Arnaldo Neto
10/08/2019 16:57 - Atualizado em 16/08/2019 14:17
Embora respeite a greve dos médicos que atuam na Prefeitura de Campos, deflagrada no último dia 7, o prefeito Rafael Diniz afirmou que irá seguir a legislação e fará corte dos vencimentos dos profissionais que aderiram à greve, enquanto durar a paralisação. Diniz considera a adesão pequena e ressalta que o movimento começou justamente na semana de implementação do ponto biométrico. O prefeito destacou que as gratificações não foram suspensas e serão pagas assim que o município tiver condições. Em entrevista, Rafael Diniz também pontuou investimentos realizados na Saúde.
Folha da Manhã – Os médicos deflagraram greve no dia 7. Segundo a categoria, falta estrutura, medicamento e insumos para atendimentos básicos. Presidente do Sindicato dos Médicos de Campos, José Roberto Crespo declarou, em entrevista ao Folha no Ar, que esse é um problema de anos. Na sua opinião, por que a greve só agora?
Rafael Diniz – Como o próprio José Roberto Crespo admite, os problemas na Saúde são antigos. Mas fica claro que este movimento começou justamente na semana em que o ponto biométrico começou a ser implementado. Eu respeito o movimento de greve, assim como o diálogo. Mas os médicos sabem que vivemos uma nova realidade e isso se reflete em todos os setores. Às vezes, precisamos tomar medidas difíceis. Isso é normal, porque o prefeito nem sempre faz sempre o que quer; ele faz o que é necessário. Mas há grandes avanços na Saúde. Abrimos as UPHs São José e de Travessão e estamos reformando 10 UBSs. Com emendas parlamentares, vamos realizar obras nos hospitais Ferreira Machado e Geral de Guarus. Estamos licitando a compra de 40 novas ambulâncias. Em 2018, investimos R$ 640 milhões na Saúde. Desse total, mais da metade vai para o pagamento de pessoal. Falhas existem, mas estamos sempre trabalhando nas soluções. Só não é justo que, em dois anos e oito meses, eu seja cobrado por tudo o que não fizeram em três décadas, quando tinham muito mais dinheiro em caixa.
Folha – Um questionamento dos médicos foi a suspensão das gratificações, prevista no decreto de contingenciamento publicado em 12 de julho. Esse valor teria sido fixado desde o governo Arnaldo Vianna (MDB) e representaria 50% dos proventos de plantonistas. Há possibilidade desse pagamento ser retomado em breve?
Rafael – Primeiro é preciso deixar claro que o decreto não suspendeu as gratificações, e sim as novas substituições. Nós tomamos esta medida já prevendo dificuldades financeiras para manter os pagamentos em dia. Infelizmente, nossas previsões se confirmaram, o que nos levou a adiar o pagamento das gratificações até que a Prefeitura tenha disponibilidade financeira. Para se ter uma ideia, de janeiro a julho, recebemos R$ 67 milhões a menos em royalties que no mesmo período em 2018. Adiar o pagamento das gratificações é um quadro que não nos agrada, mas, se não tomássemos esta decisão, não poderíamos fazer o repasse em dia das instituições filantrópicas e dos hospitais contratualizados. Tão logo tenhamos condições, obviamente vamos pagar. É importante lembrar que os médicos receberam seus salários do mês normalmente.
Folha – Há muita gente que associe o movimento grevista à instalação do ponto biométrico. O presidente do Simec negou, enquanto o Conselho Regional de Medicina acionou o Ministério Público por ilações nesse sentido, inclusive com relação a funcionários do Executivo. A biometria é um ponto de discórdia entre a Prefeitura e a categoria?
Rafael – Desde o começo do nosso governo, fizemos diversas inspeções nos hospitais e UPHs. Infelizmente, em muitas ocasiões constatamos a ausência de profissionais que deveriam estar presentes. Isso causa prejuízo à população, que fica privada de atendimento; e também traz prejuízo financeiro ao município, que paga por um serviço não prestado, quando poderia investir em melhorias na rede. O ponto biométrico é uma realidade em diversos locais do país, e era esperado que no início de sua implantação em Campos houvesse resistência por parte de alguns profissionais. Mas este é um caminho sem volta. Quem cumpre regularmente sua jornada de trabalho não tem medo do ponto biométrico. Fazemos tudo o que está ao nosso alcance para que os servidores tenham dignidade no seu ambiente de trabalho.
Folha – Outra cobrança de alguns médicos é relacionada ao atendimento nas localidades distantes da área central. Uma proposta seria o cumprimento de metas por produtividade, ao invés da carga horária. Dessa forma, por exemplo, um profissional que teria de fazer 60 consultas semanais, ao invés de cumprir 12 por dia, faira 30 atendimentos duas vezes por semana. Isso seria viável ou de interesse do município?
Rafael – Por lei, o servidor precisa cumprir a carga horária prevista em seu contrato – a mesma que consta no edital do concurso público no qual ele foi aprovado. O prefeito que descumprir esta regra pode responder por crime de improbidade administrativa. Além disso, reduzir a carga horária dos médicos seria uma injustiça com os demais servidores que cumprem sua jornada de trabalho normalmente. Primeiro precisamos seguir o que está previsto na lei. Mas, se for um desejo dos profissionais, podemos discutir a redução da escala de trabalho de 24 para 12 horas. Se houver o desejo de rediscutir uma nova escala nos finais de semana para atender a todos os profissionais, também estamos abertos ao debate.
Folha – A Prefeitura tem dimensão da adesão à greve? Como tem atuado para evitar a paralisação dos atendimentos?
Rafael – Percebemos que a adesão ao movimento foi pequena. Caso seja necessário, vamos tomar as medidas cabíveis para garantir o atendimento. A população não pode pagar por alguns profissionais que não querem cumprir o que estabelece o contrato de trabalho. Infelizmente, existem casos assim. Mas também existe uma maioria que veste a camisa do município e entende que a missão maior é cuidar da população.
Folha – A Prefeitura reconhece a greve ou há risco de corte de salários dos funcionários da Saúde que aderirem ao movimento?
Rafael – A maioria dos médicos continua trabalhando e vai receber normalmente seus salários. No caso daqueles que aderiram à greve, vamos seguir a legislação e fazer o corte dos vencimentos enquanto durar a paralisação. Sempre mantive um bom diálogo com a categoria e, nas visitas que faço às unidades, percebo que a maioria dos médicos entende nossa realidade financeira e reconhece que nosso governo tem feito todo o esforço para oferecer o melhor.
Folha – Você esteve em Brasília e cobrou do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, mais repasses para o município. O fato de Campos ser um polo regional faz com que as dificuldades na Saúde fiquem mais evidentes? Qual foi o posicionamento do ministro?
Rafael – Tive uma reunião proveitosa com a equipe técnica do ministro, que se comprometeu a fazer um levantamento das necessidades. A partir disso, o Ministério vai avaliar de que forma poderá ajudar, tanto na questão dos hospitais contratualizados quanto no repasse de recursos. A realidade é que, além de uma tabela defasada do SUS, vimos os repasses federais diminuírem nos últimos anos. Isso precisa mudar.