Cumprindo uma tradição, pacientes do Hospital Psiquiátrico Espírita Doutor João Viana ganharam um passeio ao Parque da Fundação Rural de Campos nesta quinta-feira (1º), no segundo dia da 60ª Exposição Agropecuária e Industrial do Norte Fluminense. Passeios fazem parte das atividades desenvolvidas pelo hospital, mantido pela Liga Espírita de Campos, para promover a inclusão social e a desospitalização dos pacientes.
— Nossos pacientes vão à praia, a sítios, fazem piquenique, passeios de trenzinho, cinema. Na medida do possível, tentamos proporcionar a eles esses momentos fora do hospital. Antes tínhamos um ônibus, mas hoje contamos com os corações generosos, que reconhecem o valor dessas atividades para os pacientes e que, com doações, como o veículo para o transporte, possibilitam esses momentos a nossos internos. É uma ação que prezamos muito, para que eles convivam com outras pessoas, tenham vivência fora do ambiente hospitalar. Se a gente não faz mais é justamente por conta das dificuldades financeiras. Mas, como disse, sempre podemos contar com a comunidade, com esses corações caridosos, que nos auxiliam com doações de todos os tipos, para o benefício dessas pessoas, muitas esquecidas até pelos familiares — contou a presidente da Liga mantenedora do João Viana, Eliete Alves do Rosário.
Dos cerca de 70 pacientes do hospital, muitos acamados e sem condições de participar do passeio, 25 demonstraram a importância da ação extra-muro, se divertindo e admirados com os animais em exposição, como cavalos, pôneis, arara, tucano e pavões, entre outros. “É um trabalho de inclusão, de socialização, para preparar os pacientes para retornar para os seus lares. Não se trata apenas de um passeio. Aqui, é como se eles tivessem criando uma história e desenvolvendo sentidos através das cores, das imagens, ganham ritmo com o caminhar, noção de espaço, percepção do mundo; é uma gama de atividades que, muito além do lazer, garantem uma série de benefícios aos pacientes”, explicou o professor de Educação Física do Hospital Dr. João Viana, Maxwell Falquer Faria, que supervisionou o passeio junto com outros funcionários, enfermeiros, técnicos e assistentes sociais.
O professor lembra quando, antes do hospital passar por dificuldades financeiras, os pacientes chegavam a fazer passeios semanais. “O hospital sempre realizou atividades extra-muros com os pacientes. Tinha época em que chegavam a ir a praia duas vezes na semana e que sempre iam ao sítio que o hospital tinha, em Cajueiro, São João da Barra. Mas nos esforçamos para manter essa forma de inclusão e, todos os anos, eles participam da Exposição Agropecuária, vão à Bienal do Livro, entre outras ações que minimizem o sofrimento pelo tempo de internação”.
Doações – Eliete, Maxwell e os funcionários do João Viana destacam a importância da sociedade campista, que auxilia a instituição com doações. Conforme a presidente da Liga Espírita de Campos, o hospital é contratualizado pela Prefeitura de Campos, que repassa a verba do Ministério da Saúde. “O valor da diária por paciente varia e, para se ter uma ideia, a verba não cobre nem o custo com funcionários e garantimos cinco refeições diárias e, além do tratamento médico, medicação, tratamento psicológico, assistência social. Agora, buscando melhorar o espaço físico do hospital, estamos em campanha de doação de material de construção, para melhorarmos as condições das enfermarias, os banheiros. Pintamos o hospital recentemente e tudo isso através de doações e dos nossos funcionários, porque não temos como pagar mão-de-obra”.
Mas Eliete acredita que o hospital vai superar a crise. “Estamos otimistas que essa fase vai passar, porque temos toda a comunidade de Campos como parceira. Não há como descrever a nossa gratidão à comunidade, que há mais de seis anos nos doa alimentos, cobertores, todo tipo de coisa. Tudo o que a gente pede, a gente recebe. Agradecemos a todos os campistas que, independente de religião, reconhecem a seriedade de nosso trabalho. São pessoas que ajudam a melhorar a vida de nossos pacientes, muitos deles, além do problema de saúde, tristes por não terem nenhum vínculo familiar. Nós somos a família e única referência de muitos deles”, concluiu Eliete.