Segurança em debate
Matheus Berriel 27/03/2019 18:30 - Atualizado em 29/03/2019 16:49
Divulgação/Supcom
Museu Histórico de Campos abrirá suas portas para o debate “Segurança Pública e Democracia: Pensando as Cidades do Século XXI”, nesta quinta-feira (28), às 19h. Questões relacionadas aos índices de violência serão discutidas por Felipe Drumond, professor de direito penal; Roberto Uchoa, policial federal, mestrando em sociologia política e especialista em segurança pública pela Universidade Federal Fluminense (UFF); Sandro Araujo, policial federal, escritor e vereador pelo PPS em Niterói; e a idealizadora do debate, Luciane Soares, professora e coordenadora do Núcleo Cidade Cultura Conflito (NUC) da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf). A mediação ficará a cargo do jornalista e poeta Aluysio Abreu Barbosa, diretor de redação da Folha da Manhã. Evento aberto ao público, que poderá interagir com os integrantes da mesa.
— Receber esse evento no Museu só enaltece a posição que este aparelho cultural ocupa para a cidade. O Museu tornou-se o local de debate acerca de diversos temas necessários de discussão. Acredito que o debate será de relevância para análise de como a segurança pública tem sido conduzida pelas cidades na atualidade. A segurança pública não pode ser tratada como repressiva. Envolve diversos atores e instâncias que precisam atuar em consonância na prevenção e na reparação — disse a diretora do Museu Histórico, Graziela Escocard.
Neste ano, já foram registrados 33 homicídios em Campos. Levantamento recém-realizado pela organização Conselho Cidadão para a Segurança Pública e a Justiça Penal do México, em cidades com mais de 300 mil habitantes, colocou o município como o 35º mais violento do mundo em 2018. Campos foi a única cidade fluminense a figurar na lista, tendo como maior problema a guerra de facções no subdistrito de Guarus, tema muito abordado pela Folha nos últimos anos.
Com experiências como mediador em debates sobre Direita x Esquerda e a Operação Lava Jato no Centro Universitário Fluminense (Uniflu), Aluysio Abreu Barbosa aceitou o convite de Luciane Soares para mediar o evento de hoje disposto a não permitir que a discussão seja pautada por preferências ideológicas.
— Acho que segurança pública não me permite simplificação de um lado nem de outro. É uma questão muito complexa. Sem querer entrar no debate ideológico, questiono sobre a situação de Guarus: e se fosse na Pelinca? Será que os formadores de opinião da cidade não teriam uma reação mais incisiva do que tiveram por ter sido do lado de lá do Paraíba do Sul? Tem um rio separando... Não senti, por parte das classes média, média-alta e alta de Campos, uma reação de indignação com isso. É um negócio escabroso o que estava acontecendo. Uma coisa tribal — pontuou.
Desde 2016, o Brasil superou a marca de 60 mil homicídios por ano. O índice esteve entre as principais pautas da última eleição presidencial, vencida por Jair Bolsonaro, que usou como discurso a luta contra o crime e a facilitação para o cidadão comum adquirir armas de fogo. No dia 4 de fevereiro, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, apresentou o pacote antiviolência que deve ser analisado, discutido e votado ainda este ano no Congresso Nacional.
Confira as expectativas dos quatro debatedores, originalmente publicadas no blog Opiniões, de Aluysio Abreu Barbosa, hospedado no Folha1:
Luciane Soares — “Tenho trabalhado com pesquisa sobre as instituições policiais desde 2001. E creio que o desafio que temos, em 2019, é pensar de que forma é possível, nas cidades do século XXI, prover segurança pública com respeito aos direitos humanos. Ao mesmo tempo, casos como a recente tragédia em Suzano, nos mostram que o investimento em inteligência policial e investigação são decisivos para a ordem pública. É preciso discutir os modelos de segurança pública e as formas de policiamento. E isto deve ser feito com a ampliação das arenas de debate, com a participação da sociedade civil”.
Felipe Drumond — “Considerando-se o recente decreto presidencial que fixou critérios objetivos para facilitar a posse de armas de fogo, será feita uma abordagem crítica sobre propostas que relacionam a ampliação do acesso às armas com um instrumento para a construção de política de segurança pública mais eficiente na busca por redução dos índices de criminalidade. Assim, serão feitas advertências sobre os riscos e resultados adversos que podem decorrer da adoção de um fundamento para a ampliação do acesso às armas baseado na premissa de que uma sociedade mais armada contribui para o combate à criminalidade”.
Roberto Uchoa — “Uma oportunidade de discutir a segurança pública que queremos para nosso município e região. Com uma atuação maior do município nessa área, podemos mudar a situação e voltar a crer em um futuro mais seguro. Importante abordar a municipalização da segurança pública, a questão do baixo efetivo para policiamento ostensivo e as melhorais possíveis. Isso, sem deixar de citar os problemas nas investigações”.
Sandro Araujo — “Espero que este debate seja esclarecedor para todos que lá estiverem, no que diz respeito aos conceitos mais modernos de segurança pública e proteção social. Chegamos ao momento no qual é imprescindível mostrar verdades sem retoques a quem costuma ser iludido por quem detém os meios de comunicação. Importante falar utilizando como parâmetro o mosaico urbano, porque o último elo da segurança pública é a polícia. E falar de como ela é incompetente, em sua estrutura atual, para a elucidação dos delitos. Enquanto o mundo inteiro caminha para uma direção, nós caminhamos para outra, completamente diversa”.

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