Sensor pretende evitar tragédias
23/04/2019 15:48 - Atualizado em 27/04/2019 11:13
Divulgação
Três meses após o rompimento da barragem de Brumadinho, em Minas Gerais, que deixou 186 mortos e 122 desaparecidos, pesquisadores e políticos apresentam trabalhos que pretendem impedir que casos como esse se repita. A startup Invision Geofísica, que trabalha dentro do polo de inovação do Instituto Federal Fluminense (IFF), em Campos, desenvolveu um sensor para ser aplicado neste tipo de estrutura. Na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), uma comissão especial para fiscalizar barragens iniciou as atividades e definirá o cronograma de inspeções e ações para cobrar a aplicação da lei estadual aprovada em 2016, que definiu uma fiscalização mais rigorosa. É grande a importância dos trabalhos para realidade fluminense, que possui dezenas de barragens, algumas dela com alto risco de rompimento. A história da bacia hidrográfica do rio Paraíba do Sul é marcada por acidentes ambientais.
— Desenvolvemos um sistema inteiro. A parte do sensor nós desenvolvemos em parceria com o polo de inovação do IFF e Embrapii (Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial). O funcionamento é o seguinte: uma malha destes sensores é distribuída ao redor de uma mina, ou outras estruturas como pontes. O princípio geofísico que ele aplica é a microssísmica, que é a geração de ondas mecânica que se propagam pelo meio. O que o sistema capta são essas ondas. Além da magnitude e da direção, ele monitora a variação de velocidade da onda. Essa é a principal atividade que a gente quer monitorar na barragem. Uma das principais causa de racha [de barragens] em todo mundo é o problema de liquefação. Quando a água começa a penetrar na estrutura de contenção, ela começa a diminuir a capacidade de receber material [rejeitos], com isso, a velocidade das ondas vai diminuir. Como o sensor vai captar essa variação, esse vai ser o principal identificador que tem algo errado naquela região — explicou Igor Braga, geofísico que desenvolveu a tecnologia.
Segundo o pesquisador, este método é utilizado em locais como o Havaí há mais de 100 anos para prever terremotos. Até o momento, esta é a única empresa no Brasil que desenvolve e adapta esta tecnologia para a realidade brasileira. “Na verdade, nós começamos a trabalhar neste projeto após o acidente de Mariana. Era para estar muito mais adiantada a finalização dos sensores, mas temos muita dificuldade com importação e o mercado nacional ainda é muito fraco com equipamentos eletrônicos. Isso é um grande atraso para o desenvolvimento de tecnologia do país”, contou Igor. O produto está em fase de finalização para ser colocado no mercado. “Há algum tempo a gente já conversa com as principais mineradoras do país. Todas mostram um grande interesse. Em questão de meses, vamos ter o produto a venda, estamos finalizando o teste de campo”, finalizou.
Inovação - Com o apoio do IFF, por meio da Embrapii, a Invision Geofísica conseguiu o dinheiro necessário para desenvolver o sistema que tem previsão de ser finalizado neste mês. O Polo de Inovação Campos dos Goytacazes (PICG) é uma unidade da Embrapii, implantada como um campus do IFF dedicado à pesquisa, desenvolvimento e inovação e à extensão tecnológica. Segundo Henrique da Hora, diretor da unidade que funciona em Martins Lage, na BR 356, cerca de 20 projetos sendo desenvolvidos atualmente no polo.
Comissão especial na Alerj foi instalada
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A Alerj instalou, neste mês, a Comissão Especial para Fiscalizar Barragens, que será presidido por Tia Ju (PRB) e terá Gustavo Tutuca (MDB) na vice-presidência. O deputado estadual Bruno Dauaire, eleito pelo município de São João da Barra, foi escolhido relator da comissão. A primeira reunião deve acontecer ainda este mês, quando começará a ser definido o cronograma de inspeções. Além de fiscalizar, a comissão vai acompanhar a implantação da Lei Estadual 7192/2016 que regula a segurança de barragens no estado.
— Desde a tragédia de Mariana, em 2015, nos debruçamos sobre esse tema e elaboramos uma das legislações mais completas do país para o funcionamento e segurança de barragens. Infelizmente, a situação se repetiu ainda mais grave em Brumadinho e não podemos permitir que algo parecido aconteça em nosso estado — ressaltou Dauaire.
Além de Bruno, Tia Ju e Tutuca, também compõem a comissão Zeidan (PT), Renan Ferreirinha (PSB), João Peixoto (DC) e Carlos Minc (PSB).
Segundo o Instituto Estadual do Ambiente (Inea), existem 29 barragens no Rio de Janeiro e, de acordo com a Agência Nacional de Águas (ANA), algumas possuem alto risco de rompimento, como a represa de Juturnaíba, em Silva Jardim.
Acidentes ambientais marcaram história
O maior acidente de trabalho e um dos maiores ambientais já registrados no Brasil, aconteceu em Brumadinho-MG. A tragédia afetou a barragem 1 da Mina Córrego do Feijão, no dia 25 de janeiro deste ano, e a lama destruiu o refeitório e o prédio da mineradora, pousada, casas e vegetação. Este não foi um caso isolado e que não pode se repetir. Outras três barragens da Vale em Minas Gerais, a B3/B4, em Macacos, e as Forquilhas 1 e 3, em Ouro Preto, entraram em alerta máximo para o risco de rompimento no fim de março. Elas foram alteradas de nível 2 para o nível 3 de segurança.
Danos ambientais causados por rompimentos de barragens ou despejo irregular de componentes tóxicos já foram registradas na região. Em alguns casos, várias cidades do estado de Minas Gerais e Rio de Janeiro tiveram o abastecimento de água interrompido, entre elas Campos e Itaperuna, nas regiões Norte e Noroeste Fluminense. Na década de 1980, após a marcante tragédia do rio Paraíbuna, o então governador do Rio, Carlos Chagas, precisou vir a Campos e entrou no rio Paraíba para mostrar que não havia mais riscos de contaminação. Outro grande desastre ecológico que marcou a região foi o rompimento do reservatório da empresa Cataguases de Papel, em março de 2003. Na ocasião, o rastro de destruição atingiu 39 municípios de MG e seis do Rio de Janeiro, incluindo cidades das regiões Norte e Noroeste Fluminense.

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