Virna Alencar
26/06/2019 08:07 - Atualizado em 02/07/2019 15:40
A jornalista Daniela Abreu e a enfermeira Bia Mayerhofer foram as entrevistadas do programa Folha no Ar, da rádio Folha FM 98,3, desta quarta-feira (26). Elas falaram sobre a estreia do Cineclube Mulher, na Santa Paciência Casa Criativa, neste sábado (29), quando será apresentado o documentário “O Renascimento do parto”, que aborda as complexidades do parto, a real necessidade do parto cesariano, o índice quase epidêmico de cesarianas no Brasil, tanto na rede pública como na particular, além do direito da mulher a ter um parto normal e humanizado. O objetivo do projeto, idealizado pelas jornalistas Daniela Abreu e Stella Freitas, é promover encontros mensais para discutir a mulher atual, através de seu reflexo no cinema. Nesta quinta-feira (27), o Folha no Ar receberá o superintendente municipal de Abastecimento, Nildo Cardoso.
O Cineclube estreia colocando em pauta um assunto polêmico na atualidade, a “violência obstétrica”, termo que foi recentemente abolido pelo Ministério da Saúde, que diz que a definição da Organização Mundial de Saúde (OMS) associa a intenção e a realização do ato, sem relação com o resultado produzido. “O posicionamento oficial do Ministério da Saúde é que o termo ‘violência obstétrica’ tem conotação inadequada, não agrega valor e prejudica a busca do cuidado humanizado no continuum gestação-parto-puerpério”.
Mas, para a jornalista Daniela Abreu, que disse ter sido vítima de violência obstétrica há 21 anos, a discussão se faz necessária. “Soube que sofri violência obstétrica há pouquíssimo tempo, não tinha a mínima noção que tinha passado por essa experiência durante o parto da minha filha. Então, passei a pesquisar sobre isso. Quando vi o filme descobri que tinha sofrido mais violência do que imaginava e é um assunto que a gente tem que discutir não só entre nós mulheres, porque, quando se fala em parto, existe uma coisa que é quase hereditária, que são os conselhos, principalmente, quando a pessoa vai ter o filho no hospital público, que muitas vezes partem da mãe para que essa mulher não venha sofrer no hospital. Portanto, a gente precisa romper com essa cultura de que o parto é uma coisa ruim e requerer a uma saúde de qualidade no momento de dar a luz”, declarou.
A enfermeira Bia Mayerhofer informou que a mulher que se sentir violentada fisicamente ou psicologicamente pode entrar com ação no Ministério Público. “É muito comum a mulher estar em trabalho de parto, dizer que está sentindo dor, e o médico, enfermeira ou outro profissional dizer ‘não doeu na hora de fazer e está gritando agora por quê? E isso é uma forma de violência absurda, se está desrespeitando a mulher”, disse.
Sobre políticas públicas direcionadas aos direitos das mulheres, Daniela e Bia disseram que há muito que avançar, mas afirmam que cada vez mais elas estão unidas e conscientes para alcançarem seus objetivos.
O Cineclube Mulher aborda os temas e, em seguida, abre uma roda de conversa com Bia Mayerhofer, enfermeira e primeira mulher de Campos a ter o parto humanizado; Daniela Abreu, jornalista e vítima de violência obstétrica; Jane Quitete, enfermeira obstetra; Leila Werneck, obstetra e professora coordenadora do Centro de Referência e Tratamento da Mulher de Campos e Malena Freitas, educadora e também vítima de violência obstétrica. Os encontros acontecem às 17h, na Santa Paciência, que fica na rua Barão da Lagoa Dourada, 81, Centro.
“O Cineclube Mulher nasce de uma maneira muito natural. Nos últimos anos temos diferentes acessos, com material muito abundante e a mulher no cinema atual está sendo tratada de uma forma mais livre. Ela é retratada dentro do relacionamento, no seu local de trabalho, portanto, há inversão da figura de mulher e homem. Por isso, por meio do cinema achei que pudéssemos incitar os nossos assuntos, afinal, por muito tempo a discussão sobre nós mesmas ficou para os outros, já se tinha um modelo do que é ser mulher, o que ela pode e não pode ser ou fazer e onde estar”, finalizou.
Filme - “O Renascimento do parto” é de Érica de Paula e Eduardo Chauvet é de 2013 e deu origem a uma série que chega ao seu terceiro volume, todos eles passando também pela violência obstétrica, que são métodos violentos e desnecessários, realizados durante o parto. O termo é caracterizado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como o “uso intencional de força física ou poder, em ameaça ou na prática, contra si próprio, outra pessoa ou contra um grupo ou comunidade que resulte ou possa resultar em sofrimento, morte, dano psicológico, desenvolvimento prejudicado ou privação”.