Nunes quer bi mundial do Flamengo, mas considera time de 1981 inigualável
Matheus Berriel e Aldir Sales 19/10/2019 21:37 - Atualizado em 26/10/2019 11:03
 
Genilson Pessanha
“Foi em 80, com o gol do Nunes, que o Brasileiro o Mengão ganhou...”. Assim começa uma das músicas de maior sucesso cantadas pela torcida do Flamengo nos últimos anos. O lance mencionado pelos rubro-negros, com direito a um drible inesquecível no zagueiro Silvestre, do Atlético Mineiro, é justamente o que o Artilheiro das Decisões considera o mais importante de sua carreira, acima até do dois gols feitos na final do Mundial de 1981, sobre o Liverpool, e do que valeu mais um título nacional, em 1982, sobre o Grêmio. Em Campos nesse sábado (19) para lançar sua biografia, escrita por Marcos Eduardo Neves, João Batista Nunes de Oliveira, 65 anos, falou sobre momentos importantes de sua trajetória no futebol, da necessidade de renovação na Seleção Brasileira e, claro, do atual elenco do Flamengo, torcendo para que este repita a façanha de 38 anos atrás. Com uma ressalva: aquele time será sempre o primeiro.
Livro e início no Flamengo
— (A biografia) foi lançada dia 13 de dezembro. É a minha história de vida, meu histórico no futebol. De um garoto que veio da Bahia com 12 anos de idade. Deixei a minha família para trás: meu pai, minha mãe e meus irmãos; e vim de Feira da Santana para o Flamengo tentar conseguir o meu objetivo, que era de ser jogador de futebol e jogar no meu time de coração. Quando cheguei ao Rio, fiquei quase três meses esperando uma oportunidade para treinar pela primeira vez na Gávea. Assim que pintou a primeira oportunidade, fui fazer o teste. No primeiro já fui aprovado. Na época, (os técnicos) eram o Válter Miraglia, o (Modesto) Bria... E encontrei essa rapaziada já com idade avançada: Rondinelli, Zico, o finado Geraldo, Cantareli, Jayme (de Almeida), já nos juniores, e eu ainda começando como dente de leite. A aprovação, para mim, foi um sonho realizado. Fiquei mais feliz ainda quando me sagrei campeão mundial pelo meu clube. A minha história no futebol é muito bonita, consegui todos os objetivos, todas as conquistas. E agora estou lançando a biografia. Tudo aí é verdade, não existe nenhuma mentira.
Profissionalização
— Não houve nenhuma dificuldade, porque fiz parte da formação na base. Só dei uma saída, depois retornei já profissional. Fiz toda a base no Flamengo. Servi ao Exército no Rio, no Forte de Copacabana, e fiquei mais uns seis meses. Depois, recebi minha liberação. O Flamengo não me aproveitou, fui para o Nordeste. E lá foi onde eu estourei como profissional. Mas, a base foi feita na Gávea, com a maioria dos jogadores que se tornaram ídolos do Flamengo daquele time vencedor. Não foi uma surpresa, eu tive uma preparação. Só aproveitei essa preparação e desenvolvi no Nordeste, onde eu estourei.
Crescimento da Geração de Ouro
— Crescemos todo mundo junto. O mais importante é você ter a consciência e a certeza de que ninguém é melhor do que ninguém. Foi um grupo que teve essa consciência e todo mundo trabalhou. Todos tinham a sua importância. A gente tinha e tem consciência que o Zico é o nosso maior ídolo, mas tinha outros Zicos que fizeram história tanto quanto o Zico fez. Penso desse jeito: um só não faz nada, você só consegue se for em conjunto.
Gol mais importante da carreira
— Foi o no Atlético Mineiro (na final do Campeonato Brasileiro de 1980), onde tudo começou. O primeiro título do Flamengo em Campeonatos Brasileiros. Isso aí foi muito legal para mim.
Momentos em Campos
— Houve vários jogos importantes contra o Americano aqui, contra o Goytacaz... Me lembro de um jogo que fizemos, contra o Goytacaz, que a gente estava perdendo de 2 a 0, e eu fiz dois gols em menos de cinco minutos. É uma história que fica para mim. (Lembrar o ano) já é querer muito. Sempre foi difícil (jogar em Campos), porque você tem que respeitar o adversário e fazer com que também nos respeitem. A gente procurava o respeito, tudo o que a gente fazia no campo era consciente.
Grupo incomparável
— Não tem nem como fazer comparação, há uma diferença muito grande. Claro que (no time atual) são grandes jogadores que estão vivendo a época deles. Para fazer um time igual ao nosso, vai demorar muito, acho que uns 200, 300 anos. Nós conquistamos o maior título da história que um clube pode conquistar, que é ser campeão mundial. É igual à Seleção Brasileira: só é a melhor do mundo se ela ganhar. Então, o nosso grupo, para mim, é o melhor. E vai ser sempre o primeiro.
Jorge Jesus
— Não conheço muito o trabalho dele. Está desenvolvendo um trabalho legal no Flamengo. O time está ganhando, está tudo certo. Então, está sendo maravilhoso.
Flamengo x Grêmio pela Libertadores
— A gente tem que ter os pés no chão. Espero que tenham essa consciência, respeito ao adversário, e que procurem jogar futebol, porque se decide dentro de campo. Tem tudo para passar. Agora, tem que ter muita cautela, atenção e, principalmente, jogar futebol.
Possível reencontro com o Liverpool
— A gente torce para isso. Agora, o mais importante é que nós (do time de 1981) somos os primeiros. Os primeiros estão torcendo para esse grupo de agora conquistar o mundo novamente. Claro que tem todo o nosso apoio. Se conquistar, vai ser maravilhoso. Vão entrar para a história do Flamengo. A gente torce para tudo dar certo. Eles têm essa oportunidade. Que tenham consciência para poderem conquistar. Tem que ser um trabalho conjunto. Vivem um momento bacana, tudo está dando certo, têm que saber aproveitar.
Atacantes do futebol brasileiro
— Eu gosto de uns dois ou três que atuam no Brasil: Fred (do Cruzeiro), Ricardo Oliveira, do Atlético Mineiro, que está numa fase muito boa, e o Gabigol, que está salvando o Flamengo na hora que precisa. Está num momento bom, precisa saber aproveitar e jogar o futebol dele, procurar se encaixar com a torcida do Flamengo para tudo dar certo. Esses três, para mim, estão se destacando no futebol brasileiro.
Seleção Brasileira
— O futebol brasileiro tem muitos jogadores que você pode convocar para fazer uma nova Seleção. Estou fazendo uma crítica construtiva. Esses jogadores lá de fora não ganharam nada, e só eles são convocados. Tem que convocar outros para fazerem uma nova Seleção. É um momento que você precisa testar novos jogadores, os daqui também. Fazer uma Seleção Brasileira de dentro do país. Tem jogadores que podem defender a Seleção Brasileira tranquilamente.
Brasileiro mais abrangente
— O Estadual tem que existir, não tenha dúvida. Como acho também que todos os estados têm que participar do Brasileiro. Acho que tem que ser um campeonato corrido, dando uma oportunidade de os estados receberem essa grande competição. Fazer com que o Flamengo venha a Campos, vá a Aracaju, vá ao Acre, vá a Cuiabá... Sou a favor de o campeão estadual participar da Série A, o vice participar da B, o terceiro da C, e assim por diante. E você dá oportunidade para todo mundo. “Ah, mas já existe a Copa do Brasil...”. Ok! E por que todos os que participam da Copa do Brasil não podem participar do Nacional?

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