Após faíscas, tabuleiro pega fogo
Aldir Sales 08/06/2019 15:36 - Atualizado em 13/06/2019 16:35
Depois de algumas faíscas nos últimos meses, o tabuleiro eleitoral na corrida pela Prefeitura de Campos pegou fogo de vez na última semana. Troca de acusações, movimentações de bastidores, tramitação de ações judiciais, andamento do governo e até o ressurgimento de quem estava no ostracismo. Teve de tudo nos últimos sete dias no cenário político campista e que coloca um tempero ainda mais especial nas conversas sobre a eleição do ano que vem.
Boa parte do debate passou pelos microfones da rádio Folha FM 98,3. A semana começou com o debate, na segunda-feira, entre o líder do governo na Câmara, Paulo César Genásio (PSC), e a vereadora de oposição Josiane Morumbi (PRP). A greve dos servidores públicos foi um dos principais temas da entrevista. Josiane é autora de um requerimento que pede a convocação do prefeito Rafael Diniz (PPS) ao Legislativo para prestar esclarecimento sobre o assunto. Porém, Genásio sugeriu que os vereadores também convoquem a ex-prefeita Rosinha Garotinho (Patri). “Se o governo passado não fizesse a ‘venda do futuro’, os salários dos servidores seriam reajustados hoje”.
Durante a sessão de quarta-feira, Genásio anunciou que os secretários municipais de Gestão Pública, André Oliveira, de Transparência e Controle, Marcilene Daflon; e de Fazenda, Leonardo Wigand, irão à Câmara no dia 17 de junho para falarem sobre a situação dos servidores.
Enquanto isso, na terça, foi a vez de outro pré-candidato ganhar protagonismo nos noticiários. Wladimir Garotinho (PSD) levou à tribuna da Câmara dos Deputados denúncias de desvio de verba federal na Saúde de Campos. Porém, no mesmo dia, o vice-presidente do Tribunal Regional Eleitoral (TRE), o desembargador Cláudio Brandão de Oliveira, determinou o envio de escutas telefônicas entre um cabo eleitoral de Wladimir e do deputado estadual Bruno Dauaire (PSC) com o suposto chefe do tráfico de drogas no Parque Eldorado, que está preso. A movimentação aconteceu dentro de uma ação do Psol que pede a cassação dos mandatos dos dois por compra de votos e a denúncia diz que ambos tiveram preferência para fazer campanha dentro do bairro.
Em nota, Wladimir declarou que a ação é “politiqueira”. “Sobre o andamento da ação, é um procedimento normal. Meus advogados apresentaram a defesa e a ação segue o trâmite. No fim, tenho certeza de que a verdade vai prevalecer e essa ação politiqueira não dará em nada. A eleição já acabou, tem derrotado querendo terceiro turno. Inclusive um dos advogados dessa ação ridícula é o mesmo que participa da defesa do candidato derrotado do governo à Câmara Federal”.
Já Dauaire disse que está tranquilo e vai provar sua inocência. “Vejo essa decisão como parte do devido processo legal. Estou absolutamente tranquilo porque sei que essas denúncias são mentirosas e caluniosas. Ao final do processo ficará comprovada a minha inocência. Outro fato que comprova que a denúncia não possui nenhuma lógica é a minha atuação como deputado, com um mandato voltado, entre outras questões, para a segurança pública”.
O secretário de Saúde, Abdu Neme repudiou “qualquer insinuação de irregularidade” e que “as portas da secretaria estão abertas e, sendo solicitado, enviará quaisquer informações ao Ministério Público”. 
Terceira via se movimenta nos bastidores - Enquanto isso, outros pré-candidatos também continuam se movimentam e enxergam a brecha numa possível polarização entre o governo e a candidatura garotista para viabilizar uma terceira via.
