Queimadas triplicam em Campos
Camila Silva 14/09/2019 16:21 - Atualizado em 20/09/2019 13:53
Um foco de incêndio ocorreu a cada três dias e meio em Campos neste ano. O número de queimadas de 1º de janeiro a 13 de setembro de 2019 é três vezes maior do que o registrado no mesmo período de 2018, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), e faz o município liderar o ranking estadual elaborado pelo órgão. São Fidélis, que com 19 focos ocupa a quarta posição do mesmo levantamento, empatado com São Francisco de Itabapoana e Itaperuna, teve situação de alerta, na última quinta-feira (12), por causa do fogo que atingiu uma área de preservação ambiental do município, que fica próxima ao Parque Estadual do Desengano. As consequências vão do plano local ao global, afirmam pesquisadores, professores e ambientalistas, que mencionam, também, que o país tem uma “cultura do fogo” e uma educação ambiental é essencial para mudar a situação. Os dados da região Norte e Noroeste Fluminense também sofrem influência da produção sucroalcooleira, que realiza a prática da queima da cana-de-açúcar como facilitador da colheita, mas a medida deve ser extinta até 2020, de acordo com legislação estadual. O número de focos em todo o Brasil, neste ano, já é o maior desde 2013. De janeiro a setembro deste ano, 112.847 foram identificados.
— É muito comum alguém varrer o quintal, juntar as folhas e queimar. Algumas vezes a situação foge do controle e acontecem essas queimadas que estamos vendo atualmente. É preciso conscientizar as pessoas que esse hábito cultural é nocivo — afirma o professor e pesquisador do Instituto Federal Fluminense, Milton Erthal Junior. Essa causa também foi apontada por Aristides Soffiati, ambientalista e historiador ambiental. “Na maior parte das vezes, o incêndio é proposital. Começa com a queimada de uma vegetação plantada para a vegetação nativa. Em um ano seco como 2019, o fogo vai encontrar ambiente favorável para se propagar, como um tempo seco e as condições do ar”, completa.
O Inpe explica que, “no contexto local, as queimadas destroem a fauna e flora, empobrecem o solo, reduzem a penetração de água no subsolo, e em muitos casos, causam mortes, acidentes e perda de propriedades. No âmbito regional, causam poluição atmosférica com prejuízos à saúde de milhões de pessoas e à aviação e transportes; elas também alteram, ou mesmo destroem ecossistemas. E do ponto de vista global, as queimadas são associadas com modificações da composição química da atmosfera, e mesmo do clima do planeta”.
Em regra, provocar fogo em vegetação é considerado crime e punido com pena de um a quatro anos de reclusão. O Código Florestal proíbe o uso de fogo na vegetação, exceto em alguns casos e com apresentação de uma justificativa de seu emprego ou em atividades de pesquisa científica.
Colheita da cana e tempo refletem em dados
No estado, uma lei afirma que as agroindústrias, produtoras de açúcar e etanol, e demais plantadores de cana-de-açúcar que utilizam a queimada como método despalhador e facilitador do corte da cana, estão obrigados a adotar as providências necessárias à eliminação gradativa da prática. Nas lavouras já implantadas em áreas passíveis de mecanização da colheita, como é o caso de Campos, a extinção da queimada de cana terá que ser feita até 2020. Em áreas não passíveis de mecanização, o prazo vai até 2024.
A moagem da cana-de-açúcar na região Norte Fluminense foi iniciada na segunda quinzena de abril. De acordo com os dados do Inpe, a partir de maio, aumentam o número de focos no município, que vai ficando mais intenso até o mês de agosto, que registra 34 casos. O período também é marcado pela redução das chuvas. Em junho e julho, choveu 39 mm, apenas 10% do total do ano, que vem registrando baixo volume de precipitação. De janeiro até o momento, foram 474 mm, um pouco mais da metade do registrado no ano de 2018, que teve 840 mm no mesmo período.
O governo federal publicou, no final de agosto, um decreto proibindo queimadas em todo o território nacional. Após movimentação de entidades do setor agropecuário, um novo decreto permitiu a ação em práticas agrícolas, desde que ocorram fora da Amazônia Legal e quando imprescindíveis à realização da operação de colheita. A decisão beneficiou o setor sucroalcooleiro da região Norte Fluminense, que vivia momento de fim da safra de cana-de-açúcar.
O uso da queima da cana é essencial para a produção sucroalcooleira atualmente, afirmou o presidente da Associação Fluminense dos Plantadores de Cana, Tito Inojosa, em entrevista recente. Ele afirmou que duas máquinas foram adquiridas recentemente por uma cooperativa que atua no ramo, para tentativa de adequação gradual à lei estadual, mas as máquinas não se adaptaram ao solo da região, nem à característica regional de se tratar, em maior partes, de pequenas propriedades rurais.
Bombeiros controlam fogo em São Fidélis
O Corpo de Bombeiros encerrou, na noite da última sexta-feira (13), o combate ao fogo em vegetação na zona rural de São Fidélis. As chamas atingiram uma área de mata na localidade de São Benedito. Os últimos pontos foram extintos com equipes de militares enviados por terra, apoiados por uma aeronave.
A operação foi iniciada na manhã de terça (10), logo após as equipes do Destacamento de São Fidélis informarem que haveria necessidade de apoio. Um posto de comando, na fazenda que leva o mesmo nome da localidade, foi estabelecido pela corporação.
Segundo o Corpo de Bombeiros, o combate ao incêndio na região foi dificultado pelo clima seco e a umidade do ar muito abaixo do normal, além do tipo de vegetação, que estava muito seca, e do vento, que a todo momento mudava de direção.
— O reforço de uma aeronave foi fundamental, pois conseguia lançar água em pontos de difícil acesso, principalmente devido à formação rochosa do local onde os focos surgiam — atestou o comandante do CBA 4, coronel Leonardo Couri, que coordenou a operação. Foram quatro dias de ações. A força-tarefa foi formada por bombeiros dos quartéis de Campos e das unidades subordinadas, do 1º e 2º Grupamento de Socorro Florestal e Meio Ambiente (GSFMA), do Grupamento de Operações Aéreas e do Comando de Bombeiros de Área Norte e Noroeste (CBA 4), que coordenou toda a operação, além de duas unidades da Região dos Lagos.
O Inea informou que toda queimada fora de controle é um incêndio florestal e quem provoca pode ser punido com multa ou detenção. “Em caso de incêndio denuncie, entre em contato com a sede de conservação mais próxima”, acrescentou. O telefone do disque denúncia é (21) 2253-1177.
O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente disponibiliza uma linha de telefone chamada “Linha Verde” (0800 61 8080) para denúncias de focos de incêndio.
O município de Campos informou, em nota, que em casos de denúncias recebidas pela secretaria de Desenvolvimento Ambiental sobre queimadas, de forma geral, o órgão municipal aciona imediatamente o Instituto Estadual do Ambiente - INEA para providências - órgão fiscalizador no assunto.  "Sobre queima de resíduos sólidos urbanos, a secretaria lembra que a mesma não é permitida pela legislação, além de desnecessária, tendo em vista as possibilidades de destinação adequada destes resíduos, disponibilizadas pelo município", completou.

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