Godzilla. Presente!
03/06/2019 17:53 - Atualizado em 06/06/2019 13:53
(Godzilla 2: rei dos monstros) —
Faz tempo não assisto a um filme com roteiro e direção tão confusos como “Godzilla 2: rei dos monstros.” Os trapalhões responsáveis por um desperdício de dinheiro com efeitos especiais são os roteiristas Michael Dougherty, Zach Shields e Max Borenstein. Michael Dougherty é também diretor. O filme se apropria do famoso monstro japonês resultante das explosões atômicas que encerram a Segunda Guerra Mundial. Nesse contexto, o lagarto gigante faz mais sentido, embora o cinema não contasse com tantos recursos quando ele apareceu em 1954.
Esse produto da radioatividade apareceu no cinema incontáveis vezes. O filme de 2019 foi precedido por muitos outros, entre eles “Godzilla”, do oportunista Roland Emmerich (1998), e o Godzilla de 2014, que dá início a uma desastrada franquia. Os dois filmes, respectivamente de 2014, 2019 e o que já está anunciado para o futuro próximo, seguem a tradição de comer o churrasco até o osso, como aconteceu com Drácula, Frankenstein, Lobisomem, múmias e zumbis. O historiador Arnold Toynbee veria essa exploração máxima como falta de criatividade e sintoma de declínio.
“Godzilla 2” tem um elenco que não merecia o filme: Kyle Chandler, Vera Farmiga, Millie Bobby Brown, Ken Watanabe, Zhang Ziyee outros. Os artistas sobram no filme e este reduz os artistas. O roteiro é cheio dos clichês norte-americanos: elenco multirracial, com uma negra comandando as forças armadas, orientais como cientistas, brancos como vilões e mocinhos, mulheres, homens e uma adolescente. Depois da destruição que matou o filho do casal representado por Chandler e Farmiga no filme anterior, ele se retira para o campo e passa a observar animais. Ela continua como cientista renomada. Mais um clichê: o grande cientista, que pode resolver tudo sem equipe, largou nosso mundo e deve ser resgatado para encontrar uma solução.
Na equipe, ninguém se entende. Ora Farmiga desaparece e reaparece, ora Kyle diz e desdiz. Num momento, se está nos Estados Unidos para, imediatamente, pular para a Antártica, aparecer no México, na China, falar-se de outros países e voltar para os Estados Unidos. O filme tenta retratar a globalização de forma sofrível. Tenta-se uma justificativa ecológica mambembe para a ressuscitação dos monstros com o fim explícito de salvar o enredo. Não dá certo. Vai-se a um passado desconhecido. Resgata-se o dragão como entidade benfazeja na China.
Godzilla é o monstro do bem que enfrenta o monstro do mal, com três cabeças que também não se entendem. O Monstro Zero, com três cabeças, mata Godzilla, a única esperança de salvação do planeta, mas um cientista oriental, com sacrifício da própria vida, o reanima com uma explosão atômica submarina. Mas um clichê: o herói que parte consciente para a morte em nome da humanidade e da Terra. Um verdadeiro kamikaze do bem.
Logo no início do filme, aparece um inseto que se transformará e matará uma das cabeças do Monstro Zero, mas logo a seguir ele volta para enfrentar Godzilla em plena Boston. Além de dramalhão e sofrível ficção científica, o filme é também catastrófico em si mesmo e na destruição que provoca. Monstros ressuscitam, marcam um encontro no mundo e não se fala mais nisso. Mas no final Godzilla triunfa sobre todos. Ele agora é um herói. Salvou a humanidade, a terra e quiçá a galáxia e o universo.
Godzilla vive e enfrentará King-Kong no próximo filme. Se depender de ameaças colossais, monstros é que não faltam para muitos filmes mais.

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