Violência contra mulher sobe 55% em Campos
Camilla Silva 06/04/2019 16:45 - Atualizado em 12/04/2019 19:02
A última semana foi marcada por casos de violência contra a mulher que repercutiram em Campos. De domingo até sexta, uma mulher foi morta e o ex-namorado é o principal suspeito, outra teve um tímpano perfurado e apontou o ex-companheiro como suposto agressor, e um homem foi preso após ameaçar de morte a esposa. Os casos ganharam visibilidade e chamaram atenção para a Delegacia Especializada em Atendimento à Mulher (Deam), no município. Grupos de defesa dos direitos da mulher se mobilizaram e se manifestaram sobre os atendimentos prestados às vítimas de violência. O número de atendimentos no primeiro trimestre de 2019 na Deam, em Campos, aumentou 55% em relação ao mesmo período do ano passado, segundo o órgão. Foram 334 registros de ocorrências realizados neste ano contra 215 em 2018 nos três primeiros meses do ano. Em 2019, dois feminicídios foram registrados na 134ª Delegacia de Polícia, em Campos, e, até o fechamento da edição, nenhum dos suspeitos do crime haviam sido presos.
Os últimos dados divulgados pelo Instituto de Segurança Pública do Rio de Janeiro (ISP-RJ) sobre a violência contra a mulher são de 2017. Naquele ano, sete mulheres sofreram feminicídio e outras sete, tentativas. Seis mulheres foram vítimas de homicídio doloso e outras 14, de tentativas. A violência sexual deixou 103 vítimas de estupro, foram registradas 557 lesões corporais e 483 ameaças.
No último dia 2 de abril, uma jovem de 23 anos foi morta a tiros na localidade de Donana. Tamires Ramos Martins voltava da escola quando foi abordada por um homem, que, segundo a Polícia Militar (PM), seria o ex-namorado da vítima, que não foi encontrado até o fechamento da edição. Já em 11 de janeiro, o corpo de Zeli Aparecida de Lima foi encontrado pelos filhos no chão de casa, ao lado de sua cama. A residência fica atrás do “Restaurante da Família”, no Centro de Campos, que pertencia à vítima. O caso foi registrado como feminicídio qualificado por asfixia e o ex-marido da vítima, que é apontado como suspeito, continua foragido.
Por causa dos casos de violência, a 12ª Subseção da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) emitiu, na última quarta-feira (3), uma nota de repúdio. “Diante desses índices, conclui-se que a violência contra a mulher não conhece fronteiras geográficas, étnicas, sociais, religiosas ou econômicas e despertam indignação em todo ser humano civilizado. Não há motivos que justifiquem a violência contra a mulher ou qualquer ser humano. Em uma sociedade machista e misógina, as mulheres que sofrem violência são constantemente vitimadas, sua palavra, moral e conduta quase sempre são colocadas em dúvida. Lembramos que toda vez que uma mulher denuncia uma violência sofrida, outras se encorajam a fazer o mesmo. É fundamental a solidariedade à vítima de violência e o fortalecimento das mulheres como forma de enfrentamento e para que outras mulheres possam denunciar seus agressores”, afirmou.
A presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher (Comdim), Lívia Motta, ressaltou a atuação do órgão como um espaço de debate e orientação. “Nosso papel é discutir políticas públicas e fiscalizar organizações que atuam nessa área, mas a gente acaba recebendo muitas queixas de violência e encaminha para a Deam, atendimento psicológico pelo SUS (Sistema Único de Saúde) ou para superintendência de Desenvolvimento Humano. Nas reuniões do conselho são recorrentes os depoimentos de violência contra a mulher. Parece que está crescendo, não sei se está aparecendo mais ou se está ocorrendo mais, mas é nítido que o número denúncias está maior”, contou.
Serviço às vítimas é alvo de reclamações
O atendimento realizado no caso da vítima de agressão, no último domingo, foi alvo de reclamações. “O Conselho está se mobilizando para ver o que pode ser feito. Os policiais têm um conhecimento técnico. A reclamação é que parece que não existe um atendimento capacitado. A maior queixa é quanto ao atendimento humanizado. É o que aparece na reunião das plenárias”, afirmou a presidente do Comdim, Lívia Motta.
A estrutura da Deam conta com atualmente com 16 policiais, menos do que é necessário, segundo a delegada titular Ana Paula Carvalho. “Essa não é uma exclusividade nossa, é a Polícia Civil como um todo. Agora está em um processo, vai abrir concurso para inspetor, para delegado. Mas sinceramente, em 17 anos de polícia, eu nunca vi uma situação tão calamitosa”, afirmou ao acrescentar que: “Eu reconheço cada erro, não desmereço nenhum relato daqueles que as mulheres falaram nas redes sociais. Temos falhas, é óbvio. A gente está aqui na linha de frente. Não são atendimentos fáceis. Tem dia que é mais tranquilo, tem dia que é desesperador. Uma coisa atrás da outra”.
O deputado estadual Bruno Dauaire disse que vai se reunir com a delegada da Deam. “Nosso objetivo principal é ajudar as mulheres vítimas de agressão no atendimento e acompanhamento. A Deam tem um papel fundamental e a falta de efetivo é um dos motivos que atrapalha o serviço. Vamos levar todas as demandas, dos policiais e das vítimas, para o Governo do Estado. O que não podemos aceitar é que as mulheres continuem sendo covardemente agredidas e mortas. Por isso é importante incentivar e dar condições para que os casos sejam denunciados e investigados”, afirmou.
Jovem teve tímpano perfurado em agressão
Há uma semana, Roger Freitas, conhecido como DJ Moranes, foi preso em flagrante por suspeita de agredir a ex-companheira. Na terça-feira, a delegacia afirmou que a vítima sofreu lesões leves, já exame do Hospital Ferreira Machado (HFM) apontou que ela teve o tímpano perfurado. O suspeito foi liberado após pagar fiança. A delegada responsável, Ana Paula Carvalho, disse que só tomou conhecimento da perfuração do tímpano após a postagem da vítima em rede social e que a nota da Deam, divulgada antes, foi baseada no laudo pericial do Instituto Médico Legal (IML).
— Eu não quis, em momento nenhum, desmentir a vítima. Até porque, está constatado que ela foi agredida — disse Ana Paula, destacando que, até então, o que havia eram boatos na internet e que a nota da vítima saiu bem mais tarde.
A delegada disse que a vítima esteve novamente na delegacia e que, em novo depoimento, disse que falou com o legista sobre o incômodo no ouvido. De acordo com ela, o exame do IML é “mais a nível visual” e para constatar o rompimento de tímpano, seria necessário um exame mais detalhado. Segundo ela, o médico legista agora vai fazer um exame complementar, em cima da documentação médica encaminhada pelo HFM.
Na última terça-feira, policiais da Deam prenderam em flagrante um homem pelo crime de ameaça. O pai da vítima entrou em contato com a delegacia e encaminhou os áudios recebidos pela filha, os quais o suspeito afirmava que estava deixando Macaé e vindo para Campos para cometer o crime. O homem foi surpreendido na residência do casal e conduzido à delegacia. Os áudios contendo as ameaças possibilitaram a prisão em flagrante. O suspeito foi encaminhado ao sistema prisional.

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