Camilla Silva
13/03/2019 15:02 - Atualizado em 16/03/2019 13:03
O ataque de um jovem e um adolescente a estudantes na região metropolitana de São Paulo levantou a questão da segurança na entrada de unidades de ensino em Campos. Na manhã de desta quarta-feira, por volta de 9h30, Guilherme Taucci Monteiro, de 17 anos, e Luiz Henrique de Castro, de 25, mataram oito pessoas e deixaram outras 11 feridas na Escola Estadual Raul Brasil, em Suzano (SP), de onde eram ex-alunos. Segundo a polícia, Guilherme matou Luiz Henrique e cometeu suicídio em seguida. As vítimas são cinco alunos, duas funcionárias da escola e o tio de Guilherme, que foi assassinado em uma loja de carros antes do atentado. O motivo do ataque ainda não é conhecido. Instituições, sindicatos e especialistas de Campos falaram à Folha sobre medidas para garantir a proteção dos alunos. O município já registrou atos de violência dentro de unidades escolares. Aulas foram suspensas, no ano passado, após um tiroteio em frente a uma unidade escolar e uma professora foi agredida por um aluno em uma escola da rede estadual em fevereiro deste ano.
Com os atiradores foram encontrados um revólver calibre 38, quatro jet luders (instrumentos usados para recarregamento de arma), uma besta (tipo de arco e flecha que dispara na horizontal), um machado, além de um arco e flecha tradicional e coquetéis molotov. A dupla ainda carregava uma mala com fios, simulando uma bomba. Contudo, o esquadrão antibombas logo descartou os riscos do objeto explodir.
Segundo Graciete Santana, diretora do Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação (Sepe-RJ), é uma reivindicação antiga da instituição que as escolas tenham inspetores de alunos e porteiros.
— A gente lamenta profundamente o ocorrido em São Paulo. Nosso pedido é que as autoridades atendam essa solicitação do órgão, para que estes profissionais consigam dar mais segurança para a comunidade acadêmica. Não para fazer o papel de polícia, mas ser um impeditivo para que um caso como esse não volte a acontecer — comentou Graciete Santana.
Segundo a presidente da Comissão de Defesa da Educação e Cultura da Câmara de Campos, Joilza Rangel, medidas de segurança precisam ser melhoradas. “Hoje as escolas públicas possuem vigias noturnos e o Projeto de Ronda Escolar, mas ainda é insuficiente. Nós precisamos de porteiros nas escolas para dar mais segurança aos alunos e melhorar a segurança de uma maneira geral”, afirmou.
Sobre a segurança nas unidades escolares estaduais, a secretaria de Estado de Educação (Seeduc) informou que, a cargo de cada direção de escola, funcionários controlam o acesso de entrada e saída nas unidades escolares e que, em eventuais problemas, as direções são orientadas a registrar o caso nas delegacias ou nos batalhões locais para as devidas providências. A Seeduc ainda disse que, no segundo semestre deste ano, será implementado o Programa Estadual de Integração na Segurança (Proeis), visando reforçar a proteção da comunidade escolar e do patrimônio, e também aproximar alunos da Polícia Militar. Além do Proeis, a Seeduc informou que irá contratar 300 profissionais, que atuarão em serviços de portaria e de inspeção de alunos.
A secretaria municipal de Educação, Cultura e Esporte explica que “grande parte das unidades escolares da rede municipal possui vigia, porteiro e algumas possuem câmeras de segurança. A Guarda Municipal auxilia com a ronda escolar, assim como a Polícia Militar, com o patrulhamento. Integrantes da secretaria de Educação, Cultura e Esporte e diretores de escolas participam, rotineiramente, das reuniões do Conselho Comunitário de Segurança Escolar, com o objetivo de expor às autoridades competentes as principais demandas da área, assim como mantém contato direto com a PM, através de grupos em aplicativos de conversas, com o objetivo de ter um atendimento mais ágil, caso necessário”.
O Sindicato das Escolas Particulares de Campos também se posicionou sobre o ocorrido, informando que a orientação é sempre manter a vigilância e investimentos em segurança, seja por meio de câmeras de monitoramento, presença constante de porteiros e vigilantes e restrição absoluta de acesso ao estabelecimento de ensino em horário de atividade.
