Cabral cita Garotinho novamente em depoimento
27/08/2019 20:25 - Atualizado em 04/09/2019 17:27
Anthony Garotinho
Anthony Garotinho / Rodrigo Silveira
O ex-governador Sérgio Cabral (MDB) voltou a citar seus antecessores no cargo, Anthony e Rosinha Garotinho, em depoimento, nesta terça-feira, ao juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro. Cabral admitiu pela primeira vez a existência da “taxa de oxigênio”, um esquema criminoso que cobrava propina no valor de 1% dos contratos na secretaria estadual de Obras. O emedebista relatou que, pelo que ouviu de Fernando Cavendish, ex-dono da empreiteira Delta, o esquema já existia em governos anteriores ao seu. “Creio que sim pelo o que me dizia o Fernando Cavendish, que (disse que) ajudava (pagando propina) nos governos de Garotinho”.
No depoimento, Cabral também disse que os operadores do esquema de propina seriam o ex-governador Luiz Fernando Pezão (MDB) e o ex-subsecretário de Obras Hudson Braga. Essa foi a primeira vez que Pezão foi citado nesta investigação iniciada após a operação Calicute, desdobramento da Lava Jato no Rio de Janeiro.
O ex-governador ressaltou que, em alguns casos, a “taxa de oxigênio” era superior a 1%. “Em termos de vantagens indevidas que eu recebi, elas foram dadas em campanhas eleitorais. Eu sei que havia uma estrutura [de propinas] na Secretaria de Obras. Ele [Hudson Braga] me prestava contas junto ao ex-governador Pezão. Mas eu me relacionava mais com grandes empreiteiras, não tinha relação com essas médias empresas do estado”, disse Cabral.
De acordo com o emedebista, o esquema beneficiou majoritariamente a Oriente Construção Civil e foi operado entre 2010 e 2014. O ex-governador, contudo, afirmou que não tinha controle em relação à forma como as propinas eram arrecadadas. “Nesse caso específico da empresa Oriente, o empresário César Fiat foi à minha casa em 2006, e lá ele disse que iria colaborar com a minha campanha. Sabia que ele era um empreiteiro com presença no governo anterior ao meu, de Rosinha Garotinho”, disse.
Questionado por Bretas, Cabral disse acreditar que o esquema da “taxa de oxigênio” teria começado no governo anterior ao seu mandato.
Preso em Bangu 8, Sérgio Cabral já foi condenado a 216 anos de cadeia em primeira instância em processos provenientes de desdobramentos da Lava Jato carioca. A última condenação (a décima) aconteceu no último mês de julho.
Em depoimento logo após Cabral, Hudson Braga negou todas as acusações. “Não participei desse esquema, desconheço a taxa de oxigênio. Estão construindo uma narrativa para me incriminar”, afirmou.
A defesa do ex-governador Pezão, atualmente preso na Unidade Prisional da Polícia Militar, em Niterói, negou que ele tenha recebido propina: “O Pezão sempre negou, e continua negando, que tenha recebido propina”.
A equipe de reportagem tentou contato com Anthony Garotinho por telefone e por mensagens via WhatsApp, mas não obteve retorno até o fechamento desta edição.
Esquema da Fetranspor
Em outro depoimento a Bretas, em abril, Sérgio Cabral também citou o ex-aliado e ex-governador Anthony Garotinho. De acordo com ele, a propina de empresas de transportes no Estado do Rio de Janeiro começou no governo Moreira Franco (MDB), passando ainda por Leonel Brizola e Garotinho.
Sobre Garotinho e Rosinha, Cabral afirmou que a caixinha de propina da Fetranspor (Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado do Rio) continuou no Executivo, supostamente administrada por Jonas Lopes de Carvalho e Augusto Ariston.
— Com o dinheiro da Fetranspor, Garotinho comprou a TV Band no Sul Fluminense. Usa uma pessoa chamada Mauro como um testa de ferro, tem um jornal em Campos, O Diário, que é do Mauro mas na verdade é dele (Garotinho), e eu continuo presidente da Alerj cuidando da caixinha da Fetranspor nesse período — disse Cabral.
Jonas Lopes foi indicado para o Tribunal de Contas do Estado (TCE) pelo então governador Garotinho, em 2000. Advogado formado pela Faculdade de Direito de Campos e filho do criminalista Jonas Lopes de Carvalho, já foi procurador-geral da Prefeitura de Campos e presidiu o TCE entre 2011 e 2016.
À época, em sua página no Facebook, a defesa do casal Garotinho afirmou, “com veemência, não haver uma única verdade no depoimento do ex-governador Sérgio Cabral, quanto às acusações proferidas aos mesmos, em relação ao setor de transportes e compra de emis-sora de televisão e rádio”.
(A.S.) (A.N.)

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