(Hellboy) — Hellboy é mais um personagem que migra dos quadrinhos para o cinema. Ele não faz parte do time criado por Stan Lee. As origens de Hellboy estão ligadas à Segunda Guerra Mundial, quando um bruxo o trouxe do inferno ainda bebê e adotado por um assassino caridoso. Seu nascimento depende também das circunstâncias. No “Hellboy” de 2019, sua estirpe remonta ao rei Arthur, de quem é descendente.
Ou os quadrinhos estão perdendo o prestígio de que gozavam até fim dos anos de 1970 ou existem personagens com potencial de fazer sucesso no cinema. As telas estão cheias deles. Agora, que “Os vingadores” chegaram ao fim, anuncia-se a volta de “X-Men”, outro sucesso da Marvel. O historiador Arnold Toynbee via nas repetições e continuações um indício de decadência cultural no sentido de escassez de criatividade.
Na linha de Stan Lee, Mignola, o pai do diabinho, criou um herói super e anti. Hellboy vive em dois mundos e não é aceito em nenhum deles. Os monstros o repudiam por estar a serviço das necessidades humanas. Os humanos querem eliminá-lo por ser um monstro diabólico. O diabo do bem transita entre os dois mundos cometendo o bem e o mal, dependendo do que possamos entender por tais qualidades.
Quem o promoveu a anti-herói do cinema foi o cineasta mexicano Guillermo del Toro, de todos os que conheço originários do México o mais disposto a seguir as fórmulas de Hollywood. Agora, a direção passa para as mãos de Neil Marshall, com David Harbour no papel de Hellboy e Milla Jovovich como a maligna Rainha Sangrenta. Dois monstros frente a frente.
Como classificar os filmes de Hellboy? São uma mistura de ação, drama, comédia e ligeira pitada de terror. O sangue jorra por todos os poros. A luta entre o bem (humanos) contra o mal (feiticeira e monstros) tem sempre um caráter épicos dos filmes de ação. Mas a relação de Hellboy com seu pai e com a vidente Alice Monaghan (Sasha Lane) se expressa na forma de um drama lacrimoso. As tiradas do diabo violento e estabanado são pura comédia. E a interferência do sobrenatural remete ao terror. Este o lado mais brando do filme. A ação vence. Hellboy liquida humanos e não humanos. Mas humanos e não humanos tentam liquidá-lo. Há uma sugestão da Rainha Sangrenta de dar dignidade aos monstros. Afinal, monstros também merecem respeito num mundo de diversidade.
Frank Henenlotter, com seus três trash “Basket case”, foi mais explícito quanto aos direitos das criaturas monstruosas. No caso de “Hellboy”, o diabinho fica dividido até escolher, mais uma vez, o mundo dos humanos. O roteirode Andrew Cosby, Christopher Golden e do próprio Mike Mignola é rocambolesco. Mas isso não passa de detalhe. Para quem gosta de pancadaria, o filme agrada. Não é preciso coerência. E, no final, engatilha-se o próximo episódio, coma trinca definida neste filme: Hellboy, Major Ben Daimio (Daniel Dae Kim) e a inexpressiva Alice Monaghan. Vem aí o peixe humano.