Aluysio Abreu Barbosa
23/02/2019 17:15 - Atualizado em 28/02/2019 14:13
Líder do PSL, maior bancada da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), o deputado estadual Gil Vianna confirmou: está no jogo pela Prefeitura de Campos em 2020. Ele confirmou, contudo, sua boa relação com o prefeito Rafael Diniz (PPS). Embora tenha se esquivado em analisar o governo municipal e a rejeição ao grupo do ex-governador Anthony Garotinho (PRP), que poderiam abrir espaço para uma terceira via no pleito do próximo ano, o deputado afirmou: “eu sou a terceira via!”. Nesta entrevista feita por e-mail, ele foi evasivo sobre as suspeitas contra o PSL e o clã Bolsonaro, mas disse confiar no senador Flávio, filho mais velho do presidente. Como ex-policial militar e parlamentar, também não respondeu o que pensa das milícias cariocas. Numa das poucas vezes em que foi enfático, Gil classificou a “venda do futuro” de Campos, na qual os Garotinho comprometeram os royalties do petróleo do município até maio de 2026, como um “desastre!”.
Folha da Manhã – Duas semanas antes do segundo turno de 2018, em reunião dos deputados estaduais do PSL com o hoje governador Wilson Witzel (PSC), ele foi lembrado que a bancada terá cinco candidatos a prefeito em 2020: Rodrigo Amorim, no Rio; Marcelo do Seu Dino, em Caxias; Filippe Poubel, em Maricá; Dr. Serginho, em Cabo Frio; e Gil Vianna, em Campos. É fato?
Gil Vianna – Sim, nossa pretensão é estar concorrendo às eleições municipais em 2020. No entanto, a prioridade, agora, é cumprir o mandato de deputado estadual, no qual obtive 28.636 votos, com dignidade e responsabilidade. Buscando, junto aos companheiros da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, tirar o Estado do Rio de Janeiro da crise, reafirmando nosso compromisso com os eleitores.
Folha – Você quase foi candidato a vice-prefeito na chapa vitoriosa de Rafael Diniz, em 2016. Mas acabou optando em ser vice de Caio Vianna (PDT). Como foi esse processo? Arrependeu-se? Como foi a experiência daquela campanha municipal?
Gil – Não há arrependimento. Existe, assim como tudo na vida pública ou particular, um processo de aprendizagem. E esse foi o resultado do pleito de 2016. Aquela campanha foi importante, nos trouxe mais bagagem e, acima de tudo, confiança para encarar os novos desafios.
Folha – Apesar da opção de 2016, é sabido que você mantém relações cordiais com Rafael. Vocês têm conversado sobre 2020? O quê?
Gil – Mantenho uma boa relação com o prefeito Rafael Diniz, já que nos conhecemos há tempo. Mas, ainda não conversamos sobre assuntos políticos. Contudo, 2020 será debatido em outras ocasiões, já que a prioridade continua sendo nossa gestão na Alerj.
Folha – Não há pesquisa divulgada para dar critério estatístico, mas a impressão é que Rafael não manteve a popularidade que o elegeu no primeiro turno de 2016, em todas as zonas eleitorais de Campos. Qual a sua visão?
Gil – A pesquisa é um retrato do momento. Estamos no início de 2019, faltam, ainda, cerca de dois anos para as eleições municipais e para conclusão do mandato de Rafael. Ainda é prematuro para realizar qualquer análise.
Folha – Em entrevista à Folha, o presidente da Câmara de Campos, vereador Fred Machado (PPS), deu nota 6 à primeira metade da gestão do aliado Rafael. Assim como deu nota 8 ao mesmo período da sua irmã, Carla Machado (PP), como prefeita de São João da Barra. E você, que nota daria aos dois governos?
Gil – Não teria uma nota para avaliar os dois governos, mas não faço política do quanto pior, melhor. Torço para que os dois governos atendam aos anseios da população de Campos e São João da Barra, que são urgentes e de total necessidade. Afinal, os eleitores confiaram aos prefeitos esse papel. Neste caso, a própria população deveria avaliar, inclusive, dando resposta nas urnas.
Folha – Os governistas apostam em 2019 como ano da virada para Rafael. Além do verão do Farol, o prefeito prometeu em entrevista à Folha entregar este ano o Restaurante Popular, o Hospital São José, o ponto biométrico do servidor, melhorias no Mercado Municipal e a eleição direta a diretores de escola. É o suficiente para chegar bem em 2020?
Gil – Como disse acima, desejo e espero que o governo atenda aos anseios da população. Como político e, mais importante, como campista, também avalio como de suma importância tudo aquilo que vá beneficiar Campos. Se essas prioridades citadas vão de encontro à vontade da população. Espero que sejam realizadas pela atual gestão municipal.
Folha – Outra novidade antecipada naquela entrevista com Rafael, foi a entrada do ex-presidente da Câmara de Campos Marcão Gomes (PR) na secretaria de Desenvolvimento Humano e Social. Ele disse que seu objetivo será “aproximar o governo das 60 mil famílias de Campos em estado de vulnerabilidade”. Como vê a entrada de Marcão no governo?
Gil – O prefeito tem autonomia de nomear quem ele acha que possa contribuir dentro do seu governo e, claro, ir de encontro aos interesses da população, que é para quem ele e o seu secretariado devem trabalhar. Com esse pensamento, acredito que a escolha pelo vereador Marcão seja para contribuição.
Folha – Rafael e o deputado federal Wladimir Garotinho (PRP) são nomes considerados certos na eleição a prefeito de Campos. Se o primeiro tem o desgaste das dificuldades do governo, o segundo tem a grande rejeição do ex-governador Anthony Garotinho (PRP). São obstáculos superáveis? Eles abrem espaço para uma terceira via em 2020?
