O Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro, CREMERJ, seccional de Campos, elabora evento para os médicos, em greve desde o último dia 7 (cobertura Folha). A reunião deverá contar com a presença de conselheiros do estado e terá pauta voltada à demanda que se tornou a principal reivindicação da categoria: a condição de trabalho. Essa imposta por ela própria como forma de pressionar o governo e para se distanciar da narrativa de oportunismo que foram acusados pela ciência das precariedades na área há bastante tempo reclamadas em mesmo momento que gratificações são cortadas e é imposto o famigerado "ponto biométrico".
Dois assuntos dessa reunião deverão preocupar o governo. O primeiro diz respeito a apresentação do relatório da autarquia (CREMERJ) fruto de fiscalizações no Ferreira Machado e no HGG, que deverá ser protocolado no Ministério Público - estadual e federal - e na Defensoria Estadual. Outro que também promete tirar o sono dos gestores é a temida "intervenção ética". Definida em resolução própria e impositora de diversas intervenções e limitações aos hospitais, a intervenção ética, caso seja uma realidade, afetará bastante uma saúde já combalida. A curto prazo prejudica a população de maneira drástica. Aos médicos, o item "direitos e deveres" poderá ser alerta e um reforço na intenção de retorno ao trabalho.
Como último item da pauta, a proposta de um "gabinete de crise" eminentemente técnico e composto por médicos e conselheiros, deverá ser uma boa saída para a greve, pois poderá fazer uma interlocução mais efetiva racional com a prefeitura, buscando soluções.
A reunião acontecerá na próxima segunda (26) na Sociedade Fluminense de Medicina e Cirurgia, às 19 horas. Segue a pauta e o convite do CREMERJ:
"O CREMERJ convida os médicos de Campos de Goytacazes para reunião na próxima segunda-feira, 26, com diretores e conselheiros. O encontro será realizado no auditório da Sociedade Fluminense de Medicina e Cirurgia, às 19 horas.
Assuntos que serão debatidos:
1 - Relatório de fiscalização do Hospital Geral de Guarús (HGG) e do Hospital Ferreira Machado (HFM) e suas consequências;
2 - Medidas que serão tomadas diante das novas denúncias sobre as Unidades Pré-Hospitalares (UPHs) e Unidades Básicas de Saúde (UBS);
3 - Direito e deveres do médico diante da falta de condições de trabalho;
6- Instalação de gabinete de crise para mediação e orientações técnicas".
Atualizado 23/08 - 19:50 para entrevista com Rogério Bicalho, coordenador do CREMERJ - Delegacia Campos.
O coordenador do Cremerj falou ao blog sobre a reunião de segunda (26). Confirmou que conselheiros e diretores do órgão na capital virão a cidade para participar. Sobre o relatório, resultado de fiscalizações no Hospital Ferreira Machado e Hospital Geral de Guarus, Bicalho disse que protocolará no mesmo dia, junto ao Ministério Público e Defensoria
- Não é papel do CREMERJ criar caos ou pânico, mas o relatório mostrará a verdade (...) terão diversas fotos (...) as condições de trabalho são péssimas - relata.
Sobre o gabinete de crise, o coordenador faz perguntas chaves - Qual objetivo do médico? Ter condições do trabalho. Qual objetivo do CREMERJ? Cobrar essas condições. Qual objetivo do gestor? Acredito eu, atender bem a população. E como a população é bem atendida? Com os profissionais tendo condições de trabalho. Então, com um gabinete de crise, todos saem ganhando. Eu tenho certeza, pelas reuniões que tive com o prefeito que ele quer ajuda. E nós vamos oferecer essa ajuda. Confira:
Blog - A reunião terá a participação de outras seccionais?
Rogério Bicalho - Agora as seccionais mudaram de nome. Agora se chamam delegacias. O CREMERJ possui conselheiros eleitos pelos médicos e depois de eleitos são nomeados nas delegacias locais. Na região temos a norte que é em Campos e a noroeste que fica em Itaperuna. A reunião é de interesse local, mas virão diretores e conselheiros da sede.
