Rumo ao Modernismo (V): Anita Malfatti
* Arthur Soffiati 29/08/2019 18:38 - Atualizado em 09/09/2019 13:54
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Se Lasar Segall não provocou polêmica nos meios artísticos brasileiros com suas duas exposições em 1913, não se pode dizer o mesmo com relação à exposição de Anita Malfatti em 1917. Nascida em São Paulo em 1889, Anita nasceu com atrofia no braço e mão direitos. Acompanhando duas amigas e financiada por um tio, ela viajou para a Alemanha em 1910. Em Berlim, estudou com Fritz Burger, pintor pontilhista. Logo depois, estudou na Academia de Belas Artes de Berlim. Seu interesse se voltava para o expressionismo.
De volta ao Brasil, em 1914, Anita expôs seus quadros. Mais uma vez, entra em cena o senador José de Freitas Valle, o mecenas de Segall no Brasil. Uma nova bolsa de estudos na Europa dependia dele. Mas Freitas Valle não gostou do que viu e criticou a pintora publicamente. A Primeira Guerra Mundial começou no mesmo ano. Anita conseguiu que seu tio Jorge Krug mais uma vez financiasse sua viagem. Como a Europa era o palco da guerra, ela viajou para os Estados Unidos.
Em princípios de 1915, a artista se matriculou na Art Student’s League, em Nova Iorque. Depois de tentar se encontrar com vários professores, ela se sentiu mais à vontade com Homer Boss. Sob a batuta dele, Anita pintou vários quadros. O mais conhecido de sua fase norte-americana é “O farol”.
Novamente de volta ao Brasil, a pintora promoveu sua segunda exposição em 1917. Ela se tornou famosa e foi considerada o estopim da Semana de Arte Moderna de 1922. A mostra foi um fracasso e um sucesso. Fracasso porque Monteiro Lobato publicou uma severa crítica à pintora no jornal O Estado de S. Paulo, classificando a autora como paranoica ou mistificadora. Compradores devolveram as telas vendidas. Por outro lado, jovens que desejavam a renovação das artes no Brasil enalteceram a exposição. Mário de Andrade a visitou várias vezes e tomou a defesa da artista juntamente com outros jovens da sua geração.
Um historiador trabalha com o que aconteceu, não com o que poderia ter acontecido. Ele não pode traçar a história das artes no Brasil sem a exposição de Anita Malfatti em 1917. Se ela não existisse, haveria a Semana de Arte Moderna? Não há como remover a mostra e, experimentalmente, como em física, química e biologia, verificar que rumo a história seguiria. Com uma crítica favorável de Monteiro Lobato ou sem crítica nenhuma, que rumo a história teria tomado? Não há como fazer a experiência. O historiador, então, deve examinar o modernismo no Brasil com as duas exposições de Lasar Segall, a primeira individual de Di Cavalcanti e de Zina Aita e as duas de Anita. Só a de 1917 provocou rebuliço. Há, entre ela e a Semana de Arte Moderna, uma ligação explícita reconhecida pelos próprios modernistas.
Entre os 53 trabalhos apresentados na exposição de 1917 estão “A estudante russa”, “Tropical”, “O japonês”, “O homem amarelo”, “A mulher de cabelos verdes”, “O farol de Monhegan”, “A ventania”, “A palmeira”, “O barco”, além de gravuras. “O homem amarelo” encantou Mário de Andrade. O estilo da pintora se situava entre o que se chama de pós-impressionismo por falta de expressão melhor, o expressionismo e o cubismo, mais ou menos na linha dos quadros de Lasar Segall expostos no Brasil.
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A artista continuou seus estudos, no Brasil, com o pintor acadêmico Pedro Alexandrino e com o alemão George Fischer Elpons, a partir de 1919. Foi quando conheceu Tarsila do Amaral com seu espírito inquieto. Anita participou da Semana de Arte Moderna com 22 trabalhos. No mesmo ano de 1922, ela retornou à Europa, desta vez rumo a Paris, a fim de continuar seus estudos. De compleição física e ânimo frágeis, Anita não conseguiu acompanhar a forte personalidade de Tarsila do Amaral. Instalou-se entre ambas uma surda competição.
No retorno, em 1928, já era outro o Brasil. Anita Malfatti não conseguiu mais o destaque da exposição de 1917. Parece que este foi o momento áureo de sua carreira de artista.

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