Tragédia em MG reacende alerta
Camilla Silva 01/02/2019 23:01 - Atualizado em 04/02/2019 17:39
Nove dias após o rompimento da barragem da Vale em Brumadinho (MG), autoridades buscam apoio a vítimas e responsabilizar responsáveis por uma das maiores catástrofes ambientais e o maior acidente de trabalho do país. A busca por sobreviventes foram encerradas no início da tarde de sexta-feira. A tragédia aconteceu no na barragem 1 da Mina Córrego do Feijão, no dia 25 de janeiro, e a lama destruiu o refeitório e o prédio da mineradora, pousada, casas e vegetação. Até agora, são 121 mortos, 94 deles identificados, 226 desaparecidos, 192 resgatados, 395 localizados e 108 desalojados. Um contingente de tropas israelenses no Brasil concluiu na quinta-feira sua missão de apoio no resgate e ação foi comentada por membro da comunidade judia em Campos. A tragédia trouxe um alerta sobre a situação de construções deste tipo no Rio de Janeiro. Incidentes com reflexos ambientais já causaram estragos na nossa região.
A água do rio Paraopeba, que recebeu os rejeitos da barragem, oferece risco à saúde humana e animal se consumida diretamente, dizem autoridades mineiras. As alterações no meio ambiente aumentam preocupação com doenças infecciosas, como a febre amarela. Além disso, o governo de Minas recomendou que a população não consuma água bruta.
O biólogo e ambientalista Aristides Soffiati lembrou de outras tragédias, tendo algumas afetados municípios das regiões Norte e Noroeste Fluminense. “Em Minas, três já romperam e chegaram ao rio Paraíba”, explica. A fiscalização é fundamental para evitar novos incidentes, afirma o especialista.
— A gente acompanha isso acontecer repetidamente. Quando houve o acidente de Mariana, todos esses questionamentos foram realizados, mas poucas atitudes foram tomadas. A situação só piorou. Como eu falei, eu nunca questionei ‘se acontecer outro rompimento como em Mariana’, eu perguntei ‘quando?’. Os especialistas no assunto sabiam que iria acontecer em algum lugar. Há outros riscos por aí — alerta Soffiati.
Resposta - Cinco envolvidos na operação que indica suspeita de fraude em documentos da barragem de Brumadinho estão presos temporariamente, desde a última terça-feira, na penitenciária Nelson Hungria, em Contagem. Os investigadores do Ministério Público e da polícia apuram se documentos técnicos, feitos por empresas contratadas pela Vale e que atestavam a segurança da barragem que se rompeu, foram, de alguma maneira, fraudados.
O presidente da Vale, Fabio Schvartsman, anunciou, quatro dias após o rompimento, que vai eliminar as dez barragens construídas com método semelhante ao de Mariana e de Brumadinho que ainda existem no país. Todas ficam em Minas Gerais. Como já estavam inativas, essas barragens não recebiam mais rejeitos. A decisão é uma forma de acelerar a eliminação das estruturas com alteamento a montante. O processo de descomissionamento deve ocorrer ao longo de três anos, informa a Vale. A mineradora informou, ainda, que aprovou investimento de R$ 5 bilhões para eliminar essas barragens.
Judeu campista fala sobre atuação de Israel
Um contingente de 136 israelenses chegou dois dias após o rompimento da barreira, no último domingo (25), com 16 toneladas de equipamentos, para reforçar as operações de busca após a ruptura da barragem. A participação foi finalizada na última quinta-feira (31) e o apoio foi comemorado pelo presidente Jair Bolsonaro. Judeu nascido em Campos, Izac Bezenover considerou que ação foi uma “medida espontânea para ajudar”.
— É uma equipe que faz esse tipo de apoio em mais de dezenas de países para ajudar em catástrofes. É triste porque a delegação veio para ajudar a encontrar sobreviventes, mas só havia cadáveres. Vi uma cena que o soldado estava chorando, porque não estava salvando pessoas. Realmente é uma situação atípica — lamenta Izac.
Na delegação, Amit Levi, de 21 anos, é a figura de maior destaque. Com mãe carioca e avós que moram no Brasil, sua imagem foi utilizada como símbolo de uma missão.
O presidente Jair Bolsonaro escreveu no Twitter: “As bravas tropas israelenses, cedidas pelo Primeiro Ministro @netanyahu, encerram hoje (quinta-feira) a missão no Brasil. Agradeço, em nome do povo brasileiro, ao Estado de Israel pelos serviços prestados em Brumadinho-MG em parceria com nossos Guerreiros das Forças Armadas e Bombeiros”.
Rio tem represas com dano potencial alto
O Rio de Janeiro tem seis barragens classificadas como Dano Potencial Associado (DPA) alto e quatro como médio, segundo o Instituto Estadual do Ambiente (Inea). No total, o estado tem 29 barragens. “É importante esclarecer que o DPA significa o potencial impacto que o dano em alguma estrutura pode acarretar e não o risco iminente de rompimento”, explica o órgão. Duas barragens também foram indicadas em relatório de dezembro da Agência Nacional de Águas (ANA).
Irregularidades foram apontadas nas barragens de Juturnaíba, em Araruama; e Gericinó, em Nilópolis. Pelo Inea, outras três unidades foram indicadas: Saracuruna, em Duque de Caxias; Triunfo, em Teresópolis; e Lago Javary, em Miguel Pereira.
— Em 26 de dezembro de 2018, foi publicada a Resolução Inea 165, que estabelece um prazo de 90 dias para que os empreendedores iniciem o processo de regularização de suas estruturas junto ao Inea, além do estabelecimento de diretrizes para elaboração do Plano de Segurança da Barragem (PSB), no prazo máximo de um ano — informou o Inea.
O presidente do Comitê do Baixo Paraíba, João Siqueira, que acompanha a bacia hidrográfica da região, aponta que apenas a barragem de Teresópolis causaria efeitos no rio Paraíba do Sul, mas como trata-se de barragens de água não causaria contaminação do leito hidrográfico.
Desastres já afetaram região
A história da bacia hidrográfica do rio Paraíba do Sul é marcada por danos ambientais causados por rompimentos de barragens ou despejo irregular de componentes tóxicos. Em alguns casos, várias cidades do estado de Minas Gerais e Rio de Janeiro tiveram o abastecimento de água interrompido, entre elas Campos e Itaperuna, nas regiões Norte e Noroeste Fluminense. Na década de 1980, após a marcante tragédia do rio Paraíbuna, o então governador do Rio, Carlos Chagas, precisou vir a Campos e entrou no rio Paraíba para mostrar que não havia mais riscos de contaminação. Outro grande desastre ecológico que marcou a região foi o rompimento do reservatório da empresa Cataguases de Papel, em março de 2003. Na ocasião, o rastro de destruição atingiu 39 municípios de MG e seis do Rio de Janeiro, incluindo cidades das regiões Norte e Noroeste Fluminense.

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