*Felipe Fernandes
03/08/2019 10:39 - Atualizado em 13/08/2019 14:22
A bem-sucedida franquia “Velozes e furiosos” é, há algum tempo, o melhor exemplo dos excessos de Hollywood. Uma franquia que teve seu primeiro filme lançado em 2001 e tratava de uma gangue que promovia rachas e praticava roubos envolvendo carros. Com o sucesso, cresceu em todos os sentidos e, nos últimos filmes da franquia, já excedeu o absurdo e ganhou escala global em tramas cada vez mais fracas, exageradas e desprovidas de muito sentido.
“Velozes e furiosos: Hobbs e Shaw” é um filme derivado da franquia que já conta com oito filmes e vem começando a mostrar sinais de desgaste. A solução encontrada foi puxar por um novo caminho, apostando no carisma da dupla de protagonistas, mas no fundo traz os mesmos excessos, um humor autoconsciente, mas forçado, que traz situações cada vez mais absurdas e cada vez menos pautadas nos carros, o veloz já nem precisava fazer parte do título.
Na trama, Hobbs e Shawn precisam proteger Hattie (irmã de Shawn), que se infectou com um vírus para roubá-lo de uma seita tecnológica secreta (essa é a explicação que o filme apresenta), que precisa dele para causar uma revolução mundial, onde os humanos vão evoluir através das máquinas.
O roteiro não faz muito sentido, e dizer que não é isso o que se espera de uma franquia como essa é judiar da inteligência do espectador. O roteiro de Chris Morgan (presente na franquia desde o quinto filme) e Drew Pearce joga algumas ideias com o único intuito de justificar novas cenas de ação.
O longa já abre com uma cena de assalto, onde personagens fazem movimentos impossíveis, param balas com as mãos e, como se isso ainda não fosse o suficiente, ainda temos o personagem interpretado por Idris Elba literalmente se anunciando como o vilão.
Trabalhando a dinâmica entre os dois personagens através da montagem, mesmo antes de ees se encontrarem, o filme busca ressaltar as diferenças entre os dois, seja no estilo de vida, passando pelo modo de agir, mesmo que os resultados sejam os mesmos. O filme ainda se permite trazer coadjuvantes de luxo como Ryan Reynolds e a vencedora do Oscar Hellen Mirren em pequenas cenas (uma para cada personagem) e deixa a promessa de que ambos voltarão com mais destaque para uma eventual continuação.
Um dos elementos da franquia original que retorna aqui é a questão familiar, que está diretamente ligada ao personagem Shaw. Afinal, é a irmã dele a portadora do vírus, mas permite no irregular terceiro ato que esse elemento chegue a Hobbs , no uso do clichê do retorno ao lar e as origens para enfrentar uma adversário que você não pode vencer.
O humor autoconsciente dos absurdos que acontecem e a forma bem humorada de lidar com tudo isso são uma marca da série que permanece nesse spin-off, mas aqui o filme força o humor nas diferenças entre os protagonistas e a má relação entre eles, como fonte para diversos tipos de piadas que, apesar de dois bons momentos, cansam já na metade da produção.
O autointitulado vilão também não ajuda. Criando uma desnecessária ligação passada entre Brixton e Shawn, buscando criar uma carga dramática que nunca se justifica, o personagem faz parte de um processo em que ele é dependente da seita e se tornou uma espécie de exterminador (que não veio do futuro), justificando o vilão protagonizar cenas absurdas e ser páreo para a dupla de protagonistas.
Confesso ter ficado surpreso com a chegada dos créditos e descobrir que o filme é dirigido por David Leitch. Responsável pelo primeiro John Wick (ele co-dirigiu o filme) e pelo surpreendente Atômica, o ex-dublê se mostrou um grande diretor para cenas de ação intensas e complexas. Porém, aqui (assim como em seu trabalho anterior, Deadpool 2), Leitch faz um trabalho burocrático que em nada lembra seus primeiros filmes como diretor.
Abusando dos efeitos digitais, o longa não tem uma sequência de ação marcante, são cenas que nunca passam uma real sensação de risco para os personagens, eles simplesmente são indestrutíveis.
No elenco, Dwayne “The Rock” Johnson e Jason Statham interpretam os mesmos personagens de sempre e o fazem muito bem. Os dois são carismáticos, e o que realmente funciona no filme é muito do trabalho dos dois.
Vanessa Kirby se mostra uma interessante adição ao interpretar uma personagem que não fica muito atrás dos homens. Uma pena que no terceiro ato sua personagem basicamente se torne a donzela em perigo, prejudicando o que havia sido construído até ali.
Fechando o elenco, Idris Elba não consegue fazer muito com um personagem muito limitado, que basicamente está ali para bater de frente com os protagonistas. Com discursos bizarros buscando explicar os objetivos da seita, o roteiro até força um background que não acrescenta nada ao personagem.
“Velozes e Furiosos: Hobbs e Shaw” entrega o que promete, mas, sendo um derivado, o longa poderia acrescentar novos elementos, criando novas possibilidades e trazendo algum frescor. Isso não acontece, até os temas centrais são os mesmos. Deve agradar quem já curte a série principal ou só quer ir ao cinema para assistir um filme descompromissado. Para quem já cansou ou não curte, é mais do mesmo.