Novas polêmicas dos Garotinho
Aldir Sales 22/06/2019 13:48 - Atualizado em 26/06/2019 15:02
Rosinha, Garotinho e Clarissa
Rosinha, Garotinho e Clarissa / Armando Paiva - Agência O Dia
Afastados dos holofotes da política desde que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) barrou a candidatura de Anthony Garotinho (sem partido) ao Governo do Estado no ano passado, com base na Lei da Ficha Limpa, o casal Garotinho voltou ao noticiário na última semana pela porta dos fundos. Além da decisão do juiz Leonardo Cajueiro, da 2ª Vara Criminal de Campos, que determinou o bloqueio de R$ 18 milhões das contas dos dois, em um desdobramento da operação Chequinho, o colunista Lauro Jardim, do jornal O Globo, postou em seu blog que o megaempresário Arthur Soares, conhecido como “Rei Arthur”, estaria negociando uma delação premiada com a força-tarefa da Lava Jato e, em seus depoimentos, teria apontado repasses de dinheiro ilícito para Garotinho e Rosinha. Além dos dois, a deputada federal Clarissa Garotinho (Pros) também teria recebido caixa dois para sua campanha, segundo a publicação do jornalista, em referência ao depoimento de Arthur. Essa seria a quarta delação que família Garotinho teria sido implicada nos últimos anos.
Na última sexta-feira, a Folha noticiou que Cajueiro estipulou o prazo de cinco dias úteis para que o ex-governador compareça à Superintendência Geral de Inteligência do Sistema Penitenciário (Sispen), no Rio de Janeiro, para a instalação de tornozeleira eletrônica.
Na decisão, o juiz explica que o valor exato de R$ 18.047.277,00 que foi bloqueado seria em decorrência do prejuízo causado aos cofres públicos pelo esquema de troca de votos por Cheque Cidadão na última eleição municipal que ficou conhecido na operação Chequinho. Além do monitoramento eletrônico, o juiz determinou o recolhimento de Garotinho em dias de folga e no período noturno, além da proibição de frequentar Campos, de manter contato com testemunhas do processo e de ir a escritórios de representação do município em qualquer lugar do país. Ainda cabe recurso. No entanto, Cajueiro rejeitou o pedido do Ministério Público (MP) para prisão preventiva do casal.
“Rei Arthur” — Denunciado pelo Ministério Público Federal (MPF) pelo escândalo de compra de votos para o Rio de Janeiro sediar a Olimpíada de 2016, Arthur Soares está foragido em Miami, nos Estados Unidos, e estaria negociando a delação premiada com a promotoria. Segundo Lauro Jardim, o “Rei Arthur” teria relatado ao MPF que Garotinho, quando ainda era governador, teria o chamado no Palácio Laranjeiras porque “estava com dificuldade em guardar dinheiro”, uma vez que “a propina seria paga em espécie”.
O jornalista diz que o ex-governador teria pedido para que Arthur guardasse cerca de R$ 10 milhões, entregues em três malas. A publicação diz, também, que a delação teria 55 anexos e aponta Arthur como o maior fornecedor de serviços de vários governos do Rio de Janeiro.
Arthur também teria citado que Clarissa e Rosinha receberam doações via caixa dois em campanhas eleitorais. O jornalista cita, ainda, que o empresário teria dito que repassou caixa dois ao atual prefeito do Rio, Marcelo Crivella (PRB), ao seu antecessor, Eduardo Paes (DEM), e ao ex-governador Sério Cabral (MDB).
Ex-governador alega perseguição política
Em nota divulgada em seu Facebook, Garotinho se defendeu das acusações sobre o desdobramento da Chequinho. “O STF já determinou a suspensão da operação ‘Cheque Cidadão’ por conta da suspeição do promotor Leandro Manhães e parece que essa decisão descumpre o que já foi decidido pelo Supremo, pois quer rediscutir temas já tratados no judiciário. Os abusos cometidos por algumas autoridades na condução da operação são tão escandalosos que a tornam nula, por isso acreditamos na manutenção de sua suspensão. Desde que fui candidato a presidente, em 2002, abri mão do meu sigilo bancário, fiscal e telefônico por tempo indeterminado. A ordem de bloqueio é surreal, jamais tive esse valor em toda minha vida”.
Sobre a possível delação do Rei Arthur, o ex-governador voltou a falar em perseguição: “Eu o denunciei, com provas, por isso ele está foragido. É um bandido. Esses últimos dias têm sido muito difíceis, a perseguição contra minha vida, a partir de quando denunciei Cabral e sua quadrilha, não para. Eu às vezes me pergunto: até quando?”.
Político da Lapa já foi citado em delações
O depoimento de Arthur Soares ainda não está confirmado oficialmente pelo MPF, porém, Garotinho já foi citado em outras três delações premiadas de repercussão nacional nos últimos anos.
A primeira delas, que ficou conhecida como “delação do fim do mundo”, envolveu ex-executivos da empreiteira Odebrecht. Benedicto Barbosa da Silva Júnior e Leandro Andrade Azevedo falaram sobre pagamento, parte através de caixa 2, para a campanha de Rosinha, em 2008 e 2010, e para Garotinho em 2014. No total, seriam quase R$ 20 milhões.
A segunda, da multinacional JBS, também respingou na família Garotinho. O ex-diretor da empresa, Ricardo Saud, disse que repassou R$ 3 milhões em caixa dois para a campanha de Garotinho ao Governo do Estado em 2014. O esquema teria a participação da Ocean Link, uma empresa de fachada do empresário André Luiz da Silva Rodrigues. A partir das investigações, André fechou um acordo de delação com a Justiça Eleitoral que originou a operação Caixa d’Água, onde o casal Garotinho chegou a ser preso por suspeita de um esquema de repasse de dinheiro ilegal envolvendo empresários de Campos.
Em 2017, trecho da delação do doleiro Lúcio Funaro foi divulgado e apontou, mais vez, os holofotes para Garotinho. Ele falou que o esquema de desvio de dinheiro da Prece, o fundo de pensão da Cedae, operado pelo ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (PMDB), foi planejado durante a campanha de Rosinha Garotinho (PR) para o Governo do Estado. Ele afirma que parte desse fundo ia para Anthony Garotinho, que na época tinha um projeto de candidatura à presidência.

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