Camilla Silva
22/03/2019 15:08 - Atualizado em 25/03/2019 17:08
Dois dias após a secretaria de Estado de Educação (Seeduc-RJ) decidir afastar o professor que apresentou uma atividade com uma charge dos presidentes Jair Bolsonaro (PSL) e Donald Trump, o docente não trabalhou nesta sexta-feira (22). Ele informou que recebeu uma ligação da diretora da escola, por volta das 7h, solicitando que ele não comparecesse ao trabalho. O professor disse, ainda, que procurou a Coordenadoria Regional de Educação, assistido por uma advogada, e foi orientado a aguardar uma decisão sobre a situação, que não teria previsão para acontecer. Segundo Sindicato Estadual dos Profissionais da Educação (Sepe-RJ), não houve afastamento oficial, mas professor foi convidado a não dar aula para “acalmar os ânimos”. Desde quinta, a Folha tenta contato com a Seeduc, que não se manifestou mais sobre o assunto após informar a decisão. O docente e representantes do Sepe serão recebidos, nesta tarde, pelo presidente da Comissão de Educação da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, Flávio Serafini (Psol).
Após o pronunciamento de que o docente seria afastado, a Folha tentou contato com a Seeduc para informações sobre quando a medida iria ser tomada e por que o órgão considerou que o afastamento era a melhor opção neste caso específico, sem sucesso. Nessa quarta, uma página do Facebook divulgou o print de uma mensagem atribuída ao secretário estadual de Educação, Pedro Fernandes, informando o afastamento do professor antes mesmo de a secretaria se manifestar oficialmente sobre o caso. A assessoria também não comentou o assunto.
A atividade, apresentada, na última quarta-feira (20), pedia que os estudantes do 3ª ano do ensino comentassem uma charge na qual aparecem o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro (PSL), e o dos Estados Unidos, Donald Trump, na cama, embaixo de cobertores, com a bandeira estadunidense ao fundo. O trabalho foi fotografado por um aluno e divulgado nas redes sociais por grupos que defenderam a punição do docente por considerarem que apresentava conteúdo impróprio. As mensagens afirmavam que a ação faria parte de uma tentativa de doutrinação por parte de um movimento político de esquerda. Alguns comentários contestam, inclusive, se a imagem poderia ser apresentada a alunos adolescentes. Outros consideram que a atividade deveria gerar, inclusive, um processo ao professor. Também teve quem defendesse o direito do professor, salientando que charges políticas sempre foram usadas em atividades acadêmicas.
Nesta quinta, o professor, que pediu para não ser identificado, falou à Folha que, desde que o trabalho proposto em sala de aula foi divulgado nas redes sociais, uma série de agressões e ameaças começaram a chegar até ele: “Eu já estou sendo assistido por alguns órgãos de representação e nós vamos acionar juridicamente que compartilhou essas imagens fora de contexto, atribuindo crimes a mim”, informou.
— O trabalho foi apresentado dentro de um contexto. Os alunos foram instruídos a identificar o humor, a ironia, que são figuras de linguagem muito comuns de texto. A charge é prevista na grade curricular desde a 8ª série. A charge trata de um contexto político amplamente divulgado na mídia do mundo inteiro. Assim, sua análise (contra ou favorável) ficou a critério única e exclusivamente dos alunos, usando para isso, seus próprios argumentos, não havendo assim, doutrinação — explicou o professor.