A Direção Geral do Campus Campos-Centro do Instituto Federal Fluminense informou que vem tomando medidas preventivas visando à segurança dos estudantes do campus. Entre elas: reuniões mensais com o comando da Polícia Militar; instalação de câmeras internas e externas; criação de um itinerário feito com micro-ônibus no turno da noite e em cinco horários, oferecendo viagem aos estudantes, a partir da escola, e chegando aos terminais rodoviários da parte central.
Obras novo portão
Obras novo portão
A direção acrescenta que na segunda-feira (12) foi iniciada no campus a construção de uma portaria dando para a avenida 28 de Março, de maneira que os estudantes possam entrar e sair dos ônibus e vans que passam pela via, tendo acesso direto à portaria. “O campus tem contado com apoio da Polícia Militar, que realiza no entorno um patrulhamento diário. Além dessas medidas, tem havido investimentos em melhoria do nosso sistema de catracas, de forma a cuidar do acesso dos estudantes e identificar pessoas que procuram o Campos-Centro, com as mais diversas demandas”.
A Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf) relatou que conta com os serviços de uma empresa de vigilância que atua em todos os campi, 24 horas por dia. “A entrada principal da Universidade, acesso a veículos e pedestres, tem uma guarita onde atuam dois vigilantes, a entrada de pedestres, próxima ao Centro de Ciências do Homem – CCH, tem um vigilante”.
A universidade ainda informou que possui um convênio com o Proeis, programa em que atuam policiais militares, que atualmente encontra-se suspenso, com policiais atuando no campus Leonel Brizola, no campus Macaé e no campus do Colégio Agrícola. A Uenf também conta com a Roda Escolar, da Policia Militar, que executa rondas em horários variados.
Especialistas falam sobre massacre
O especialista em segurança pública e policial federal, Roberto Uchôa, afirmou que é importante que o governo realize um controle de armas e que haja investimento no combate ao tráfico internacional de armas. Até o fechamento desta edição, as autoridades ainda não haviam informado a origem do revólver utilizado no atentado. Segundo o psicólogo, professor e pesquisador José Alexandre, a agressividade é uma coisa natural do ser humano, mas atos como esse demonstram que nossa sociedade perdeu o controle da própria agressividade.
O tráfico de armas é um dos mercados do crime mais lucrativos, segundo Roberto Uchôa. “Nós temos um país com uma fronteira seca muito grande. As autoridades trabalham com um efetivo muito baixo. É importante que as armas ilegais não cheguem a entrar no país”, defendeu. “Além disso, é importante ter uma forte política de rastreio de arma de fogo. Mesmo que o acesso seja liberado, é importante que se invista no controle do armamento”, finaliza.
O psicólogo José Alexandre falou ainda sobre o transtorno de Boderline. “Não é possível dizer, com as informações que temos, um diagnóstico dos autores. Mas chama atenção as agressões que os jovens cometem hoje, são extremamente violentas. Ele não discute com o professor, ele bate. O suicídio vem disso também, essa impulsividade”, explica. “No Brasil, a população sofre de duas coisas: de medo e de uma grande desesperança. Nós estamos em primeiro lugar no mundo em transtorno de ansiedade, que vem da insegurança, e o oitavo país do mundo em desesperança, que acaba na depressão”, comentou o psicólogo.
Casos de violência envolvendo escolas em Campos
A diretora do Ciep Nação Goitacá, localizado na Estrada de Poço Gordo, em Goitacazes, foi agredida e ameaçada de morte por um aluno, no dia 21 de fevereiro deste ano, em Campos. O caso aconteceu após a idosa, de 64 anos, ter um desentendimento com o adolescente, de 15 anos. A secretaria de Estado de Educação (Seeduc) informou que, após ouvir os envolvidos e os órgãos competentes, ficou decidida a suspensão e transferência do aluno para outra escola da rede estadual.
Em junho de 2018, escolas municipais do subdistrito de Guarus, em Campos, tiveram as aulas suspensas por três dias devido a uma troca de tiros, no Parque Santa Rosa. Na ocasião, a janela da Escola Municipal Eunícia Ferreira da Silva foi atingida por estilhaços de bala. Durante a entrada e a saída dos alunos, nos dois turnos, viaturas da Polícia Militar reforçaram a segurança nas unidades. Em março do mesmo ano, as aulas em unidades do distrito já tinham sido suspensas após uma facção colocar, em postes e muros, ameaças a comunidade acadêmica.
O Comando do 8º Batalhão da Polícia Militar realiza reuniões com diretores de escolas para estabelecer medidas de segurança para as escolas do município. Entramos em contato com a PM, nesta quarta-feira, mas não obteve resposta.