Guilherme Belido Escreve - Confete, pausa e reflexão
02/03/2019 19:19 - Atualizado em 06/03/2019 15:02
O governo Jair Bolsonaro está completando dois meses e a pausa de carnaval apresenta-se como boa oportunidade para que o presidente e seu primeiro escalão afinem o discurso e projetem ações harmônicas e objetivas, superando o período de improvisação e desorganização que marcou esses 60 dias.
Nada que não fosse esperado. Afinal, trata-se de tropeços comuns a todo começo, não raro nebuloso e pouco conhecido.
Por outro lado, é necessário que se demarque fronteiras para que o País veja, com clareza, a linha que divide os escorregões até aqui tolerados, do caminhar seguro e reto que se espera do governo que prometeu um novo Brasil e, se hoje é chamado de governo, é porque o povo acreditou e apostou em suas propostas e convicções.
Se a folia é válvula de escape para um povo cuja grande maioria passa o ano inteiro trabalhando duro – muito duro – para apenas sobreviver, não deveria ser para os que ocupam os luxuosos gabinetes palacianos e até agora não deram a resposta que o Brasil espera. Para estes, o período teria de ser de reflexão, para que comecem a acertar onde até agora só erraram.
De bem intencionados, o cemitério está cheio. É preciso eficiência para transformar a teoria pregada na campanha, em realidade. Fácil não é. Mas ninguém disse que seria.
Salta aos olhos que ao governo que fala direto com o povo e tem oito ministros militares, falta política. Seria fácil se o Planalto ‘pulasse’ o Congresso e baixasse as medidas – boas ou não – que bem entendesse. Só teria um problema: o Brasil não seria uma democracia. E a democracia nos é cara, nos custou muito e está consolidada.
A ‘velha política’ do troca-troca e do famigerado balcão de negócios, em sua acepção vil e anti-republicana, é prática a ser combatida e superada. Contudo, sem o convencimento, e sem concessões (honestas, diga-se) de emendas para que os parlamentares possam levar benefícios a seus estados e eleitores... – não se chega a lugar algum.
É fato que Bolsonaro venceu a eleição prometendo mudança radical na maneira de fazer política, enfatizando que acabaria com o toma lá, dá cá. Okey! – como diria o próprio.
Mas uma coisa é o que fez Michel Temer, usando cargos e emendas para barrar denúncias na Câmara; outra bem diferente é a política saudável de negociação, onde as emendas concedidas a parlamentares visam investimentos em saúde, educação, infraestrutura, habitação, etc. e geram empregos.
Neste contexto, a ‘negociação’ é pertinente, benéfica e faz parte do jogo democrático. Sem ela o governo não aprova nada no Congresso – lembrando que tem pela frente, como prioridade, uma pedreira chamada reforma da Previdência.
Cota de derrapagens no teto
Mais que óbvio, não se deseja desqualificar um governo com apenas dois meses de trabalho, ainda mais levando em conta que o presidente passou por delicada cirurgia e levou um bom tempo hospitalizado.
Por outro lado, como lembrou o cientista político Fernando Schuler, “o governo que não tem oposição, parece querer produzir oposição dentro de sua casa, criando micro-desgastes em sua imagem”.
O caso Flávio Bolsonaro, a intromissão dos filhos em assuntos do governo, o áudio do ex-ministro Bebiano que gerou crise e se estendeu por uma semana, o episódio da carta do Ministério da Educação que termina com o slogan de campanha de Bolsonaro, o (desnecessário) elogio de Jair Bolsonaro ao ex-ditador do Paraguai, Alfredo Stroessner, e outros episódios contraditórios, inábeis e desgastantes que vão queimando o capital político do Planalto.
Enfim, o governo precisa aproveitar o significativo apoio que desfruta junto à sociedade para enfrentar os percalços que certamente virão.
 
 
 
 

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