Futebol feminino ganha destaque
Camilla Silva 08/06/2019 18:50 - Atualizado em 19/06/2019 18:42
Rodrigo Siveira
Este domingo (9) é dia de estreia da seleção brasileira na Copa do Mundo. As mulheres entram em campo contra a Jamaica defendendo a amarelinha na França. O verde-amarelo, no entanto, ainda não tomou conta das ruas no país do futebol e nem o comércio parece ter se preparado para o evento. Na pátria de chuteiras, os pés femininos ainda não são tão aceitos nos gramados e o avanço individual de cada atleta ainda é a afirmação da modalidade como um todo. Em Campos, Marta faz escola e a menina Mariana de Souza se diverte e sonha com o esporte que, de 1941 a 1979, era proibido para mulheres no Brasil. Dez anos antes, o Goytacaz teve um time feminino. Em 2009, o Roxinho teve seu elenco representante. Atualmente, nenhum dos três times profissionais da cidade possui equipe feminina.
— Quando eu crescer eu quero ser jogadora, mas é muito difícil. Quer dizer, todo mundo fala que é muito difícil, mas mesmo assim eu pretendo ser profissional — afirma Mariana que tem 13 anos. “Meu pai e minha irmã mais velha que me ensinaram a gostar de futebol. Eu devia ter uns sete anos, eles me chamaram para jogar com eles”, lembra. Hoje, ela participa da escolinha da Fundação Municipal de Esporte (FME) de Campos. No local, meninas e meninos jogam juntos, já que ainda não há garotas em número suficiente para montar uma turma. Ela é uma das 39 meninas no total de 1000 atletas distribuídos em 11 escolinhas mantidas pela Fundação.
Lídia de Souza, mãe de Mariana, conta que procurou a unidade para que as filhas fizessem aulas de natação, mas logo tomou da escolinha de futebol, enquanto a irmã gêmea dela preferiu as aulas de ginástica. “Eu nunca fiz resistência com que as minhas filhas escolhem para elas, desde que não influenciem na educação”.
— No começo, parecia que ela era transparente. Não jogavam a bola para ela. E ela joga com os amigos, em grupo, não é individualista. Nisso ela teve que romper muitas barreiras. Hoje, eles chamam o nome dela, passam a bola… Marianinha pra cá, Marianinha para lá… Ela conseguiu o espaço dela, mas eu tenho medo dela se machucar. Eu continuo torcendo para que ela possa jogar só com meninas — afirma a mãe.
O treinador Salvador Reis dos Santos, conhecido como Dodô, contou que apesar de treinar com os meninos, ela vem sobressaindo entre os colegas. “Falar de Mariana é muito fácil. É uma menina com grande potencial no futebol, para sua idade. Além de ser dedicada e focada no seu sonho de jogadora profissional, ela tem qualidade técnica e o biotipo físico ajuda no seu crescimento. Posso, dizer que ela pode ser uma futura Marta”, contou.
A partir de 2019, os 20 participantes da Série A do Brasileiro deverão manter um time de futebol feminino - adulto e de base - por determinação da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Antes da decisão, apenas sete deles possuíam equipes.
A Folha da Manhã entrou em contato com os três clubes profissionais em atividade de Campos sobre a possibilidade de criação de equipes femininas. O Goytacaz informou que “por hora não há no clube projeto para a volta do futebol feminino. Mas o clube não descarta a possibilidade para um futuro próximo” e ressaltou que o clube tem investido nas categorias de base. Já o presidente do Roxinho, Marcio Reinaldo da Conceição, informou que o time já tem o desejo de investir na área na próxima temporada. Josué Teixeira, coordenador de futebol e treinador do Americano, afirma que existe um movimento de profissionalização da categoria e aguarda que as federações se organizem para que o clube atue na área.
Divulgação
Brasil estreia neste domingo contra Jamaica
- A seleção estreia na Copa do Mundo de Futebol Feminino pela 8ª vez, no Grupo C, com Austrália, Itália, Brasil e Jamaica. As quatro equipes de cada grupo jogam entre si dentro do próprio grupo, classificam-se as duas primeiras de cada grupo, e as quatro melhores terceiro-colocadas. Na fase seguinte, as 16 seleções iniciam então o mata-mata com oitavas de final, quartas de final, semifinais, disputa do terceiro lugar e final.
O Brasil chega a competição após conquistar o título da Copa América Feminina, em abril de 2018, mas não é considerado um dos favoritos na competição.
Na última sexta, a zagueira Érika tem lesão no músculo sóleo da perna esquerda, sem tempo hábil de recuperação. Daiane, defensora do PSG, foi convocada.
O Mundial foi realizado na França entre os dias 7 de junho a 7 de julho. Neste ano, 24 equipes disputam o título. Desde 1991, a copa feminina ocorre de quatro em quatro anos. Os Estados Unidos são tricampeões (1991, 1999 e 2015); a Alemanha (2003, 2007), bicampeã; Noruega (1995) e Japão (2011) têm um título cada.
Em 2007, o Brasil era uma das seleções favoritas ao título da Copa do Mundo de Futebol Feminino chegando pela primeira vez à grande final e obteve o 2º lugar, sua melhor colocação nessa competição até hoje.
Clima nas ruas é mais tímido que o normal - Há dois anos, a Copa do Mundo na Rússia movimentou os meses de junho e julho no Brasil. Empresas liberaram seus funcionários, bares e restaurantes criaram programações especiais e eventos de rua, com trios elétricos, foram realizados em muitas cidades incluindo Campos. Porém, nesta Copa feminina os ânimos não são os mesmos. A falta de informações sobre o assunto levou a publicitária Carol Cortês a perguntar nas redes sociais se alguém poderia indicar algum lugar que irá exibir a estreia da seleção.
— Hoje as coisas estão um pouco melhores, o número de torcedoras cresceu e naturalmente o interesse pelo futebol feminino. Pela primeira vez estamos vendo um destaque para a Copa do Mundo Feminina, mas ainda há pouco interesse nos estabelecimentos em realizar eventos para transmitir os jogos, como acontece com o time masculino. Espero que esse movimento de apoio ao futebol feminino cresça e atraia cada vez mais a atenção que elas merecem — contou Carol Cortês. “Acompanho o futebol desde criança, por influência de meu irmão, que sempre me levou para acompanhar nosso time. Até uns anos atrás era comum que as pessoas se espantassem quando eu conversava sobre o tema, como se de fato esse não fosse um local para mulheres”, completou.

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