Paulo Renato Pinto Porto
31/08/2019 18:42 - Atualizado em 16/09/2019 13:23
A Bacia de Campos é a maior produtora de gás natural do país, com uma rede de gasodutos na região, o que possibilitaria a utilização do produto como combustível no processo industrial. Mas as indústrias e o consumidor campista não desfrutam de benefícios destas vantagens aparentes com a proximidade desta fonte de energia. Das dezenas de cerâmicas do município que utilizavam o gás natural para o aquecimento de tijolos e outros produtos, nenhuma delas mais faz uso em seus fornos.
Além das indústrias, taxistas, motoristas de aplicativos e outros profissionais que fizeram a conversão para o combustível reclamam que o custo tem encarecido o transporte.
— Há 15 anos, pelo menos 50% das cerâmicas utilizavam o gás, mas hoje não restou nenhuma delas porque o custo do metro cúbico aumentou demais, encareceu o custo de produção e já não mais compensa o uso do gás — disse o superintendente de Abastecimento de Campos, Nildo Cardoso, proprietário de cerâmicas na Baixada Campista.
A utilização do gás natural, ressalta Nildo, traz vantagens tais como uniformização da temperatura no forno, o que tem, como conseqüência, uma redução nas perdas e de peças defeituosas durante a queima.
Hoje o aquecimento dos fornos das cerâmicas da Baixada Campista é feito por resíduos de madeiras utilizadas para fins industriais pela Aracruz Celulose (ES) e de serrarias de Campos.
Nildo lembrou que o custo do gás passou a ser proibitivo para as cerâmicas depois que o presidente da Bolívia, Evo Morales, nacionalizou a unidade de produção da Petrobras naquele país.
A saída, para Nildo, será a abertura da indústria do gás anunciada pelo governo federal que deve reduzir o preço do produto final.
O Ministério da Economia criou um programa para fomentar a abertura do mercado de gás no país. A União espera que o preço caia até 30% nos próximos dois anos.
O superintendente de Infraestrutura da Agência Nacional de Petróleo e Gás (ANP), Hélio Cunha Bisaggio, lembrou que, atualmente, a Petrobras detém o monopólio do segmento por controlar as principais variáveis do mercado.
Dados do Ministério de Minas e Energia demonstram que a companhia estatal é proprietária de 100% da infraestrutura de distribuição de gás no país e é responsável por 75% da importação do insumo.
— A Petrobras é a empresa detém o monopólio de fato do mercado de gás. A gente espera que, com as medidas que estão sendo tomadas pelo governo, o preço do gás seja determinado pelas regras do mercado — projetou o superintendente de Infraestrutura da ANP.
ANP espera medidas venham baixar o custo
O superintendente de Infraestrutura da Agência Nacional de Petróleo e Gás (ANP), Hélio Cunha Bisaggio, lembrou que, atualmente, a Petrobras detém o monopólio do segmento por controlar as principais variáveis do mercado.
Dados do Ministério de Minas e Energia demonstram que a companhia é proprietária de 100% da infraestrutura de distribuição de gás no país e é responsável por 75% da importação do insumo.
— A Petrobras detém o monopólio de fato do mercado de gás. A gente espera que, com as medidas que estão sendo tomadas, o preço do gás seja determinado pelo mercado — revelou o superintendente da ANP.
CPI na Alerj cobra medidas para reduzir preço
Na Assembléia Legislativa (Alerj), o deputado estadual Rodrigo Bacellar (SD) é relator da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) instalada este ano para apura as causas do elevado custo do gás e sua distribuição no Estado.
Bacellar destacou que a composição atual da tarifa não leva em consideração que o município de Campos é o maior produtor de gás do país.
— É um absurdo o consumidor de Campos pagar mais que o de Itaboraí por metro cúbico do combustível, se nós somos os maiores produtores do Brasil. O custo do gás de cozinha também deveria ser mais barato. Essa é uma das inúmeras questões que esperamos ver respondidas na CPI do Gás, que busca investigar a distribuição do gás no Estado — protestou o parlamentar campista.
Segundo ele, a CPI já fez oito reuniões ordinárias com partes envolvidas na questão da produção e distribuição do gás.
— Estamos avançando. A CPI tem cobrado de todas as partes, inclusive a concessionária que tem de cumprir seu plano de expansão que consta do contrato. Caso contrário defendo que não tenha seu contrato renovado e haja novo processo licitatório para escolha de outra empresa. Não é admissível que Campos, sendo maior produtor, o gás não esteja acessível para indústrias, domicílios ou condomínios residenciais. E o número de postos de combustíveis com o gás precisa ser ampliado— concluiu Bacellar.
GNV com custo maior que em outras regiões
O uso do gás natural veicular (GNV) ainda é compensador para quem tem carro como veículo de trabalho. O preço, no entanto, encareceu nos últimos meses em R$ 0,80 o metro cúbico.
— A conversão de um automóvel para o gás veicular ainda compensa para quem usa o seu carro como veículo de trabalho. A autonomia é ainda bem maior do que um movido por outro combustível. Você abastece com R$ 50,00 e roda por 300 quilômetros. Com a gasolina e o etanol isso é impossível. Mas há 20 anos quando o gás começou a ser utilizado como combustível veicular, o preço na bomba era de R$ 0,80, ou pouco mais do que isso. Hoje o metro cúbico está a R$ 3,67. Em Itaboraí, o preço há cerca de 20 dias era R$ 1,99 — comentou o motorista Leandro Caldas.
— É um absurdo o fato de nós, campistas, pagarmos quase o dobro do custo de outras cidades quando ficamos aqui localizados bem pertinho da região produtora deste combustível — acrescentou Leandro.
Queima com o gás trará mais qualidade
O presidente do Sindicato das Indústrias de Cerâmica de Campos, Oziel Batista Crespo Filho, também considerou inviável a utilização do gás para fins industriais nas olarias da Baixada Campista.
— O custo subiu muito para as cerâmicas e tornou-se inviável trabalhar com o gás. Eu espero e creio que com as medidas anunciadas pelo governo em flexibilizar o processo de produção e distribuição até o consumidor, o preço seja mais acessível para as nossas indústrias. Afinal de contas, o gás passa nas nossas portas e não temos como utilizar o produto porque o custo se tornou proibitivo — avaliou Oziel.
O presidente do Sindicato destacou também as vantagens do aquecimento através do gás industrial.
— Com o gás há uma melhor qualidade no produto porque a queima fica uniforma e temos menor percentual de perdas do material. A temperatura oscila muito quando o tijolo é queimado através de lenha — explicou Oziel.
O empresário enfatiza que a médio prazo, através da rede de gasodutos existentes na região, o aquecimento pelo uso do gás trará salto de qualidade e de competitividade às mais de 100 cerâmicas da Baixada Campista.
— Assim, será permitido nós competirmos em igualdade de condições em relação a outros mercados — concluiu Oziel.