Igreja recebe família da Venezuela
Verônica Nascimento 15/06/2019 11:29 - Atualizado em 18/06/2019 13:41
Família conta drama vivido na Venezuela até chegar a Campos
Família conta drama vivido na Venezuela até chegar a Campos / Rodrigo Silveira
Na última semana, mais uma família de venezuelanos chegou a Campos, através da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos dias. O casal Erick Quintero, 43 anos, e Maria Salazar, 35, e os filhos Kayri, 13; Pahola, 10; Derick, 6; e Erimar, uma menina de apenas 4 meses, formam a família de classe média, que vivia bem em Valência, capital de Carabobo, até que, há cerca de três anos, começaram a ser atingidos pela crise que, de um ano para cá, os deixou sem acesso à alimentação. Eles tinham casa própria, três carros, mas, com a inflação, a desvalorização da moeda, o dinheiro de que dispunham não dava nem para a comida e a água passou a ser o bem mais raro. O dólar passou a ser a moeda. Um dólar passou a valer R$ 6 mil bolívares.
A família deixou tudo, todos os móveis e imóveis, para trás, viajando um dia e uma noite inteira para chegar a Pacaraima, na fronteira com o Brasil, em Roraima, uma das poucas opções acessíveis para fugir da fome. “O governo tomou a fábrica de leite e, além de ter ficado caro demais, não achava em supermercados. Passaram a entregar uma cesta básica por mês, com alimentos que não davam para uma semana. Por último, só comíamos mandioca e arroz. Arroz de manhã, meio-dia e à noite. Era o mais econômico. Para se ter uma ideia, um quilo de arroz custava dois dólares. Cinco quilos de arroz era o equivalente ao salário mínimo venezuelano, US$ 10. Água foi cortada de todo mundo. Comprávamos de caminhões. Para encher a caixa d’água, para um mês, era preciso pagar US$ 16. Fiquei desesperado porque não tinha como alimentar meus filhos e deixei a casa, com os móveis, para ser usada pela igreja e, com a ajuda dela, viemos para o Brasil e para Campos”, contou Erick.
A família está em uma casa provisória, no Parque Maciel, mantida com auxílio da igreja e por doações. Erick viveu seis anos nos Estados Unidos, voltou para a Venezuela para trabalhar em uma multinacional de motores automotivos e peças e abriu seu próprio negócio, com especialidade em manutenção e reparos de eletroeletrônicos. Ele fala inglês e português e espera conseguir um emprego em breve. As crianças foram matriculadas no Centro Municipal de Educação Integral (Cemei) do Parque Rosário.
— Ficamos um ano sofrendo, era muita dificuldade. No final, não tínhamos água para o banho de minha filha. Não tinha leite nem fraldas para ela. Usávamos pedaços de roupas e jogávamos fora, porque não havia como gastar água para lavar. Deixamos nossas famílias e ficamos com medo de vir, mas fomos muito bem recebidos pelos brasileiros. O povo é muito gentil — contou Maria.
Congregação pede doações para imigrantes
Responsável pelo acolhimento, em Campos, da família de Erick e Maria, o bispo Révirson Rodrigues Lima, da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias do Turfe Clube, diz que todo o trabalho feito pela instituição é voluntário. De Pacaraima, a família foi para Boa Vista e de lá os membros da igreja foram informados da viabilidade de residirem no município do Norte Fluminense. Entre os motivos de virem para o Brasil, o bispo falou da documentação exigida para a imigração. “A filha deles de 10 anos ainda não tinha identidade, documento que levaria de um ano a 18 meses para ser retirado na Venezuela. O governo brasileiro não exigiu passaporte nem identidade, bastando a certidão de nascimento ou casamento. Para a vaga na escola, foram seguidos os mesmos procedimentos, apresentando a documentação exigida a todos os campistas. Eles não tiveram nenhum privilégio de atendimento”, explicou o bispo.
O membro da igreja do Turfe ainda destacou a característica do trabalho que sua igreja tem realizado, com o auxílio a mais de 10 famílias de venezuelanos que hoje residem no Jóquei e em bairros de Guarus. “Nosso trabalho é voluntário, ninguém da igreja recebe salário algum para o serviço que realiza. Não ganho nada para ser bispo, por exemplo, tenho meu próprio trabalho. Por isso, dependemos de doações para ajudar essas pessoas e pedimos a quem puder doar, sejam móveis, roupas, alimentos, o que for, que ajude essa família. Tem gente que diz que muitas famílias em Campos passam por dificuldades, perguntam por que ajudar venezuelanos. Lembro que, aqui, se alguém tiver fome e pedir dinheiro em um sinal, consegue o suficiente para comprar um leite, um pão. Lá, eles tinham dinheiro, mas não conseguiam comprar comida, porque não tem comida, não tem água. É uma questão humanitária “, destacou Révirson ao acrescentar que quem quiser ajudar com doações ou oportunidades de trabalho pode contatar a família pelos telefones (22) 99880-1554 ou 99271-9399.

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