Camilla Silva
10/08/2019 14:44 - Atualizado em 04/09/2019 17:37
Qual é a força necessária para percorrer mais de 1.100 km, distribuídos em três estados do sudeste, e conseguir ficar bem na chegada? Segundo o Instituto Estadual de Ambiente (Inea), 500 m³/s (metros cúbicos por segundo), o que não seria um problema para o rio Paraíba do Sul, que recebe o apoio de diversos afluentes. Mas, após intervenções em diversos pontos de seu trajeto, a quantidade de água que chegou a Campos no início da última semana foi apenas 38,2% desse valor. Um dos reflexos da baixa vazão foi a suspensão da captação de água, no início da última semana, na estação de abastecimento de São João da Barra. O município sofre com o processo de salinização que já chegou a Barcelos, a cerca de 8 km da foz do rio, no Pontal de Atafona.
A ocorrência de água salobra no rio Paraíba do Sul é investigada por pesquisadores e debatida em simpósios promovidos pelo Comitê do Baixo Paraíba e Itabapoana. “A água dos oceanos da Terra tem uma salinidade média aproximada de 35, ou seja, 35 gramas de sal por litro de água, o que equivale a 3,5%. A água salobra seria aquela que tem salinidades entre 0,5% e 3,0%. A água doce pode ter uma salinidade entre 0 e 0,5%. O que a pesquisa que realizamos mostra é que encontramos água salobra a cerca de 8 km de distância da foz do rio. Se a gente conseguir manter a vazão mínima estabelecida pelo Inea, a água ficará doce até a foz, ou seja, vamos evitar que o avanço da água salina possa tornar essa água intratável”, afirmou o pesquisador do Instituto Federal Fluminense (IFF), Vicente de Oliveira.
Segundo o presidente do Comitê, João Siqueira, o plano da bacia estabelece que o valor de vazão em Campos, último ponto de medição antes da foz, não poderia ser inferior a 252m³/s. O valor mínimo informado pelo Inea, no III Simpósio de Recursos Hídricos realizado Uenf, na última quinta, para evitar o processo de intrusão salina é de 500m³/s. No dia da interrupção, a vazão do rio em Campos chegou a 191m³/s, segundo a Agência Nacional de Águas (ANA). “A solução apontada, desde 2014, pelo comitê é diminuição da quantidade de água que é desviada para o rio Guandu, na estação de Santa Cecília. A demanda já foi informada a ANA, mas não tivemos decisão favorável”, afirmou.
A transposição das águas do rio Paraíba para o rio Guandu, em Barra do Piraí, na última sexta, foi de 107,69 m³/s, quase 60% do volume de água que o rio possuía ao chegar ao reservatório. Para Jaguari, que faz parte do sistema Cantareira, a retirada é limitada a 8,5 m³/s. A ANA informou que as regras da resolução conjunta sobre os usos múltiplos das águas do Paraíba do Sul foram definidas com a participação de órgãos ambientais dos estados do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais, sob mediação do Supremo Tribunal Federal.
Poços são alternativas para épocas de seca
Há anos, SJB sofre com o problema de salinização. O abastecimento de água no município foi suspenso na segunda e regularizado na terça. Segundo a Cedae, o sistema de produção está funcionando normalmente. Durante o simpósio, a autarquia informou que no mês de agosto a interrupção de captação atingiu a marca de 11 horas. Além da água do rio, o sistema funciona com poços do Jacuí e Parque Exposição com vazão de 20 l/s (litros por segundo) e 25 l/s. Um novo poço, Bombeiro, com vazão prevista em torno de 20 l/s foi concluído, mas está em fase de licitação para obras de interligação às redes de distribuição. “Os poços funcionam todos os dias e representam cerca de 50% da água distribuída em São João da Barra”, concluiu.
A Prefeitura informou que acompanha a situação para, caso necessário, promover medidas emergenciais, inclusive com utilização de caminhões pipa.