Mar avança em Atafona e derruba muro da casa de Sônia Ferreira
21/03/2019 19:49 - Atualizado em 25/03/2019 17:29
O mar de Atafona, em São João da Barra, registrou novo avanço nesta quinta-feira e as revoltas águas de março derrubaram parte do muro da casa de Sônia Ferreira. A situação no balneário sanjoanense é uma queixa antiga de moradores e entidades da sociedade civil organizada, mas enquanto o projeto de contenção do mar, viabilizado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Hidroviárias (INPH) e aguardado há pelo menos cinco anos, não sai do papel, a Defesa Civil de SJB realiza medidas paliativas para tentar amenizar a situação. No próximo dia 28, o procurador da República, Bruno de Almeida Ferraz, irá se reunir com representantes da sociedade civil, órgãos públicos e especialistas para discutir sobre a erosão costeira em Atafona. O mar revolto também provocou transtornos no Açu.
Minutos antes de o mar derrubar o muro, Sônia usou o seu perfil nas redes sociais para mostrar o estrago que o mar estava fazendo. Segundo ela, o avanço começou a ficar mais intenso na última quarta-feira, com o início da lua cheia. Uma referência em Atafona, ao lado do antigo prédio do Julinho, a residência da filha do ex-deputado federal Alair Ferreira (1920-1987) foi palco durante muitos anos da famosa festa de Carnaval “Atafolia”. Há 10 anos, o prédio do Julinho caiu. Durante esse tempo, as ruínas do edifício funcionaram como uma espécie de um pequeno “quebra-mar” para a casa vizinha.
— O que me surpreendeu é que o muro caiu muito mais do que eu imaginava do que fosse cair. Eu imaginei que, como ele estava sem sustentação, fosse cair só um pedacinho da quina, mas caiu um pedaço grande. O mar ainda está batendo muito. A gente tem uma previsão de mais uma maré alta por causa da lua cheia. Eu estou à tarde inteira no jardim vendo o mar. Ele está batendo forte. Tem muita gente aqui em casa chegando para ver o muro porque pelo lado de fora não dá para ver. Então as pessoas estão vindo aqui para ver. A Defesa Civil está vindo colocar caminhões de areia desde ontem. A gente fica agradecido pela atenção, mas não está tendo muito resultado prático. O mar está batendo muito forte, logo remove a areia do lugar — comentou a moradora e vice-presidente da Associação SOS Atafona, Sônia Ferreira, na tarde desta quinta.
Açu também teve ruas e residências alagadas
No Açu, a ressaca marítima também alagou ruas e causou outros transtornos à população. Moradores chegaram a gravar vídeos que mostram a intensidade da força do mar.
Nas redes sociais, várias pessoas lamentaram o ocorrido. “Triste ver e saber que por conta da ganância do ser humano isso venha acontecer. Essa praia era um paraíso e hoje por conta de fazerem a plataforma deu é nisso aí que se vê, e quem paga é quem construiu suas casas com sacrifício e hoje as perdem por conta da ganância. Podem me chamar de ignorante, mas até que me provem ao contrário é isso que eu penso”, disse Darci Gomes.
Apesar de Atafona ser a mais atingida pelo avanço do mar, no Açu a situação também acontece há anos. Em 2015, a Folha da Manhã chegou a publicar matéria sobre o problema. A localidade abriga o maior complexo portuário da América Latina e, para quem vive por lá, a construção do Porto do Açu influenciou para que o processo de erosão ocorresse mais rápido. Na ocasião, a Prumo Logística, responsável pelo empreendimento, nega que haja correlação entre a construção do porto o estreitamento da faixa de areia na costa.
SOS Atafona destaca inércia do governo
Vários movimentos sociais foram criados em Atafona na tentativa de mobilizar as autoridades com relação à questão do avanço do mar. Manifestações foram feitas em diversos pontos do município e um abaixo-assinado virtual chegou a ser criado. Neste ano, em fevereiro, o SOS Atafona — um dos movimentos criados por iniciativa popular — foi oficializado, ganhando personalidade jurídica. Dentre as metas do SOS Atafona está a viabilidade de uma intervenção para contenção do avanço do mar.
A presidente da Associação SOS Atafona, Verônica Ammar, também lamentou o ocorrido. “Muito triste o que aconteceu hoje. Estava falando com Soninha ontem (quarta-feira) sobre o avanço do mar e hoje ela me enviou um vídeo feito por ela sobre o ocorrido. Lamentável. Soninha é minha vice. Um amor de pessoa. Na verdade, ninguém merece passar por um sufoco desse. Estamos legalizando nosso registro. Se estivesse pronto, a Associação poderia entrar com uma medida de emergência. Estamos na luta para salvar nossa amada praia. Como Associação, teremos legitimidade. Precisamos fazer nossa obra tão sonhada, que é o projeto do INPH. Muita insensibilidade do poder público. Nada fazem”, disse.
O INPH garantiu a viabilidade de um projeto para ser desenvolvido na praia sanjoanense entre 2013 e 2014. No entanto, a intervenção ainda não saiu do papel. A prefeita Carla Machado (PP) chegou a apresentar o documento ao presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM), mas, até o momento, nenhuma resposta foi dada. A obra estaria avaliada em torno de R$ 180 milhões.
Defesa Civil usou areia para formar barragem
Em nota, a Prefeitura de São João da Barra informou que a tábua da maré prevê para essa semana a altura do mar em até 1,70m, com previsão de ressaca.
— Após analisar a tábua de maré, prevendo para essa semana cheia de até 1,70, com previsão de ressaca, a coordenadoria de Defesa Civil utilizou caminhões de areia para formar uma barragem e evitar a chegada da água em pontos mais vulneráveis da praia. No entroncamento das ruas Nossa Senhora da Penha com Feliciano Sodré, onde fica a residência que teve parte do muro derrubada, também já foi realizada recentemente contenção com areia e sacos de areia e novas ações emergenciais no local estão previstas. A areia utilizada foi proveniente da limpeza e manutenção da avenida Atlântica, para retorno ao mar, atendendo a condicionante da licença ambiental do Inea (Instituto Estadual do Ambiente) — informou o Executivo.
A Prefeitura ressaltou, ainda, que está agendada para o próximo dia 28 uma reunião com Ministério Público Federal, representantes da sociedade civil, órgãos públicos e especialistas para discutir alternativas para o fenômeno da erosão costeira que seja economicamente viável e ambientalmente sustentável. “Um projeto de bombeamento artificial de dunas para crescer ou ‘engordar’ a praia de Atafona, com areia compatível à da praia é um dos estudos de viabilidade, que depende de trâmites ambientais”, concluiu a nota.
(A.N.A.) (M.S.) (C.S.)

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