Blog - Entre os assuntos que serão tratados estão os relatórios do HFM e HGG. Eles já foram protocolados nos órgãos competentes? Eles são contundentes? Como o CREMERJ a avaliou condição desses hospitais?
Rogério Bicalho - Não é questão de ser contundente, o relatório mostrará a verdade. Sem amenizar e sem ser sensacionalista. Por isso colocamos muitas fotos. Pois contra imagens não haverão argumentos. Como disse, o CREMERJ é um órgão técnico, nossa função não é criar alarde, caos ou pânico. Nossa função é orientar. O relatório traz o que todos os profissionais de saúde ou cidadão sabem, que as condições dos hospitais, de trabalho e estrutural, são péssimas. O prefeito sabe. O secretário sabe.
Blog - O convite fala em “direito e deveres” dos médicos. Seria um item para trazer os profissionais da saúde para ser ainda mais parte do problema?
Rogério Bicalho - Quando nos encontramos em um momento de caos, de atrito com o gestor e insatisfação geral com as condições de trabalho, podem, reafirmo, podem, ocorrer excessos de ambas as partes. Então nós vamos demonstrar o que é direito e o que é dever. Por exemplo: em uma situação caótica em que falta de tudo, o médico tem o direito de reclamar e exigir melhores condições e o dever de denunciar. Se ele está atendendo um paciente e ele está vindo a óbito por falta de condições ele tem o dever de denunciar. Na verdade, os direitos e deveres ali serão mais um diálogo, aberto a perguntas. Cito outro exemplo, o ortopedista quando tem que operar um paciente de urgência e ele se depara com uma furadeira de construção civil ao invés de uma própria para cirurgia ortopédica (fato semelhante foi tratado aqui no Blog), qual o dever dele? Falar a verdade para a família, pois às vezes nos acostumamos com o caos e esquece de falar para a família que o paciente não recebe o atendimento idela porque falatam condições. E Denunciar.
Blog - O convite também fala em novas condutas do CREMERJ seriam essas novas condutas?
Rogério Bicalho - Não é relativo a o que está acontecendo aqui em Campos não. É que agora o CREMERJ colocou conselheiros na defesa do médico, atuando não só na cobrança do profissional, mas também na defesa quando necessário.
Blog - O gabinete de crise poderá ser um bom instrumento de interlocução entre prefeitura e médicos?
Rogério Bicalho - O gabinete eu solicitei. Por que? Nas oito horas que tive em reunião com prefeito, em dois dias, eu deixei claro que o CREMERJ não tem interesse em trazer alarde, que seria um órgão técnico. E o prefeito se mostrou muito receptivo em ouvir a parte técnica. Foi quando ele sugeriu o "pacto pela saúde". Nesse pacto o CREMERJ entraria com um consultor. Então no gabinete de crise, teremos conselheiros para ajudar o gestor, caso ele queira. Ele não será obrigado a isso, mas estaremos a disposição dele. O relatório é um manual. Nós fiscalizamos e encontramos uma determinada situação. E o relatório dirá como deveria estar de acordo com a resolução daquele item. Não adianta dizermos que está errado, apenas. Mas indicar as soluções e como se adequar as resoluções, normas e a legislação. É um manual. O gabinete é para auxiliar nisso. Vou te dar um exemplo prático. O HGG não possui sistema de óxido nitroso. Imagina montar em um hospital já pronto esse sistema? Então se for possível substituir por outra coisa, vamos montar uma câmara técnica, ouvindo os profissionais para ver se há necessidade real. O gabinete será um conselheiro. O prazo dado no relatório será curto, então devemos trabalhar em conjunto. Qual objetivo do médico? Ter condições do trabalho. Qual objetivo do CREMERJ? Cobrar essas condições. Qual objetivo do gestor? Acredito eu, atender bem a população. E como a população é bem atendida? Com os profissionais tendo condições de trabalho. Então, com um gabinete de crise, todos saem ganhando. Eu tenho certeza, pelas reuniões que tive com o prefeito, que ele quer ajuda. E nós vamos oferecer essa ajuda.