Crítica de cinema - Mais do mesmo
*Edgar Vianna de Andrade 23/09/2019 15:28 - Atualizado em 30/09/2019 14:01
Divulgação
(Abominável)
— Fora de uma grande empresa, fica difícil pensar numa animação. Ela exige muitos recursos financeiros e uma boa distribuição. Parece que o tempo de um Hayao Miyazaki, com seus fantásticos desenhos artesanais, passou. A Disney açambarcou o mercado da animação. A DreaWorks se mantém como pode. Ela é a empresa que sustenta “Abominável” (Abominable, 2019), dirigido por Jill Culton e Todd Wilderman, com roteiro de Jill Culton e trilha sonora de Mark Mothersbaugh. Mais uma vez, o abominável homem das neves ou yeti ou pé grande volta à animação. Não creio que seja a última.
Em “Abominável”, as figuras são típicas de animações computadorizadas. Animar se tornou mais fácil com computadores, mas inovar parece difícil com eles. As adolescentes sempre têm formas femininas acentuadas, notadamente quadris, que assumem proporções um pouco exageradas. O yeti se parece muito com o dragão “Soluço”, de “Como treinar o seu dragão” (How to Train Your Dragon, 2019). A cidade é representada de forma geométrica, mais pelo contorno dos prédios que pelo seu volume. Novamente, percebo o espírito de Fritz Lang, com seu antológico “Metrópolis” (Metropolis), de 1927.
O roteiro é formado por retalhos, o que nos leva a afirmar a ausência de novidades tanto nas figuras quanto na história. Um filhote yeti, capturado no Himalaia por um milionário rabugento, foge do presídio e se esconde na lage de um edifício onde mora a menina que o salvará. Ela é pobre, faz pequenos serviços para juntar dinheiro e realizar seu sonho de fazer viagens pelo mundo. Seu pai, que lhe ensinou violino, morreu, e ela mora com a avó e a mãe. O encontro dela com o yeti evoca a antiga fábula de “A bela e a fera”. Aos poucos, ambos se tornam amigos. “Como treinar o seu dragão” aparece mais uma vez no processo de domesticação respeitosa. Por fim, a longa viagem de retorno para devolver o pequeno yeti a seu lar. Na perseguição movida pelo milionário, muitas peripécias serão vividas pelo yeti e três jovens. O aparentemente mau se tona bom. O aparentemente bom se torna mau.
É claro que, nos dias atuais, uma mensagem em defesa do meio ambiente é veiculada para as crianças. Elas cuidarão melhor da Terra do que nós. O yeti tem seus direitos. Finalmente, ele volta ao lar e é devolvido a seus pais. Os jovens retornam sãos e salvos.
O que a animação apresenta de interessante são as belas paisagens da China e a música. Diretores e roteirista contrastam a música ocidental, por meio de um violino magistralmente executado por uma menina, com os mantras tibetanos em tom grave executados pelos yetis. A música, para o budismo lamaísta, é parte dos rituais sagrados, assim como em todas as religiões que ainda não conhecem a separação entre o sagrado e o profano.

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