Um dia após a secretaria de Estado de Educação (Seeduc) informar o afastamento do professor do Liceu de Humanidades por causa de uma atividade aplicada durante uma aula de Português, o educador atuou na escola normalmente nesta quinta-feira (20). Questionado pela Folha, o órgão reafirmou a nota, mas não explicou o motivo do não cumprimento, nem o que levou à decisão. Nessa quarta (19), o profissional pediu que alunos do 3º ano do Ensino Médio comentassem uma charge em que aparecem os presidentes Jair Bolsonaro (Brasil) e Donald Trump (EUA), na cama, embaixo de cobertores, realizada em 2017. A polêmica continuou nas redes sociais com manifestações de repúdio e apoio ao docente, que informou que está sofrendo ameaças.
— Eu vim trabalhar com medo de que algo ruim pudesse acontecer, mas recebi muito apoio durante todo o dia. Essa agressão é muito grave, porque ela não termina em mim. Ela vai continuar a acontecer se nada for feito — contou.
O professor, que pediu para não ser identificado, relata que, desde que o trabalho proposto em sala de aula foi divulgado nas redes sociais, uma série de agressões e ameaças começaram a chegar até ele: “Eu já estou sendo assistido por alguns órgãos de representação e nós vamos acionar juridicamente que compartilhou essas imagens fora de contexto, atribuindo crimes a mim”, informou.
Na atividade proposta os estudantes deveriam comentar sobre uma charge na qual aparecem Bolsonaro e Trump, na cama, embaixo de cobertores, com a bandeira estadunidense ao fundo. A imagem é acompanhada pela legenda “O Patriota”. Assinada pelas inicias V. T. (Vitor Teixeira), a charge é datada de 2017 e pode ser encontrada no site “Humor Político”.
— O trabalho foi apresentado dentro de um contexto. Os alunos foram instruídos a identificar o humor, a ironia, que são figuras de linguagem muito comuns de texto. A charge é prevista na grade curricular desde a 8ª série. A charge trata de um contexto político amplamente divulgado na mídia do mundo inteiro. Assim, sua análise (contra ou favorável) ficou a critério única e exclusivamente dos alunos, usando para isso, seus próprios argumentos, não havendo assim, doutrinação — explicou o professor.
O secretário estadual de Educação, Pedro Fernandes, não retornou contato. No dia anterior, uma página do Facebook, divulgou o print de uma mensagem atribuída a ele, informando sobre o afastamento do professor antes mesmo de a secretaria se manifestar.