Matheus Berriel
17/09/2019 17:04 - Atualizado em 18/09/2019 12:01
O Cineclube Goitacá recebe nesta quarta-feira (18) uma “Noite dos oitentões”. Foi assim que o professor e pesquisador Marcelo Sampaio batizou a homenagem que fará a Carlos Lyra, Francis Hime e o campista Delcio Carvalho, o único já falecido dos três. Se vivo fosse, teria completado em março 80 anos, mesma idade dos outros homenageados. Marcelo apresentará duas entrevistas do músico Nelson Faria com Carlos e Francis, além do documentário “Escravo do bom samba — Délcio Carvalho”, integrante da série Puxando Conversa, projeto de memória do samba carioca coordenado por Valter Filé. A sessão tripla, com aproximadamente uma hora e meia de duração, está marcada para as 19h, na sala 507 do edifício Medical Center, situado à esquina das ruas Conselheiro Otaviano e 13 de Maio, no Centro de Campos.
Nascido em 9 de março de 1939, o compositor e cantor Delcio Carvalho morreu em 2013, aos 74 anos. Autor de músicas como “Sonho Meu”, “Acreditar” e “Candeeiro de Vovó”, todas em parceria com Dona Ivone Lara, é considerado por Marcelo Sampaio o grande letrista desta, muitas vezes colocado em segundo plano.
— Já não se valoriza muito o artista no país. Artista de música popular, samba, menos ainda. E Delcio Carvalho ainda corre o risco de ter sido muito preterido em relação ao sucesso das suas parcerias com a Dona Ivone Lara, porque ela era intérprete das músicas que compunham juntos e acabava aparecendo muito mais do que ele — disse o apresentador.
No documentário “Escravo do bom samba” estão algumas curiosidades sobre Delcio Carvalho, como por exemplo um samba composto em parceria com o poeta Osório Peixoto, que dá nome ao Centro de Eventos Populares (Cepop) de Campos. A espontaneidade do filme pode ser notada logo na primeira cena, onde o homenageado confunde a canção “Vendaval da Vida”, assinada junto a Noca da Portela, com “Minha Verdade”, fazendo em seguida a correção.
As entrevistas com os cantores, compositores e instrumentistas Carlos Lyra e Francis Hime, que se tornaram octogenários em maio e agosto, respectivamente, compõem o projeto “Um café lá em casa”, comandado por Nelson Faria em seu canal homônimo no Youtube. Sobre ambos, Marcelo Sampaio apresenta uma curiosidade: a forma como entraram no meio musical.
— O Francis não ia ser músico. Na verdade, ele queria ser engenheiro, até se formou em engenharia. Tem uma história maravilhosa: no dia da formatura, que aconteceu no Maracanãzinho, ele não compareceu, porque foi a São Paulo se apresentar na inauguração da TV Bandeirantes. E ele diz que essa ausência na sua própria formatura decidiu seu futuro: não ia ser mais engenheiro, seria músico. Confirmando até o que o amigo da mãe dele, Vinícius de Moraes, dizia: “seu filho tem um talento enorme para a música, não deixa ele estragar a vida sendo engenheiro” — contou o professor e pesquisador. — Já o Carlos Lyra queria cursar arquitetura e acabou não cursando por ter sido desencorajado pelo Ronaldo Bôscoli, que depois veio a ser um dos seus parceiros — acrescentou.
Enquanto a maior parte dos cineclubistas apresenta clássicos das telonas, Marcelo Sampaio tem sabido utilizado o espaço para valorizar personagens da música brasileira, abrindo mão da técnica ao priorizar a história. A noite desta quarta será apenas mais um exemplo da iniciativa.
— Eu tenho dois objetivos. O primeiro é registrar. Sou mais preocupado em fazer registros históricos que eu acho pertinentes, necessários e até carentes. Tudo que eu puder compilar de informações históricas, para a gente ter cada vez mais um banco de dados maior, eu farei. E confesso que quero ousar também no próprio Cineclube Goitacá. Enquanto o pessoal leva filmes que são irrepreensíveis do ponto de vista cinematográfico, verdadeiros sucessos, e é um pessoal que entende bem mais de cinema do que eu, estou nesse caminho. Se o Cineclube é uma ousadia do cinema, porque sai um pouco do circuito comercial e do lugar comum, eu acho que a gente pode também ousar em cima da própria ousadia — enfatizou.