O gênero "terror"
*Edgar Vianna de Andrade 17/06/2019 18:17 - Atualizado em 02/07/2019 15:35
Existem dois gêneros básicos em literatura, teatro e cinema: o drama e a comédia. A tragédia é um drama em que o enredo é marcado pela fatalidade da qual não se pode escapar. Por mais que Édipo se esforçasse para não matar seu pai, já estava predeterminado que o parricídio ocorreria. Mesmo a comédia pode ser mesclada com o drama. O exemplo clássico que nos ocorre são os filmes de Charles Chaplin, quase todos comédias com toques de drama. Hitchcock notabilizou-se por inserir no drama o suspense e uma pitada de comédia. A ficção científica é um drama que também pode se combinar com a comédia. Não é cabível sustentar que o musical seja apenas uma comédia cantada, como em vários filmes desse gênero dirigidos pelo notável Ernst Lubitsch. Mas existem dramas na forma de musical, como “La, la, land”.
No fundo, o gênero “terror” é um drama que se vale de dois recursos: o sobrenatural e o medo. Mas pode existir um drama com o elemento sobrenatural, como no caso de “Ghost” ou do “Sexto sentido”, assim como pode haver pavor sem sobrenatural. Depois que os zumbis passaram a ser resultado de radioatividade ou de doenças transmissíveis, com George Romero, os filmes em que eles figuram podem assustar, mas se classificam antes como ficção científica que como terror. Existe um grande equívoco em considerar o monstro criado pelo Dr. Frankenstein como representante do terror. Mary Shelley expressou no seu romance gótico mais o medo da ciência ocidental – natural – do que o temor do sobrenatural. Pode-se dizer o mesmo de “O médico e o monstro”. Um cientista obcecado pela imortalidade produz uma poção que o rejuvenesce na forma de monstro. Isso é ficção científica.
O gênero “terror” autêntico deve combinar esses dois ingredientes: sobrenatural e medo. Neste sentido, o ingênuo filme “A mansão do diabo”, de Georges Méliès, lançado no longínquo ano de 1896, contém o sobrenatural. Hoje não nos assusta mais. Porém, pode ser que assustasse no final do século XIX. Nos dias que correm, fala-se em pós-terror para filmes que parecem mais dramas psicológicos e metafóricos do que propriamente o bom e velho terror. Tenho dúvidas se “A bruxa”, “Corra” e “Nós” são autênticos representantes do gênero “terror”.
Portanto, a definição de gênero “terror”, no meu entendimento, é de narrativa literária e fílmica que se enquadram, primeiramente como drama de forma predominante, podendo conter algum traço de comédia. Mas claramente um drama com os elementos sobrenatural e assustador.

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