Motoristas de Campos com carros apreendidos em blitzen realizadas por órgãos do Governo do Estado estão enfrentando um problema a mais para recuperar seus veículos: desde fevereiro, todo carro ou moto apreendido é levado para o município de Cordeiro, região Serrana do Estado do Rio e distante quase 160 quilômetros — o que significa três horas de viagem. Isso, se a pessoa tiver outro carro para ir buscar o seu. Se for de ônibus, o percurso chega a demorar cinco horas. A responsável pelo pátio é a Beija-Flor Comércio e Serviços Ltda, apontada como sendo de Washington de Oliveira Magalhães, o “Pimpolho”, um dos 13 presos na última quinta-feira na Operação “Top Up”, deflagrada em Casimiro de Abreu pelo Ministério Público, por meio do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) e que investiga esquema ilegal de apreensão e liberação de veículos. O Departamento de Transportes Rodoviários do Estado do Rio de Janeiro (Detro) informou que a empresa venceu a licitação e todo veículo apreendido nas regiões Serrana, Norte e Noroeste Fluminense é levado para lá. Disse, também, que as possíveis irregularidades serão investigadas. A Folha da Manhã não conseguiu contato com a empresa nesta sexta-feira (12).
No último final de semana, aconteceram duas blitzen do Detro em Campos com a operação Lei Seca: sábado, próximo ao Senai, e domingo, no bairro Caju. Os veículos apreendidos foram levados para Cordeiro, onde está o Pátio da Beija-Flor. Além do Detro e Lei Seca, a Polícia Militar está proibida de encaminhar eventuais veículos apreendidos no município para o depósito existente em Campos.
O motorista Jhones Gomes Pereira, 29 anos, conta que perdeu dois dias de trabalho para retirar o veículo. “Em um dia regularizei as pendências. No outro, fui a Cordeiro. Cinco horas de ônibus. Quando cheguei, ainda tive que ir ao pátio, também de ônibus. Enfim, saí de lá umas 15h30 e cheguei aqui de volta seis e pouca. Se fosse em Campos, no mesmo dia que regularizei, retiraria. Isso sem falar que soube que o valor que paguei lá é maior do que é cobrado aqui”, disse.
O motorista tem razão: o valor da diária cobrado em Cordeiro, para motos e ciclomotores, é R$ 43,26 e o reboque R$ 80,69; para triciclos e automóveis, a diária é de R$ 94,50 e o reboque R$ 199,48. Já os valores cobrados em Campos para motos e ciclomotores são de R$ 30 a diária e o reboque R$ 48. Para veículos médios (automóveis, vans), a diária é de R$ 60 e o reboque R$ 120.
Detro não possui depósito em Campos
Questionado pela Folha, o Detro informou “que possui em operação sete depósitos que atendem às operações do órgão e seus conveniados. A lista com os endereços encontra-se no site http://www.detro.rj.gov.br/liberacao-de-veiculos. Os veículos recolhidos pelos fiscais são direcionados ao pátio mais próximo, conforme disponibilidade de vaga. O Detro não possui depósito em Campos”. E acrescentou: “A Beija-Flor venceu licitação em 12 de dezembro de 2018, no lote 5, que atende às regiões Serrana, Norte e Noroeste Fluminense. O contrato foi assinado em 08 de janeiro e, desde 25 de fevereiro, a empresa presta serviço de reboque e guarda de veículo para o Detro nas operações realizadas nessas regiões. O Detro vai apurar se, também, há irregularidades nos nossos depósitos”.
A Folha confrontou a afirmação de que não possui depósito em Campos, já que existe uma empresa, Pátio Norte, inclusive com contrato vigente para o serviço. O Detro, então, confirmou que o contrato está em vigor, mas disse que “O convênio entre Detro e Prefeituras prevê cooperação, no sentido de realização de operações de fiscalização para coibir combate ao transporte irregular dentro do município”.
Já a Prefeitura informou: “Existe um contrato vigente entre a Prefeitura de Campos e a Pátio Norte para prestação de serviço de remoção e guarda dos veículos apreendidos em operações de competência do município. O Instituto Municipal de Trânsito e Transporte (IMTT) reitera que o município não possui qualquer ingerência sobre blitz da Lei Seca”.
A Pátio Norte informou que atendia ao Estado através de convênio com o Detro desde 2015 e solicitação da Procuradoria Geral do Estado (PGE), desde 2014, a título de colaboração.
Treze presos em operação do MP
Nessa quinta-feira (11), foi desbaratado pelo Ministério Público, através do Gaeco, um suposto esquema mantido com o intuito de obter vantagens indevidas. A operação levou à prisão 13 pessoas nos municípios de Casimiro de Abreu, Rio das Ostras e Cabo Frio. Entre os presos, sete PMs. A ação contou com o apoio de agentes da Corregedoria e do Setor de Inteligência da Polícia Militar e do Departamento de Trânsito do Estado do Rio de Janeiro (Detran-RJ).
Segundo o Ministério Público, os envolvidos no esquema definiam quais veículos deveriam ser levados para o depósito W.O. Magalhães e quais seriam liberados com o pagamento de propina. O objetivo da organização criminosa era obter vantagens. O depósito W.O.Magalhães pertence a Washington Magalhães.
No dia da operação, o deputado estadual Subtenente Bernardo (Pros), que se intitula “o deputado que acabou com a máfia dos depósitos no Rio”, se pronunciou em rede social sobre o assunto. “O esquema de Casimiro de Abreu é o mesmo de todo o estado. Eu estarei entrando com um requerimento no Ministério Público/Gaeco para apurar todos os leilões feitos pelo depósito Beija-Flor... o depósito sempre esteve irregular e mesmo assim levavam carros para lá”, afirmou o parlamentar.