Guilherme Belido Escreve: Campos - 184 anos
24/03/2019 09:06 - Atualizado em 25/03/2019 15:41
Na próxima quinta-feira (28), Campos completa 184 anos desde que foi elevada à categoria de município por força de decreto imperial.
Por certo que a independência político-administrativa de 1835 é fato histórico que merece e deve ser lembrado. Entretanto – também em respeito à história – é relevante pontuar que desde os idos de 1677, quando recebeu o nome de Vila de São Salvador dos Campos, já exibia notável pujança econômica graças, em particular, à planície fértil, vocacionada ao plantio de cana-de-açúcar e à pecuária leiteira e de corte.
Em resumo, o perfil favoravelmente agrícola e os engenhos de açúcar resultaram em atividade econômica próspera. Como uma coisa leva à outra e já então com status de cidade, não tardou para que a terra goitacá atraísse a cúpula da aristocracia rural e se visse povoada por abastados membros da seleta nobreza de então.
Com efeito, ao dinheiro e à nobreza logo se juntou a esfera política, com o Império dando seu aval e se fazendo presente através das constantes visitas de D. Pedro II. Assim, sem demora Campos alcançava projeção nacional e condição de mais importante cidade do Estado do Rio de Janeiro.
Dessa forma, o desenvolvimento da planície atravessou épocas e se manteve sob diferentes bandeiras. Cresceu quando ainda vila, bem como nos primeiros 100 anos de município. Seguiu em alta nos tempos de colônia, império e nas décadas iniciais da república. E foi vitoriosa na transição dos ricos engenhos de açúcar para as modernas unidades açucareiras.
Onde a história virou a chave
Destacando que não se cuida aqui senão de lampejos da longa caminha do maior município do Estado do Rio, chegamos àquele período em que os anos dourados ficaram na história e o cenário de crises virou o palco que se apresenta desde meados do século passado aos dias atuais – ora mais, ora menos severa.
Campos viu a expansão cessar, e depois recuar, com o declínio da monocultura do açúcar – que decretou o fechamento das usinas – e o não investimento em larga escala na agricultura e tampouco no setor industrial.
Também a fusão RJ-GB, de 1975, foi desastrosa para o município de Campos. A nível de estado, perdeu-se representação política e investimentos, visto que as atenções do ‘novo governo’ voltaram-se para a capital.
Últimos 40/50 anos
De meados dos anos 70 para cá (apesar da fusão), Campos experimentou altos e baixos – infelizmente mais estes do que aqueles. Há de se ressaltar avanços significativos, como o notável crescimento do comércio lojista, a expansão imobiliária e o reconhecimento de Campos como polo de ensino – entre outros setores que evoluíram.
Por outro lado, o recuo da agricultura, em particular da lavoura de cana, faz com que o município desperdice sua vocação mais expressiva e deixe ao relento atividade que soma mais de 300 anos.
Royalties – Neste contexto, o que deveria se transformar em redenção, absurdamente assumiu posição de ápice da desventura: o dinheiro dos royalties.
O município que sempre viveu dos frutos da terra fértil e se fez rica pelos verdes canaviais, foi agraciada com a descoberta de petróleo e, consequentemente, com os repasses milionários.
Para não aprofundar em assunto por demais discutido, questionado e não entendido, nos últimos 20 anos Campos recebeu algo próximo de R$ 30 bilhões de reais e, ao fim e ao cabo, se viu endividada.
Além do que, não andamos mais por nossos próprios pés, estando nas mãos do Supremo Tribunal Federal decidir por manter o status quo ou redistribuir os recursos.
Enfim, haja otimismo para derrotar tanto descaso.
 
 

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