Alguns moravam de aluguel e não tiveram condições de manter o pagamento, outros tiveram que deixar a casa, por determinação judicial. As histórias se misturam em um conjunto habitacional no Parque Aldeia III, à margem da BR 101. Algumas casas de tijolo fazem vizinhança a vários barracos de madeira, papelão e plástico, destacando o tamanho da desigualdade social em uma grande cidade, como Campos. A realidade neste pedaço da cidade muda pouco e devagar, mas conquistas são muito comemoradas. “O dia que me contaram que eu tinha sido sorteada para ganhar a casa, eu chorei muito, eu quase não consegui acreditar”, conta Eliane Ribeiro, que mora no local há quase dois anos e, desde novembro de 2018, em uma residência de madeira, construída pelo projeto TETO Brasil.

— Quando chove, não entra água. Eu fico muito tranquila de viver aqui agora, eu consegui arrumar as minhas coisas, meu jardim. Eu amo minha casa — conta Eliane.

A casa de que ela fala é um modelo pré-fabricado de 18m² que é construída em dois dias, com a participação massiva de voluntários de dentro e fora da comunidade, em uma ação do projeto. “Neste ano, o TETO Brasil pretende garantir o direito à moradia digna a 165 famílias que vivem em situação de vulnerabilidade nas favelas mais precárias e invisíveis, sendo 35 delas no Rio de Janeiro”, afirmou a organização, acrescentando que oito delas serão em Campos, no mesmo conjunto da Eliane. “Doze estacas de madeira elevam e sustentam a estrutura da casa evitando, assim, a entrada de água da chuva, umidade e animais nocivos. O processo de construção gera um encontro entre duas realidades marcadas pela desigualdade, promovendo uma reflexão crítica e propositiva frente à problemática da pobreza em nossa sociedade, além de promover a mobilização comunitária”, afirmam.

Durante o trabalho realizado em novembro de 2018, quatro casas foram construídas em Guarus pelo projeto. Cerca de 90 pessoas, entre voluntários e moradores, participaram da ação. “Mapeamos e levantamos dados sobre comunidades de Campos, Cardoso Moreira e São Francisco de Itabapoana, e identificamos, a partir de um ranking, que, neste primeiro momento, a Aldeia III demandava maior emergência para receber a iniciativa. E lá, fizemos um novo estudo e escolhemos as quatro famílias que mais precisavam de moradia”, ressaltou um dos integrantes, João Pedro, à época.

O Projeto Teto atua há mais de 10 anos no Brasil em trabalho conjunto com as comunidades em situação de vulnerabilidade. O objetivo é garantir o direito à moradia nas favelas mais invisíveis e precárias da América Latina, através do desenvolvimento comunitário e programas sociais que geram soluções concretas de melhorias de moradia e habitat.

Tanto a arrecadação do dinheiro para a realização do projeto como a construção da estrutura são realizadas por meio de voluntários. “A Campanha dos Embaixadores funciona no modelo de colaboração coletiva para o financiamento dos trabalhos de inverno. Nosso time de embaixadores esse ano conta com 3 duplas e 1 trio no Rio de Janeiro e 3 duplas em Campos. Eles terão 45 dias para arrecadar 140 mil reais para que 35 famílias tenham uma moradia mais digna”, afirmou a organização em nota. As doações podem ser feitas pelo link https://www.catarse.me/cintiaevictor.

Um dos embaixadores que atua em Campos é o Victor Hugo Arêas, de 26 anos. Ele é bacharel em Relações Internacionais e trabalha em recepção de hotel. “Aceitei com muito carinho ser Embaixador do TETO Rio 2019. Conheci o TETO há um ano, mais ou menos, e, desde então, ‘pulei de cabeça’ nesta aventura no intuito de poder contribuir para uma sociedade mais justa e igualitária. Participei de duas atividades, até então, e ambas experiências foram de extrema importância para eu crescer e dar mais valor à vida! O TETO me dá a oportunidade de instrumentalizar as ideias que julgo necessárias para um mundo melhor”, conta Victor que faz dupla com a Cíntia Prado, arquiteta de 27 anos.

— Eu conheci o TETO em 2013, mas só em 2017 me tornei voluntária e, desde então, me envolvi participando de mais de 12 atividades. O TETO mudou a minha vida em vários aspectos. A empatia é um exercício constante, o empoderamento de que todos podem construir um lar e uma sociedade mais justa me move! Entendi que sem sorriso tudo perde o sentido — defendeu.