Na quinta-feira (23), às 15h, o Arquivo Público Municipal Waldir Pinto de Carvalho comemora 18 anos de fundação com abertura da exposição “Memórias da Imigração: A Colonização Sírio-libanesa em Campos dos Goytacazes” e exibição da prévia do documentário do projeto, produzido em parceria com a TV Câmara. Está confirmada também a presença do Cônsul Geral do Líbano no Rio de Janeiro, Alejando Bitar.
Mostra reúne material compilado no processo de produção do documentário de mesmo nome, com registros dos familiares de imigrantes e documentação levantada no Consulado Geral do Líbano e no Arquivo Nacional. Entre os entrevistados, está o Cônsul Geral do Líbano no Rio de Janeiro, Alejandro Bitar, que recebeu a equipe do Arquivo no Consulado. A entrevista enfatizou a importância do projeto para a preservação da memória na cidade, como ressalta Rafaela Machado, historiadora do Arquivo Público Municipal.
— Os sírio-libaneses têm grande influência na cidade, principalmente, no comércio, nas tradicionais ruas João Pessoa e Barão de Amazonas, por exemplo. Tem sido muito gratificante este trabalho devido às descobertas que temos feito. Campos tem a maior colônia libanesa do interior do estado do Rio. O Cônsul do Líbano no Rio de Janeiro virá prestigiar este trabalho, justamente, por entender a importância do resgate, a importância desta colônia no interior do estado — comentou Rafaela.
O Arquivo Público é referência para pesquisadores, com acervo que inclui coleção dos principais jornais editados em Campos, documentação cartorária da Câmara Municipal e do Sindicato do Açúcar, além da documentação produzida pela Prefeitura de Campos e coleções particulares. Mas, neste aniversário de 18 anos, o Arquivo comemora também a consolidação como uma instituição de produção de pesquisas.
— O “Projeto Memória da Imigração” pretende trabalhar com as várias correntes de imigração, que vieram para Campos, para além da imigração portuguesa. Essa é mais uma ação, que visa firmar o Arquivo não só como centro de documentação, mas como um centro de pesquisa também. A nossa ideia é, nesses 18 anos, mostrar o quanto o Arquivo é uma instituição de ponta que produz pesquisas de qualidade — disse Rafaela Machado.
Durante recente entrevista à Folha Dois, o neurocirurgião Makhoul Moussallem, de 74 anos, reconhecido como cidadão campista em 1977, recordou fatos ligados à sua infância e à própria família. Nascido no Líbano, ele veio para Campos aos nove anos de idade, em janeiro de 1955, cinco anos após seu pai. Ambos trabalharam como “mascate”, nome como eram comumente chamados os mercadores ambulantes da época. Vendiam roupas. Sem êxito nas tentativas de ingressar na política, quando foi candidato a prefeito e deputado federal, teve muito sucesso em sua profissão, com mais de cinco mil cirurgias realizadas, tendo presidido diversas entidades, entre elas o Sindicato dos Médicos de Campos, do qual também foi fundador.
— Acho que a história, minha e de todo mundo, tem que ser preservada, principalmente as de etnias que vieram para o Brasil. Na realidade, os únicos brasileiros verdadeiros são os índios que moravam aqui. O resto, somos todos uma mistureba. Aportamos aqui, ficamos, tomamos conta e estamos matando e expulsando os índios, o que é pior. Continuam fazendo a mesma atitude predatória de 1500 para cá — disse Makhoul, apelidado de “Turquinho” na juventude. “Não era um ‘Turquinho’ pejorativo nem agressivo, querendo menosprezar. Era carinhoso”, destacou. (A.N.) (C.C.F.)