Termina, neste domingo (30), às 20h, no Teatro de Bolso Procópio Ferreira, a temporada da peça “Traídas e traidoras, somos todas Capitus” que deu continuidade à trilogia “O avesso da mulher”. O espetáculo é uma parceria da escritora Arlete Sendra e o diretor de teatro Fernando Rossi e que tem no palco a atriz Katiana Rodrigues. O espetáculo tem classificação indicativa de 16 anos e os ingressos podem ser adquiridos por R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia-entrada).
Inspirada na obra do escritor brasileiro Machado de Assis, a montagem é a reposta de Capitu ao romance “Dom Casmurro”, que criou o polêmico enigma sobre a esposa ter ou não traído o marido. Paralelo ao enigma machadiano, com as desconfianças e ciúmes do protagonista Bentinho em relação à sua esposa, Capitu nesta nova visão é protagonista da história.
— Com esta trilogia, pretendemos traçar os caminhos ocultos vividos pela mulher nos diferentes contextos socioculturais. Adaptar os textos de Arlete Sendra tem sido uma experiência intensa e emocionante. “Traídas e traidoras, somos todas Capitus” faz parte da trilogia, que já apresentou “Eu fui Macabéa” e continuará com “Diadorim, a dor que mora em mim” — explica Rossi.
O diretor da peça ressalta que as cortinas do teatro estão abertas para homenagear Machado de Assis, que é considerado o maior escritor da literatura brasileira. Morreu em 1908, aos 69 anos. Em sua extensa obra, faz mais de um século que o romance “Dom Casmurro” gera discussões e dúvidas acerca da relação de Bentinho, Capitu e Escobar, envolvidos em uma trama de desconfianças e ciúmes. Sobre a protagonista feminina questiona-se, até hoje, se Capitu traiu o marido Bentinho.
A inspiração literária fez com que Arlete Sendra escrevesse a peça “Traídas e traidoras somos todas Capitus”. Ela lembra que a personagem Capitu nasceu em 1865–1960 nas páginas de “Dom Casmurro”, exposta e embrulhada em palavras. “Paralelamente, conquista e desafia, suscita dúvidas e julgamentos, é presença em ausência. É traída ou traidora? Dissimulada ou ser real? A narrativa ficcional é a história de um Bentinho que Bento Santiago nunca foi, nunca se assumiu, mesmo depois de togado em Direito em São Paulo”, observou.
Ela também especula na obra de Machado de Assis a presença de fragmentos da alma feminina, desde sempre em busca de seu direito de ser mulher, de estar presente no processo de construção do ser. “A peça é o desabafo de Capitu ao retrato que dela fez Bentinho. É livro aberto com lacunas que convidam o leitor a preenchê-las. Com isto, outras lacunas são abertas, porque viver implica em entrar nas terras do futuro onde nos aguardam os imprevisíveis da vida”, acrescentou.
Fernando Rossi dá continuidade ao projeto da trilogia “O Avesso da Mulher”, desenvolvido por Arlete Sendra. “O primeiro espetáculo ‘Eu fui Macabea’ com Rosângela Queiroz aconteceu em maio. ‘Traídas e Traidoras, Somos Todas Capitus’ com Katiana Rodrigues é outro grande desafio ao levar ao palco todo universo proposto pela autora. Um processo construído passo a passo e extremamente instigante e prazeroso. A Capitu que estamos mostrando é desafiadora e apaixonante”, afirmou..
A atriz Katiana Rodrigues faz teatro desde os 13 anos. Em agosto, ela completa quatro décadas de vida. Diz que perdeu a conta das montagens e apresentações que participou, mas lembra quantas vezes foi dirigida por Fernando Rossi. “Foram cinco peças. Sábado à noite, Capitães da Areia, Mar Morto, Matrioskas, O julgamento de Lúcifer, além de oito espetáculos de dança do bailarino Ronaldo Vasconcelos”, relata.
A intérprete contou que há mais de um ano recebeu o texto da peça “Traídas e traidoras somos todas Capitus”. Desde então, está envolvida com a personagem de Machado e de Arlete Sendra. “Capitu é um processo de escuta interior. Uma reflexão sobre o feminino e seu lugar de fala. A construção da personagem é contínua. Ela é intensa, ama, sente amor e dor”, completou. (A.N.) (C.C.F.)