"Ilha de Sal" em cartaz no Rio
Matheus Berriel 20/07/2019 13:46 - Atualizado em 30/07/2019 13:25
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Com texto da campista Livs Ataíde, a peça “Ilha de Sal” estreou na última terça-feira (16) no espaço Caixa Cultural, no Rio de Janeiro. Residente em Campos até os 19 anos, a autora teve como inspiração o distrito sanjoanense de Atafona, que vem sendo paulatinamente destruído pelo avanço do mar. A produção de “Uma certa companhia”, com direção de Morena Cattoni, ficará em cartaz até o próximo sábado (27), com sessões diárias a partir de terça-feira (23), sempre às 19h. Ingressos a R$ 30 e R$ 15 (meia-entrada).
Livs se mudou de Campos em 2010 para cursar direção teatral na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O texto de “Ilha de Sal” foi escrito em 2017, como exercício prático do Núcleo de Dramaturgia Firjan Sesi, coordenado por Diogo Liberano. Embora tenha a situação de Atafona como ponto de partida, o objetivo é de abordar a capacidade do ser humano em se reconstruir.
— Minha ligação com Atafona é de infância, minha família tem uma casa em Grussaí. Então, eu sempre visitava Atafona anualmente para ver o avanço do mar. Por ter vindo morar no Rio e conseguir ir pouco a Campos, essa distância me fez saltar aos olhos uma coisa que antes era costumeira — explicou Livs: — Fui percebendo o quanto isso é um fenômeno incrível e, ao mesmo tempo, natural, muito cruel para alguns, porque representa muita perda. Ao mesmo tempo, é uma natureza que se recria e mostra que ela é incontrolável, apesar de tudo. Ela nos mostra que está aqui, e que o ser humano pode dialogar com ela, tentar controlá-la, mas ela ainda existe e resiste, assim como nós.
Inscrito em um edital do Sesi, o texto foi escolhido para ser encenado pelo grupo “Uma certa companhia”. Daí vieram as adaptações necessárias, como as inserções de menções na peça às tragédias de Mariana, em 2015, e posteriormente Brumadinho, no ano passado, esta ocorrida um dia após a pré-estreia da obra no Teatro Sesi Jacarepaguá. “Foi, realmente, para a gente, um tsunami. A gente falando disso no palco e acontece uma nova tragédia, um novo crime acontecendo da mesma forma (de Mariana), barragem se rompendo”, disse a autora.
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Na trama, uma cidade é destruída pela invasão repentina e avassaladora do mar. Sobra apenas uma casa, com seus moradores ilhados.
— Uma vez dada essa situação, eu pude falar de uma coisa que para mim é muito importante: a capacidade do ser humano de se reinventar. Isso pode ser muito positivo e também muito triste e trágico, porque o ser humano é obrigado a se reinventar quando acontecem coisas como em Mariana e Brumadinho. Eu não estava pensando nesses crimes da Vale quando escrevi a peça, em Brumadinho não tinha nem acontecido ainda. Mas, são situações em que o ser humano foi obrigado a se reinventar — pontuou Livs.
Após a temporada no espaço Caixa Cultural, não há calendário definido para a peça. A campista confessa que gostaria de vê-la sendo apresentada em sua cidade natal, mas que o momento é de incerteza para toda a classe artística, motivo para um desabafo:
— A gente está vivendo um momento muito cruel de desmonte da cultura. Esta temporada está sendo feita por um ato de resistência da Caixa Cultural, que está abrindo seu espaço e fazendo força para que ele não feche. (...) Não vamos romantizar isso. Não é para a gente não ter condições de trabalhar. A gente sobrevive disso, esse é o dinheiro com que a gente se alimenta, paga aluguel, paga conta. E a gente está inventando uma maneira de continuar sobrevivendo na vida prática e na nossa arte. Sem verba, sem pauta, sem condições, a gente ainda não sabe o que vai fazer. Sabe que vai continuar fazendo. Mas, de que maneira, a gente vai criando, inventando e cavando conforme os dias vão passando. Tomara que a gente faça mais vezes, que a peça tenha vida longa e vá a Campos.

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