Os cachorros da rainha
*Edgar Vianna de Andrade 16/09/2019 15:05 - Atualizado em 20/09/2019 13:30
Divulgação
(Corgi: Top Dog)
— Além de terras, muitas terras, a coroa britânica (nos dois sentidos, por favor) tem prédios residenciais, industriais e comerciais. Igualmente, é dona dos cisnes que nadam no Tâmisa e de um canil real. É de cães que trata a animação “Corgi: Top Dog” (The Queen’s Corgi, 2019), com direção de Ben Stassen e Vincent Kesteloot. Trata-se de uma animação datada, que deve ser esquecida. Não tem nada parecido à “Fantasia” para perdurar.
Do marido, príncipe Philip, a rainha Elizabeth II ganha de presente um filhote de cão da raça Corgi e se toma de amores por ele. Ele é batizado com o nome de Rex, cujo significado é rei. Logo, Rex se considera o top dog da rainha, merecendo mais atenções que o submisso e obediente esposo. Numa visita à rainha, o plebeu Donald Trump mostra toda a sua deselegância com seus selfies e seu desastrado comportamento às refeições. Melania não fica atrás com seu comportamento vulgar. Ela quer cruzar sua cadela, também escandalosa, com o nobre Rex. Trata-se de uma passagem interessante da animação computadorizada, pois mostra explicitamente o contraste entre a nobreza (ainda que decadente) com o republicanismo caricato de Trump.
Rex não aceita casamentos políticos. Ele reflete outra mudança na nobreza britânica: casamento só por amor. Mas a vida dá voltas. Rex é invejado pelos outros cães reais. Um deles lança-o numa armadilha que o leva a se transformar num cão de rua. Ele acaba num canil ao lado de cães de variadas raças. Até mesmo de vira-latas. A animação retrata o outro lado da aristocracia britânica: a vida dura e violenta dos presídios. Mas é nela que Rex desenvolve suas qualidades. Descobre que é corajoso e que a coragem não é sinônimo de violência. Descobre que é capaz de amar. Como vem acontecendo há algum tempo, a família real britânica tem sido forçada a aceitar plebeias como esposas de seus membros. Entre Rex e Wanda, uma cachorra de rua, nasce uma genuína paixão. Rex reaparece e, como nos contos de fada, o final é feliz.
Toda a animação computadorizada perde, em parte, o caráter autoral. Os processos de captura de imagem estão tentando superar as limitações da computação. Mas “Corgi” ainda mostra figuras humanas e animais de forma roliça e padronizada. Apesar de tudo o que o olhar crítico pode notar, as crianças estão adorando a história de Rex.

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