"O Segundo Armário" em avaliação
Celso Cordeiro Filho 10/05/2019 19:35 - Atualizado em 15/05/2019 20:23
Peça O Segundo Armário
Peça O Segundo Armário / Divulgação
A peça “O Segundo Armário”, que continua em cartaz neste sábado (11) e domingo (12), às 20h, no Teatro de Bolso Procópio Ferreira, conta a história de um jovem que se descobre soropositivo. Da angústia ao sentimento de esperança, mostrando que a vida continua e que é preciso reagir. Neste sábado, após o espetáculo, Salvador Correa, autor de “O Segundo Armário — Diário de Um Jovem Soropositivo”, participará de um bate-papo, onde contará todo o processo de criação do livro, após seu diagnóstico.
A história de Gabriel de Souza Abreu (que usa o pseudônimo Salvador Correa) começa quando, em abril daquele ano de 2011, ele (vivido pelo ator Hugo Caramello) recebe a notícia que mudaria a sua vida: o exame positivo para HIV-1. Contar para o namorado? Família? Como renascer das cinzas? A partir destas questões, o protagonista divide com o público seus momentos iniciais do diagnóstico e perpassa toda uma jornada em busca da auto-aceitação. A Cia Banquete Cultura, que há cinco anos traz aos palcos temas universais relevantes, aposta em uma encenação vigorosa, na qual os pensamentos e reflexões contidos no livro são expostos de maneira crua e poética a partir da direção de Jean Mendonça.
“Tive uma preocupação muito grande de mostrar a vivência do HIV neste espetáculo por um viés poucas vezes experimentado na arte: o da esperança e da possibilidade de continuação de uma vida saudável por meio do tratamento. Ao propor que o tema seja tratado de forma crua e poética, quero dizer que é através da poesia que falo da dor, para com isso ser possível a aproximação do espectador. Mas isso não impede que o fio de tensão seja esticado até seu limite máximo, para que quando for solto, a sensação de alívio seja sentida por todos e levada por onde passarem e para além do espaço cênico”, destaca o diretor Jean Mendonça.
Dentre os temas levantados na peça, um deles é o medo de contar sobre o diagnóstico para os familiares e os amigos. Os soropositivos ainda enfrentam o preconceito da sociedade, sobretudo quando o infectado é homossexual. Salvador Corrêa viveu com esse segredo por três anos, período em que ele classifica como o seu segundo armário, levando em consideração que o primeiro foi a sua orientação sexual. Nesta jornada, a sua válvula de escape foi a criação do blog que mais tarde se tornaria o seu livro. Com o pseudônimo de Gabriel de Souza Abreu, ele usou a plataforma para dividir com desconhecidos as experiências de um jovem soropositivo de 27 anos: da angústia ao sentimento de esperança, mostrando que a vida continua mesmo após a descoberta de uma doença crônica. A troca com os leitores foi tão importante que, em 2014, ele assumiu publicamente a soropositividade e se tornou, desde então, um ativista do combate à AIDS.
“Eu tinha muito receio de contar para os meus pais, porque eu tinha medo que eles sofressem. Eu já estava em uma profunda tristeza e não queria que eles sentissem o mesmo, por conta de uma doença que ainda é associada ao fim. Eu contei primeiro para minha irmã, e só depois de uns três anos que eu tive coragem de contar para os meus pais, amigos e me assumir publicamente. E o blog foi extremamente importante nesse processo”, afirma Salvador Correa.
A Cia Banquete Cultural foi criada em 2013 por um grupo de jovens, integrantes de uma nova geração de artistas criadores. Seus fundadores iniciaram sua atuação em artes cênicas como atores, tendo posteriormente desenvolvido as funções de produção e direção. Em 2014, a Cia estabeleceu sua sede na Lapa, Centro do Rio de Janeiro, espaço onde realizou a produção e a apresentação de seus espetáculos, além de pesquisas, palestras, seminários, mostras e oficinas voltadas para atores profissionais e em formação. Em 2018, celebrou seus cinco anos de existência com mais um trabalho caracterizado pela transposição para a arte de temas sensíveis à sociedade contemporânea.

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