Camilla Silva
13/07/2019 13:38 - Atualizado em 17/07/2019 17:10
“Sei que aqui não é caridade, mas eu não tenho dinheiro e quero estudar”. Esta frase foi dita por Simony Rocha, 25 anos, a um professor de química de um curso preparatório para o vestibular de medicina, que permitiu que ela frequentasse o curso por duas vezes. Ela conta que foi com muitas horas de estudo e ajuda de pessoas próximas e desconhecidas que conseguiu passar na última seleção da Faculdade de Medicina de Campos. Agora aprovada, a estudante recebe doações e vende empadas e garrafinhas de água, com a ajuda da mãe, para conseguir o valor necessário para a matrícula na faculdade, que é cerca de R$ 8 mil e deve ser pago até a próxima quarta-feira (17). Até essa sexta, ela havia conseguido a metade do valor.
Religiosa, a jovem, que é moradora do Parque Imperial e trabalha atualmente como orientadora particular, contou que acredita que exercerá a profissão para cuidar das pessoas, de acordo com a vontade de Deus. “Meu chamado é estar onde as pessoas precisarem de mim”, afirmou.
Três empadas saem a R$ 5, com recheio de palmito ou carne de soja, e a garrafa de 500 ml de água custa R$ 2. Os produtos são vendidos em frente ao Banco do Brasil da Pelinca. Quando começou a arrecadação, há cerca de uma semana, ela recebeu de alguns amigos doações para a realização de um sorteio de doces, mas não se sentiu à vontade para seguir com a campanha.
— Fiquei com medo de as pessoas me acharem ingrata, afinal, estou pedindo ajuda. Mas eu estudo e sei o quanto o açúcar faz mal às pessoas, inclusive, evito comer doces. Achei que estaria começando errado se estivesse oferecendo às pessoas algo que não consumo. Falei com meus amigos, pedi desculpas e pedi para eles não ficarem chateados comigo. Mas eles me apoiaram. Meu amigo que faz bolo me deu a ideia de rifar um bolo de frutas. Uma amiga doceira me falou que fazia brownie funcional. E assim começamos a fazer os sorteios — contou.
Denise Rocha, mãe de Simony, contou o esforço da filha para passar na prova. “Estou feliz, estou com ela. Eu falei: a gente não está fazendo nada de desonesto. Nós estamos correndo atrás do seu sonho. Você já fez a sua parte, Deus já te honrou, e agora nós vamos fazer a nossa parte, que é conseguir o dinheiro da matrícula”, contou.
Após o pagamento da matrícula, a aluna irá se inscrever no programa de bolsas da Fundação Benedito Pereira Nunes, que mantém a faculdade, para continuar no curso, cuja mensalidade é R$ 8.155,39. As doações para a Simony podem ser feitas pelo site vakinha.com.br, com código de identificação 632764, ou por depósito na conta 01010236-9, agência 0822, do banco Santander.
No sinal — O alto custo do curso leva alunos que ainda estudam para passar na prova a também se mobilizarem para arrecadação do valor. Letícia de Souza Gomes tem 26 anos e ainda se prepara para a prova. Atualmente, ela tira algumas horas do dia para vender água no cruzamento da avenida Alberto Torres com a rua Álvaro Tâmega.
— Eu entendo que algumas pessoas vão ter resistência e podem não querer me ajudar, porque ainda não passei. Mas é um valor alto para juntar em algumas semanas. Eu realmente não tenho condições. Eu estou me preparando para a prova e sei que vou passar, por isso, já estou começando a juntar esse valor — afirmou Letícia. Ela já fez o curso preparatório da Universidade Estadual do Norte Fluminense e do Liceu de Humanidade de Campos. Atualmente, faz um curso particular com bolsa.