Superintendente de Igualdade Racial, Rogério Siqueira comenta sobre ataques a terreiros
Maria Laura Gomes 12/06/2019 08:01 - Atualizado em 13/06/2019 13:26
Isaías Fernandes
O ataque a religiões de matriz africana, com expulsão de moradores e fechamento de terreiros em diversas áreas de Campos, foi um dos temas da entrevista com o superintendente de Igualdade Racial, Rogério Siqueira, na primeira edição do programa Folha no Ar, da rádio Folha FM 98,3, desta quarta-feira (12). Entre outros assuntos, Rogério também comentou sobre o empoderamento das mulheres negras e como o órgão lida com esta mudança de perspectiva.
Questionado sobre violência contra os terreiros, o superintendente explicou que essas invasões atacam os direitos fundamentais, que é o direito ao livre culto e à propriedade privada, ambos assegurados pela Constituição brasileira.
— A gente repudia, com muita veemência, esses ataques, que têm motivação religiosa e, nesse caso, também racial por conta da origem das religiões. É um problema altamente sofisticado porque ele se dá em áreas dominadas pelo tráfico de drogas, em sua maioria, e existe uma conjunção de poderes que acaba levando à violência contra essas casas, esses terreiros, contra os povos específicos, porque esses são povos específicos dentro do bojo da política de igualdade racial — explicou Rogério.
O superintendente também contou que, quando se reuniu e conversou com os sacerdotes que sofreram esses ataques, ouviu as denúncias e percebeu que algumas são gravíssimas por envolverem crianças.
— Em princípio, seria um caso de polícia, porque você está retirando pessoas de casa; atacando a casa das pessoas. Mas como uma pessoa que mora em uma comunidade dominada pelo tráfico vai fazer uma denúncia formal à polícia? Isso não pode acontecer porque a gente sabe as consequências disso no Brasil. Qualquer um que venha da realidade de comunidades dominadas pelo tráfico sabe como acontece. Conversando com os sacerdotes, pais e mães de santo, ouvindo essas denúncias, a gente falou: “Então, vamos montar uma força-tarefa aqui?”. Pelo menos do ponto de vista do Executivo municipal, para que a gente dê um atendimento emergencial a essas famílias naquilo que dá para o município atender. Já que a gente não pode entrar com a parte policial, a gente entra com a parte do atendimento – declarou.
Outro assunto abordado durante a entrevista foi a mudança de perspectiva por parte das mulheres negras. Segundo o superintendente, dos anos 2000 para cá, a valorização da mulher negra estava relacionada, por exemplo, ao alisamento do cabelo, mas o cenário começou a ser modificado dos anos 2000 para cá. Para Rogério, Campos acompanha a mudança. Um dos exemplos é o curso de maquiagem para pele negra, oferecido pela superintendência de Igualdade Racial:
— Talvez seja o curso de maior procura. A luta das mulheres é muito importante. Essa coisa da beleza negra, de a gente se reconhecer enquanto belo, nos foi tirado ao longo dos anos. A gente sempre foi considerado feio, o esquisito, nariz de batata, cabelo duro. Então, quer dizer, essas piadas que faziam, esse racismo cordial — que, de cordial, não tem nada —, montaram um estereótipo na cabeça do próprio negro, e ele não reconhecia a própria beleza. Isso é um dano psicológico que foi feito em lote. A gente começa a ter essa retomada, essa consciência de que não existe cabelo ruim A gente tem o nosso cabelo, que é tão bonito quanto qualquer outro. O alisamento tem que ser uma opção sua, se você quiser. Não tem que ser uma obrigação, uma imposição estética da sociedade.
Confira a entrevista:
 
 

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