Estação Primeira de Mangueira e Unidos da Tijuca são as grandes favoritas ao título do Grupo Especial do Carnaval carioca em 2019. O palpite é do professor e pesquisador Marcelo Sampaio, que pela primeira vez representou a Folha da Manhã in loco na Marquês de Sapucaí, ao lado de sua esposa, a fotógrafa Yoná Alves Sampaio, também credenciada para a cobertura. Na parte de baixo da classificação, Marcelo acredita que Império Serrano e Paraíso do Tuiti devem ser rebaixadas para o Série A. Os resultados oficiais saem nesta quarta-feira (6), em apuração marcada para começar às 16h30, na própria Sapucaí, com transmissão ao vivo da InterTV Planície, afiliada Rede Globo e integrante do Grupo Folha.
— A Mangueira foi muito feliz ao decidir desenvolver o enredo “História pra ninar gente grande”, do carnavalesco Leandro Vieira, contando o lado não-oficial da história do Brasil. O samba de excelente nível da parceria comandada por Deivid Domênico, com o auxílio luxuoso da bateria pulsante do mestre Wesley, impulsionou não só os componentes, como o público e a evolução da escola. Foi verdadeiramente emocionante do início ao fim — disse Marcelo Sampaio sobre a Verde e Rosa, que conquistou em três categorias o Estandartes de Ouro, tradicional prêmio concedido pelo jornal O Globo. Além de melhor escola, a Mangueira também venceu em melhor porta-bandeira, com Squel Jorgea, e melhor samba-enredo, com “História pra ninar gente grande, homenageando as minorias e a vereadora Marielle Franco, assassinada há quase um ano.
Sobre a Unidos da Tijuca, que apostou alto no retorno do diretor Laíla e passou a contar também com o carnavalesco Fran Sérgio, Marcelo Sampaio considerou que o samba-enredo foi essencial para o sucesso da agremiação na avenida.
— Com o enredo “Cada macaco no seu galho. Ó, meu pai, me dê o pão que eu não morro de fome”, falou da esperança em dias melhores através da história e simbologia do pão. O samba de altíssimo nível, composto por Márcio André, Júlio Alves, Daniel Katar, Diego Moura, Doutor Jairo, Nego, Elias Lopes e Júnior Trindade, ficou uma obra-prima ao som da genial bateria do mestre Casagrande — afirmou.
Para o Império Serrano, que abriu o Carnaval sem agradar a crítica, pesou justamente a escolha da música “O que é, o que é?”, de Gonzaguinha, que acabou não causando a euforia esperada pelos dirigentes. “Antes mesmo de começar o desfile, a escola cometeu o equívoco de não escolher um samba-enredo, e sim desfilar com a própria música que é o tema do seu enredo. Apesar dos componentes entrarem com a força da tradição imperiana, o carnavalesco Paulo Menezes não apresentou um desenvolvimento muito claro da sua proposta artística”, opinou Marcelo.
Vice-campeã do ano passado, a Paraíso do Tuiti, por sua vez, fez mais um desfile crítico e que agradou o público. O enredo “O salvador da pátria” contou a história do bode Ioiô, eleito vereador num ato de protesto em Fortaleza, em 1922.
— Não gostei do desfile da Imperatriz Leopoldinense, mas a Tuiti, que tinha tudo para voltar no desfile das campeãs, corre o risco de cair porque uma alegoria se despedaçou, e o carro foi para a avenida como estava. A escola fez um bom desfile, mas vai levar muito canetada em alegorias. E é muito mais fácil rebaixarem a Paraíso do Tuiuti do que a Imperatriz Leopoldinense — palpitou Marcelo Sampaio.
Confira os comentários de Marcelo sobre as demais escolas do Grupo Especial:
Unidos do Viradouro - Retornou ao Grupo Especial trazendo de volta o carnavalesco Paulo Barros, que escolheu o enredo “Viraviradouro”, uma viagem pelo mundo mágico de seres, divindades e deuses com poderes extraordinários. O intérprete Zé Paulo Sierra jogou o samba para cima, o que contagiou os componentes e empolgou o público. Chamou a atenção, além da fantástica bateria do mestre Ciça, o capricho estético de fantasias e carros alegóricos.