Embora não admita sua candidatura, durante a Feijoada da Folha, no dia 26 maio, o presidente da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) afirmou que o apoio dele em Campos será para o deputado estadual Rodrigo Bacellar (SD), com quem possui ótima relação. No último dia 29 de maio, o jornalista Aluysio Abreu Barbosa informou no blog Opiniões, hospedado no Folha1, que haveria um acordo entre Rodrigo, Gil Vianna (PSL) e Caio Vianna (PDT) para definir até dezembro qual dos três se lançará a prefeito com apoio dos outros dois.
Em entrevista ao Folha no Ar na última sexta-feira, Bacellar afirmou que a solução para Campos passa por uma terceira via. Ele disse, ainda, que teria dificuldade em apoiar Rafael ou Wladimir em um eventual segundo turno, porém, descarta completamente caminhar ao lado de uma candidatura garotista.
— (Anthony) Garotinho, para mim, de todo o cenário político que conheço, é o maior comprador de voto que conheci na minha vida. (...) Ficaria muito incomodado de dar apoio tanto ao atual prefeito como para o grupo do Garotinho, ao qual já posso afirmar, a hipótese disso acontecer é zero. Por tudo que fez a cidade de Campos, por tudo que minha família passou diante das perseguições do ex-governador.
Enquanto isso, Gil Vianna postou um vídeo ao lado do senador Flávio Bolsonaro (PSL) e mostrou ter prestígio com o filho do presidente Jair Bolsonaro (PSL). Flávio nomeou o deputado estadual como coordenador das campanhas do partido em 2020 nas regiões Norte e Noroeste.
Também no Folha no Ar, mas na quarta-feira, o presidente do diretório local do PSDB, Lesley Beethoven, disse que o partido terá candidatura própria em Campos e lançou sua pré-candidatura.
Ataques sem pensar em 2º turno - Fora dos holofotes da política desde o ano passado, quando teve a candidatura ao Palácio Guanabara barrada pela Justiça com base na Lei da Ficha Limpa, o ex-governador Anthony Garotinho tem colecionado sucessivos escândalos que ganharam o noticiário local e nacional. Apenas em Campos, desde 2016, o político da Lapa viu seu candidato, Dr. Chicão, ser derrotado ainda no primeiro turno para Rafael Diniz, além de ter sido preso três vezes, duas na operação Chequinho e uma na Caixa d’Água. No último dia 31, Garotinho tentou chamar a atenção novamente nas redes sociais ao atacar diretamente os principais concorrentes ao seu grupo político na disputa pela Prefeitura em 2020.
— (Na eleição a prefeito de Campos em 2020) Quem quer Rafael Diniz abraçado com Ilsan (Vianna, PDT), vota em Caio Vianna (PDT). Quem quer Rafael Diniz de braços dados com (Marcos) Bacellar (PDT), vota em Rodrigo (Bacellar, SD). Todo mundo lembra o que Bacellar fez na Prefeitura na época de (Alexandre) Mocaiber. E quem quer Rafael Diniz de braços dados com Zé Carlos (DC) e com os vereadores (de Campos), vota em Gil Vianna (PSL), que é da mesma panelinha. A única composição verdadeira de Campos (…) é a candidatura do nosso grupo, que será representada por Rosinha (Patri), ou por Wladimir (PSD).
Como a ex-prefeita Rosinha está inelegível até 2026, entre outras três condenações, pela reprovação das suas contas de 2016 no Tribunal de Contas do Estado (TCE) e na Câmara de Campos, o deputado federal Wladimir é única candidatura viável do garotismo para tentar reassumir as rédeas da cidade. Ao contrário do que aconteceu em 2016, a perspectiva para o pleito do no que vem é que a disputa aconteça em dois turnos. Neste contexto, a tática do ex-governador de atacar todos os possíveis concorrentes não tem dado certo nos últimos anos.
Qualquer chance de sucesso de Wladimir em 2020 reside na sua capacidade de se libertar dos seguidos erros do pai.

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