Gil – Não quero fazer uma análise da minha pré-candidatura à Prefeitura de Campos em cima do lado negativo da gestão do prefeito Rafael Diniz ou de rejeições direcionadas ao deputado federal Wladimir. Quero ser a escolha dos campistas pelas coisas boas, independentes e positivas que já realizamos e iremos realizar. Estamos começando uma nova história na Alerj. Estaremos lutando pelo Estado e, em especial, pela nossa região. Se isso pode ser considerado uma terceira via, eu sou a terceira via!
Folha – Além de você, outro deputado estadual, Rodrigo Bacellar (SD), já se colocou a prefeito em 2020. Isso sem contar seu ex-colega de chapa Caio Vianna. Com a polarização natural entre Rafael e os Garotinho, a terceira via não precisaria de unidade para ser competitiva? Há conversas neste sentido?
Gil – Até o momento, não existiu qualquer tipo de aproximação. Mas, não descarto a alternativa. Estaremos, futuramente, procurando os companheiros e lideranças políticas para dialogar junto com a sociedade civil organizada.
Folha – Quando era vereador, você se afastou de Garotinho após ele não chegar ao segundo turno da eleição a governador de 2014 e, em 2015, se fazer secretário de Governo da gestão municipal Rosinha. Você votou contra a “venda do futuro” feita pelo casal. Esse empenho dos royalties do petróleo até maio de 2026 é a causa das dificuldades financeiras presentes e futuras de Campos?
Gil – Sem dúvida nenhuma. Votei contra naquela época e votaria novamente, se fosse hoje. Mantenho minha posição de defender os direitos da população campista. O emprenho dos royalties do petróleo foi contra qualquer perspectiva de crescimento para o município. No momento da votação que vendeu o futuro de Campos até 2026, eu já sabia o que vinha pela frente: desastre!
Folha – Após sair do PR então controlado por Garotinho, você esteve no PSB, antes de migrar ao PSL. Como sua passagem no Partido Socialista Brasileiro deve ser entendida antes de integrar o partido do presidente Jair Bolsonaro? Não há contradição ideológica?
Gil – Minha visão é fazer e lutar pelo melhor para Campos e todo o Estado do Rio, independente de fatores partidários. Por isso, não vejo contradição ideológica e, sim, a união em prol da população.
Folha – A imprensa do Rio tem noticiado as tentativas de aproximação de Garotinho e Witzel. Mas, anunciada por Wladimir até o último dia 15, a ida dele e do deputado estadual Bruno Dauaire, do PRP ao PSC do governador do Rio, não vingou. O que há de fato nessa história? Como isso poderá influenciar na eleição a prefeito de Campos em 2020?
Gil – Ainda não há um desenho do pleito de 2020. Reafirmo meu compromisso com meu atual mandato e acredito que todos devem pensar desta forma. No entanto, vejo nos olhos dos eleitores o clamor da mudança. Isso já vem sendo demonstrado nos últimos quatro anos. A população campista, sem qualquer dúvida, vai saber escolher o melhor para a nossa cidade.
Folha – Você é o líder do PSL na Alerj, onde o partido tem a maior bancada: 12 deputados estaduais. Após entrar na primeira vez como suplente no PR de Jair Bittencourt (hoje PP), entre 2017 e 2018, considera uma ascensão essa sua volta ao Palácio Tiradentes? Como chegou à liderança, sendo o oitavo mais votado entre os 12 do partido de Bolsonaro?
Gil – Sim, considero como a reafirmação do trabalho que fizemos durante quase dois anos na Alerj. Tivemos a confiança de quase 30 mil eleitores para esta nova etapa na Casa Legislativa. Por trás disso, vontade, persistência, e, lógico, Deus abençoando nossos caminhos. A liderança do PSL foi um processo natural, onde meus pares entenderam, em função da minha experiência com dois mandatos de vereador em Campos e minha passagem na Assembleia Legislativa do Rio de um ano e meio, poderia contribuir de forma positiva, harmonizando a relação da bancada com a Casa.
Folha – Você é ligado ao senador Flávio Bolsonaro (PSL), suspeito da prática de “rachadinha” como deputado estadual, quando empregou na Alerj a esposa e a mãe do chefe da milícia carioca “Escritório do Crime”. Como viu as revelações do Coaf e do Ministério Público? Ex-policial militar e parlamentar, como vê a atuação das milícias no Estado do Rio?
Gil – Os dois casos estão sendo investigados pelo Ministério Público, que está fazendo o seu trabalho. Tenho carinho e apreço pelo senador Flávio Bolsonaro, como a pergunta bem pontuou. Confio no senador, que é líder do nosso grupo, e será uma peça importante para o nosso Estado em Brasília, já que atuou na Alerj por quatro mandados consecutivos. Estaremos somando forças.
Folha – Foi noticiado que os Bolsonaro estariam descontentes com as denúncias sobre o PSL, relativas à utilização de candidatos “laranjas” para se apossar de recursos do fundo eleitoral. E que, por isso, o clã poderia sair do partido para refundar a sigla União Democrática Nacional (UDN). Se isso acontecer, você e todos os parlamentares eleitos pelo PSL não ficariam tão abandonados quanto o ex-ministro da Secretaria-Geral Gustavo Bebianno?
Gil – Como noticiou a mídia nacional, a determinação do presidente Jair Bolsonaro foi para que a Polícia Federal apure todos os fatos. Acredito que, somente depois disso, outras questões possam ser levantadas.