Crítica de Cinema - Rei Leão: Nostalgia e hiper-realismo
Felipe Fernandes 20/07/2019 14:21 - Atualizado em 30/07/2019 13:24
Divulgação
Se tem um filme esse ano (além dos Vingadores) que é certeza de grande bilheteria, é o live-action de “O Rei Leão”. Lançado em 1994, o desenho marcou muita, muita gente. Vai muito além das crianças da época, o desenho cativou (e o faz até hoje) pelo equilíbrio entre drama e humor, misturados com grandes mensagens, uma trilha sonora incrível e personagens extremamente carismáticos, que fazem parte do imaginário popular desde então.
Com a tecnologia atual, era questão de tempo até a Disney levar às telas uma versão ‘“real” da jornada de Simba. O escolhido para comandar o filme é Jon Favreau, uma escolha segura. Se trata do diretor responsável pelo primeiro filme da Marvel e por outro bem sucedido live-action da casa do Mickey: “Mogli: O Menino Lobo”.
O maior desafio nessa adaptação era alterar aspectos lúdicos do desenho e trazer a história o mais próximo possível da realidade da vida selvagem. Nesse sentido, o filme é muito bem-sucedido. Por mais que tenhamos animais dialogando (inevitável) e até mesmo tecendo comentários sobre filosofia e minimalismo, o longa transmite a sensação de alegria, liberdade e perigos provenientes da relação dos animais na natureza.
O visual é muito caprichado, são várias as cenas em que dá vontade de apenas observar a natureza. Jon Favreau parece entender isso e permite alguns momentos de contemplação. O estúdio mantém seu alto padrão, mantendo sua tradição no esmero visual e artístico de suas obras.
A história é a mesma. Mesmo com 30 minutos a mais de duração em relação ao original, as novas cenas não acrescentam nada substancial, não trazem novos elementos, seja para a trama ou a algum dos personagens (elemento que me surpreendeu em “Aladdin”, por exemplo), mas ao menos não afetam o ritmo do filme. Não que a uma narrativa tão bem amarrada precisasse ser alterada, mas também não necessitava ser expandida.
Visualmente, o filme é uma cópia fiel, e meu maior incômodo foi com o trabalho do diretor Jon Favreau, que repete diversas vezes os enquadramentos e movimentos de câmera do original, não se dando ao trabalho de ao menos dar um pouco de personalidade ao seu trabalho. São imagens muito parecidas, apenas sendo alteradas pela estética real do longa. Fica o questionamento de até onde foi uma decisão do diretor ou uma imposição do estúdio, apostando mais na nostalgia, por mais que essa escolha vá funcionar com grande parte do público.
A escalação do elenco é inspirada, partindo do sempre genial James Earl Jones, que reprisa o papel de Mufasa e impressiona como sempre com sua voz imponente. O jovem JD McCray traz leveza para o jovem Simba, trabalho seguido por Donald Glover, que mesmo com a mudança de visual, proveniente da passagem de tempo, ainda traz a juventude na voz. A cantora Beyoncé faz um trabalho eficiente como Nala e, nas canções, sua voz poderosa se sobressai demais à de Glover, fato que não prejudica as músicas do casal.
Mas os grandes destaques são John Oliver como Zazu. O ator britânico traz um sotaque que cai muito bem no personagem, que é o porta-voz da realeza e se importa muito com essas questões. E, claro, Billy Eichner e Seth Rogen como Timão e Pumba, respectivamente. O trabalho, principalmente de Rogen, impressiona, pois Pumba é um javali, um animal que, por questões anatômicas, não tem expressão, ficando toda essa tarefa para o ator, que consegue tornar sua versão live-action tão carismática quanto a original.
“O Rei Leão” é um filme agradável, que aposta totalmente na nostalgia para ir fundo no espectador e consegue reviver algumas emoções sem deixar a sensação de ser uma mera cópia, mesmo que o próprio filme se compare com o original em diversos momentos.
O longa promove uma catarse poderosa: a primeira aparição de Simba bebê (mesmo com ela tendo sido revelada em trailers e pôster) causou suspiros gerais, como nunca vi em uma sessão de cinema, prova da força da lembrança do personagem na memória do espectador.
A Disney entendeu a força do seu material e procurou não se arriscar, entregando o que a maior parte do público procura no longa: uma forma de voltar no tempo junto a um leão, um javali e um suricato.
Hakuna Matata!

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