(ANGRY BIRDS 2 — O Filme) — No primeiro episódio de “Angry Birds” (2016), aparece uma ave grande, gorda e mal-humorada de nome Terêncio. Além de um sorriso surdo, de bico fechado, Terêncio tem aparência de mau, mas é gente (ave) boa. Thurop van Orman e Eyal Podell, respectivamente diretor e roteirista de “Angry Birds 2” (2019), deixam Terêncio de fora, o que, no meu entendimento, tirou um pouco a graça da animação. Pelo menos para pessoas mal-humoradas como este comentador que escreve.

Inimigos podem se unir para enfrentar um adversário comum. É o que acontece entre aves e porcos em “Angry Birds 2”, que se hostilizam nas suas respectivas ilhas. Entre as aves, a diversidade é grande. De pequenos pássaros a grandes águias. Entre os porcos, reina a padronização: todos são azulados e usam barbas.

A questão é que aparece uma águia fêmea como inimiga comum a aves e porcos. Ela deseja conquistar as ilhas de ambos para abandonar sua gelada ilha com seus habitantes. Como em vários filmes de Hollywood, cumpre formar uma equipe de aves e porcos para enfrentar o inimigo comum. Nessa formação, os clichês são propositalmente estampados em letras garrafais.

As cenas engraçadas não decorrem das regularidades do filme, mas daquilo que não precisa fazer parte dele: puns e arrotos, movimentos automatizados, danças com muitas músicas conhecidas e patetice, excessivas patetices. E as crianças morrem de rir. Alguns pais também. Para alcançar as criancinhas, a linguagem é fácil e bastante gaiata.

Perto de animações ambiciosas, “Angry Birds” só se salva se divisarmos no filme ironias e sátiras. Mas isso não é para crianças pequenas. Se o crítico fosse uma delas, a cotação seria melhor. Subliminarmente, os autores valorizam a mulher, inserem o caso de uma mãe solteira e enaltecem o espírito de solidariedade contra o individualismo, além de reduzirem a importância do herói, por muitas décadas disseminada pelo cinema dos Estados Unidos.