Prisão dos Garotinho dividiu opiniões
07/09/2019 21:03 - Atualizado em 20/09/2019 14:29
Prisão dos Garotinho
A nova prisão de Anthony (sem partido) e Rosinha Garotinho (Patri) na última terça (03) pelo caso Morar Feliz, para serem soltos no dia seguinte (04), dividiu opiniões. As das paixões políticas a as jurídicas. Se as primeiras não devem ser consideradas à luz da razão, esta ilumina a complexidade da questão. Enquanto a promotora Ludmilla Bissonho, do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) vai insistir no pedido de prisão do casal, o deputado federal de Macaé Felício Laterça (PSL) falou, ainda na terça, como delegado da Polícia Federal ao blog Opiniões: “Não me parece haver fato novo que justifique as prisões”.
Fio da meada
De fato, a questão não é recente. Nesta mesma coluna, em 29 de maio de 2009, foi anunciado que a primeira licitação do Morar Feliz, no primeiro dos oito anos de governo municipal Rosinha, tinha sido montada para favorecer a Odebrecht. O valor daquela licitação, adiada em quatro meses por conta da revelação do Ponto Final, era de quase R$ 358 milhões. E até os Garotinho saírem do poder em Campos, seu programa habitacional custou quase R$ 1 bilhão aos cofres públicos do município. Pela Odebrecht, quem tratava com Garotinho eram seus ex-executivos Leandro Andrade de Azevedo e Benedicto Barbosa da Silva Junior.
A Lava Jato no caminho
Durante sete anos, mesmo confirmada, a revelação da Folha não gerou nenhuma investigação. Até que, em 22 de fevereiro de 2016, a 23ª fase da Lava Jato encontrou na residência de Benedicto planilhas com as doações da Odebrecht a cerca de 300 políticos de 22 partidos. Entre eles, Anthony, Rosinha e Clarissa Garotinho (hoje, Pros). Em dezembro de 2016, Benedicto e Leandro delataram à Lava Jato superfaturamento de R$ 63 milhões no Morar Feliz, com repasse de R$ 25 milhões a campanhas políticas dos Garotinho. E, em 26 de junho de 2017, confirmaram a história à 1º Promotoria de Tutela Coletiva do MP Estadual de Campos.
Charge de domingo 08-09-2019
Charge de domingo 08-09-2019 / José Renato
Ameaça e suspeição
O fato novo foi a denúncia de ameaça a testemunhas do caso. Valeu para o juiz da 2º Vara Criminal de Campos, Glicério Angiólis, decretar a prisão, na terça, dos ex-governadores do Rio e ex-prefeitos de Campos. Mas não valeu, na madrugada de quarta, para o controverso desembargador Siro Darlan — espécie de Gilmar Mendes do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJ-RJ) —, que deferiu o habeas corpus liminarmente no plantão. O pedido teria que ser julgado na 1º Câmara Criminal do TJ-RJ, mas todos seus cinco integrantes têm se declarado suspeitos para julgarem Garotinho. Até sexta (06), só faltava um deles fazê-lo.
Garotinho x Lula
A 1ª Câmara Criminal é considerada uma das mais duras das oito do TJ-RJ. Mas é presidida pelo desembargador Luiz Zveiter, que tem vários processos por difamação e calúnia contra Garotinho. Daí as declarações como suspeito para julgá-lo. Comparado ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), preso desde abril do ano passado, enquanto Garotinho consegue sempre se safar, a tática de eleger seu julgador como oponente político, que não funcionou contra o ex-juiz federal Sérgio Moro, parece até agora estar dando certo para o político da Lapa. Nesta semana, um novo sorteio deverá ocorrer para o julgamento do habeas corpus.
Ataque à Justiça
Quem não possui o estilo beligerante de Garotinho é seu filho e deputado federal Wladimir Garotinho (PSD). Procurado pela reportagem da Folha na terça, ele não quis se pronunciar sobre a prisão dos pais, diferente da irmã e também deputada federal Clarissa. Mas na quarta, após os pais saírem da cadeia, Wladimir fez um discurso duríssimo no plenário do Congresso Nacional, em que atacou frontalmente o Judiciário e o MP de Campos: “não é de hoje que um grupo da Justiça local da cidade de Campos vem perseguindo a minha família (...) por um grupo que, por interesses políticos e financeiros, tenta a todo custo destruir a minha família”.
Amor x razão
À parte a maneira de fazer política envelhecida, Garotinho tem inegáveis virtudes: talento, obsessão pelos objetivos e capacidade de trabalho. Isso, junto à fase áurea das receitas do petróleo, hoje em franca decadência, fizeram do ex-governador o político mais importante de Campos, desde o ex-presidente Nilo Peçanha. Goste-se ou não, é fato histórico. Quem admira o seu pai, dimensiona o que isso significa a um filho. Mas após a Associação dos Magistrados do Estado do Rio (Amaerj) emitir nota oficial de repúdio aos ataques sofridos pelo juiz Glicério, Wladimir deve se cuidar para não repetir os erros do pai. Até para não pagar o mesmo preço.

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