
Encontro emociona doador e paciente
No início de setembro, a Folha da Manhã mostrou o encontro entre o campista Carlos Vitor Pessanha e o potiguar Falconiere de Oliveira. Paciente e doador, respectivamente, de um transplante ocorrido em 2013, não se conheciam até este ano, quando, após manifestação da vontade de ambos, o sigilo do procedimento foi quebrado pelo Redoma, órgão que faz a regulação do transplante.
Foi em uma mobilização para o tratamento de uma prima, que Falconiere se cadastrou. Ela acabou não precisando do transplante, mas o nome dele entrou para o banco nacional de doadores. “Você, quando se cadastra, está doando esperança, está dando a possibilidade do outro viver, não está tirando nada de você, a medula se regenera dentro de você todos os dias”, defendeu há época.
Essa atitude foi essencial para que Carlos Vitor pudesse estar ao lado da esposa e dos três filhos atualmente. Três irmãos do paciente haviam passado por exame, mas nenhum deles foi considerado compatível. Quando entrou para o banco de receptores, ficou apenas uma semana até que o material de Falconiere fosse apontado como possível. Durante anos, os dois procuraram um pelo outro. Apenas em junho deste ano, uma ligação foi o primeiro contato entre os dois.
O doador que mora atualmente no Rio Grande do Sul, onde faz doutorado, contou procurou um lugar reservado da casa para conversar, enquanto tentava conter as lágrimas. O receptor também procurou um lugar mais calmo, mas afirmou que o choro foi imediato. “Sou chorão mesmo, não vou negar”, contou Carlos Victor.