Celso Cordeiro Filho
28/05/2019 19:02 - Atualizado em 06/06/2019 13:49
“Escrever só vale quando é necessário escrever. Ou você escreve ou morre”. A observação é da professora e escritora campista, Vilma Arêas, radicada em São Paulo há muitos anos, que lançou na segunda-feira (27), na Academia Campista de Letras, o livro “Um beijo por mês”, e fez uma palestra sobre seu processo de criação.
Na última vez que esteve em Campos foi em 2016, quando recebeu o troféu “Folha Seca”, ofertado pela Folha da Manhã em cerimônia no Teatro Trianon. “Gosto muito de voltar a Campos, mas é sempre dolorido. Éramos cinco irmãos e hoje sou só eu. Mas vida que segue, aproveito para rever os amigos e contemplar a cidade”, disse. Professora aposentada da Unicamp, onde era titula da cadeira de Literatura Brasileira e Cultura Brasileira, Vilma ontem mesmo retornou a São Paulo.
Autora de seis livros de ficção e quatro de ensaios, ela é muita considerada nos meios intelectuais de São Paulo. “Demoro muito a fazer um livro. As editoras querem que a gente faça um livro por ano, mas não dá. Às vezes, fico com um texto emperrado por cinco anos e depois volto a ele. O meu processo de criação é demorado, uma vez que burilo muito para dar como finalizado”, explicou.
Vilma citou o professor Antônio Cândido quando afirmava que “ler é reler” e sentenciou: “Escrever é reescrever. Logo, é preciso cuidar bem do texto para dá-lo como finalizado. Do contrário, a gente se transformará numa máquina de fabricar textos. Cuido bem das minhas escrituras, por entender que é necessário ter cuidado ao expô-las em público”.
Ela chegou à Academia Campista de Letras acompanhada da professora Analice Martins e foi recebida pelo presidente Herbson Freitas, que a saudou. “É uma honra para nós campistas termos aqui a professora e escritora Vilma Arêas como participante dos festejos de 80 anos de nossa academia”, afirmou.
Antes de iniciar a noite de autógrafos na ACL, Vilma lembrou que seu pai, Amarito Arantes Arêas, foi dono da sapataria A Social, que ficava localizada na avenida Sete de Setembro, no Centro, junto com Francisco Viana. “Era uma casa tradicional de calçados para homens. Quando venho a Campos também lembro muito de um casal amigo, Ruth Maria Chaves e Oswaldo Martins. Lembro ainda de minha avó Teresa, cuja família era dona da Agência Santana, que distribuía revistas e jornais. Enfim, são recordações que marcaram minha vida para sempre”, completou.
A crítica tem elogiado o livro “Um beijo por mês” e vale citar Rita Palmeira que fez a seguinte observação: “São menos de vinte textos, em que se combinam histórias breves, na maior parte muito bem-humoradas, e descrições sóbrias. Há neles uma disposição para o mundo — ou, seria mais justo dizer, uma mirada que se dispõe de fato a ver o que está à volta — que é própria da literatura de Arêas. Trata-se, afinal, de uma escrita que tem os olhos e ouvidos abertos para a rua, para os que passam e para os que moram nela. Isso faria da escritora uma cronista, mas seus textos escapam a classificações sumárias”.