Acadêmicos do Grande Rio - Pisou na avenida com o intuito de apagar a péssima impressão deixada no ano passado, quando protagonizou uma virada de mesa para não ser rebaixada. Para tanto, o casal de carnavalescos Márcia e Renato Lage escolheu o enredo “Quem nunca? Que atire a primeira pedra”, propondo uma discussão sobre educação, convivência e jeitinho brasileiro. O samba encabeçado pelos feras Moacyr Luz, Cláudio Russo e André Diniz possui letra bem ousada.
Acadêmicos do Salgueiro - Sacudiu a avenida com o enredo “Xangô”, do carnavalesco Alex de Souza, que falou sobre esse orixá, responsável pelos raios, trovões e o fogo. A devoção a essa entidade do Candomblé que luta contra o mal e a favor da justiça foi embalada por um samba forte e muito cantado pelos seus componentes. O excelente casal de mestre-sala e porta-bandeira Sidclei Santos e Marcella Alves encarnou perfeitamente mais esta homenagem afro, sempre exitosa na escola.
Beija-Flor de Nilópolis - Reverenciou seus 70 anos através do enredo “Quem não viu, vai ver... As fábulas do Beija-Flor”, desenvolvido por uma comissão da qual faz parte o carnavalesco Cid Carvalho. Relembrou vários desfiles que marcaram a sua história, embalada por um samba aquém das suas tradições, mas bem melhorado pelo intérprete Neguinho da Beija-Flor e pela bateria dos mestres Plínio e Rodney. O ex-diretor de Carnaval da escola, Laíla, foi um dos lembrados no abre-alas”.
Imperatriz Leopoldinense - Levou para a avenida o enredo “Me dá um dinheiro aí”, dos carnavalescos Kaká e Mário Monteiro, qtratando de forma bem-humorada a relação do dinheiro com os seres humanos, criticando tanto a ambição como a política. O samba composto por Elymar Santos e sua trupe, apesar de um pouco longo, funcionou satisfatoriamente para o canto dos componentes. Mesmo com toda a experiência dos seus diretores, a escola cometeu muitos erros na evolução”.
São Clemente - Reeditou o enredo “E o samba sambou”, que lhe deu o sexto lugar em 1990, até hoje a melhor colocação no Grupo Especial. O carnavalesco Jorge Silveira fez uma crítica bem-humorada à modernização do samba, relembrando carnavais antigos. É impressionante como, quase 30 anos depois, a ideia central do tema está cada vez mais atual. Acostumados com enredos críticos, os seus componentes ficaram, como sempre, muito à vontade na avenida”.
Unidos de Vila Isabel - Levou para a avenida o enredo do carnavalesco Edson Pereira, “Em nome do pai, do filho e dos santos — A Vila canta a cidade de Pedro”, sobre Petrópolis. A escola apresentou fantasias de alas e carros alegóricos com excelentes acabamentos, numa concepção luxuosa que ilustrou com propriedade a riqueza imperial. Vários campistas desfilaram, entre eles a ex-miss Campos Arlinda Miranda e os destaques Marcelo Moreno e Nelcimar Pires.
Portela - Com o enredo “Na Madureira moderníssima, hei sempre de ouvir cantar uma sabiá”, a carnavalesca Rosa Magalhães, maior campeã do Sambódromo, homenageou a cantora Clara Nunes. O tema tão raiz tem tudo a ver com o presidente da escola, Luis Carlos Magalhães, muito ligado à cultura, que trouxe Carlinhos de Jesus para coreografar a comissão de frente. Foi uma homenagem à brasilidade da mineira mais portelense de todos os tempos.
União da Ilha do Governador - Trilhou um caminho para lá de original com o enredo “A peleja poética entre Rachel e Alencar no avarandado do céu”, do carnavalesco Severo Luzardo. Bordou um encontro entre Rachel de Queiroz e José de Alencar, expoentes da literatura brasileira, numa viagem sertaneja cearense, terra de ambos. Destacaram-se o intérprete Ito Melodia, que tem fácil comunicação com o público, e a transição de cores entre os setores”.
Mocidade Independente - Desenvolveu o enredo do carnavalesco Alexandre Louzada, “Eu sou o tempo. Tempo é vida”, que fala da relação da humanidade com o tempo. A subjetividade do tema sabordado através de mitologias e engrenagens da contagem do tempo combinou tanto com o estilo de cantar do intérprete Wander Pires, atualmente a melhor voz do Carnaval do Rio de Janeiro, como com a tradicional bateria “Não existe mais quente”, comandada pelo mestre Dudu.