Jogo do Flamengo, flexão com o uniforme do Bope, primeira inauguração em Campos, recepção a argentinos em Cabo Frio, confecção de faixa personalizada. O desconhecido paulista Wilson Witzel (PSC) foi eleito na onda conservadora, na esteira de Jair Bolsonaro (PSL), e termina o primeiro mês como governador do Rio de Janeiro incorporando a alma carioca, marca registrada de seu principal adversário na eleição, o ex-prefeito do Rio Eduardo Paes (DEM).
O ex-juiz federal com fama de durão ganhou popularidade com o discurso eloquente contra a corrupção e a criminalidade, principalmente com a promessa de “abate” de bandidos com fuzil em mãos. Sua vitória possui significativa contribuição do senador Flávio Bolsonaro (PSL), seu principal cabo eleitoral e elo com o presidente. Porém, com apenas um deputado do seu PSC na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), o governador abriu mão do discurso para fazer uso da política. Se reuniu com os mais variados setores da sociedade e prega união dos parlamentares em prol do Estado do Rio.
No entanto, o ex-juiz federal surpreendeu logo no primeiro mês de governo com uma série curiosidades. A primeira delas aconteceu logo no primeiro dia de mandato. Witzel desmembrou a posse em dois dias para poder estar presente na cerimônia que conduziu Bolsonaro à presidência da República. Na transmissão de cargo, o governador mandou confeccionar uma faixa azul e branca para receber simbolicamente de Francisco Dornelles (PP), que deixava o Palácio Guanabara, já que o então chefe do Executivo, Luiz Fernando Pezão (MDB), estava preso.
No dia 8 de janeiro, Witzel teve o inusitado encontro com Ronaldinho Gaúcho no Maracanã, local que voltaria no dia 20, vestido com a camisa do Flamengo, na vitória rubro-negra por 2 a 1 sobre o Bangu na primeira rodada do Campeonato Estadual.
Já no dia 14, uma das imagens mais emblemáticas do governador, que participou da cerimônia de posse do novo comandante do Batalhão de Operações Especiais (Bope). Witzel, que já foi fuzileiro, vestiu a farda da corporação e fez flexões.
O interior também esteve na agenda. Em Cabo Frio, no dia 12, o Witzel vestiu a camisa da Argentina para receber turistas do país vizinho que visitavam a Região dos Lagos. Três dias depois, o governador veio a Campos, onde inaugurou a primeira obra da sua gestão, a nova unidade do Centro de Recursos Integrados de Atendimento ao Adolescente (Criaad).
A última polêmica do ex-juiz federal aconteceu no dia 21, quando foi realizar exames de rotina no Hospital Pedro Hernesto, no Rio. Mesmo com o procedimento realizado por médicos de folga, pacientes reclamaram que o governador furou a fila.
Aproximação com políticos garotistas
Durante a campanha, Witzel se notabilizou por sua “metralhadora giratória”, atacando os adversários. Esta foi outra postura do ex-magistrado que mudou bastante desde então. Tanto que o governador se aproximou bastante do grupo do ex-governador Anthony Garotinho (PRP), uma de suas “vítimas” durante os debates no primeiro turno.
O PSC de Witzel é presidido pelo Pastor Everaldo, um dos desafetos de Garotinho. De saída do PRP, o ex-governador ainda não decidiu qual legenda irá abrigá-lo, mas é difícil que seja no partido do governador.
No entanto, de olho em sua base de governo, Wilson Witzel negocia a chegada de dois nomes do grupo garotista para o ninho do PSC. Um deles é o filho do político da Lapa, o deputado federal Wladimir Garotinho. Outro nome cotado para a legenda é do deputado estadual Bruno Dauaire. Ambos estão também no PRP, que vai se fundir com o Patriotas por não ter alcançado a cláusula de barreira.
Tanto Wladimir como Bruno confirmam que receberam convite diretamente de Witzel, mas que ainda não bateram o martelo sobre o futuro.
Polêmica entre ex-juiz e deputados do PSL
Eleito no palanque do PSL de Bolsonaro no Rio de Janeiro, Wilson Witzel foi filmado no evento político onde o deputado estadual eleito Rodrigo Amorim (PSL) quebrou uma placa com o nome da vereadora carioca Marielle Franco (Psol), assassinada em março do ano passado. Desde os primeiros dias de governo, no entanto, o ex-juiz federal percebeu que o discurso de campanha o distanciaria da governabilidade.
Witzel elogiou o trabalho do presidente da Alerj, André Ceciliano (PT), rival número um do PSL de Flávio Bolsonaro, que tinha como objetivo tirar o petista do cargo. Depois de mais alguns encontros com Ceciliano, não demorou para parte da bancada bolsonarista atacar publicamente o governador.
O ex-juiz chegou a publicar uma nota oficial dizendo que não apoiaria nenhuma candidatura na Alerj, mas os ânimos só foram apaziguados após uma reunião com a bancada do PSL no Palácio Laranjeiras.